Em Casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre identificou no sadismo e no gosto pelo mando "traços da Rússia entre nós"

O cientista político Marcus André Melo, da UFPE, e ex-professor do MIT/EUA, realça a lembrança do sociólogo: seriam povos abrutalhados em rude autoritarismo

(Foto: Divulgação)


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247 – “Gilberto Freyre enxergou traços da Rússia entre nós quando se referiu ao Brasil como ‘essa Rússia Americana’, em Casa Grande & Senzala (1933), e mesmo antes”, escreve hoje o cientista político Marcus André Melo, da Universidade Federal de Pernambuco, na coluna que mantém às 2ªs feiras na página 2 do jornal Folha de S. Paulo. E prossegue: “O foco de sua análise são as relações de sadismo e gosto pelo mando resultantes da escravidão e que perpassavam a vida brasileira, da esfera sexual à política, irradiando-se ‘no gosto de mando violento ou perverso que explodia no senhor de engenho ou no filho bacharel quando no exercício de posição elevada, política ou de administração pública’”.

Ainda citando trechos literais da obra que marcou a trajetória intelectual do sociólogo pernambucano, um dos nomes centrais das Ciências Sociais no Brasil, registrou Marcus André: “E acrescentava ‘gosto que se encontra abrutalhado em rude autoritarismo num Floriano Peixoto’. E conclui que o mandonismo tem sempre encontrado vítimas em quem exercer-se com ‘requintes sádicos, deixando até nostalgias logo transformadas em cultos cívicos, como o do Marechal de Ferro’”.

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Ainda em seu texto, escreve o cientista político da UFPE e que foi professor-visitante do MIT na Universidade Yale (EUA): “Em relação à psicologia política argumentou que ‘o que o grosso do que se pode chamar ‘povo brasileiro’ ainda goza é a pressão sobre ele de um governo másculo e corajosamente autocrático’ (como não lembrar de Putin?). A análise aqui é descritiva, não normativa; Freyre vaticinou o homem forte que viria a inflamar a imaginação política no país sob a ditadura do Estado Novo e sob a democracia populista”.

“Na ‘Rússia americana’”, conclui Marcus André sempre citando Freyre, “‘as expressões de mística revolucionária, de messianismo, de identificação do redentor com a massa a redimir pelo sacrifício de vida ou de liberdade pessoal’ se vê ‘menos a vontade de reformar ou corrigir vícios de organização política que o puro gosto de ser vítima ou sacrificar-se’”.

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Por fim, conclui: “Populismo, messianismo, vitimismo. Sim, não é à toa que a Rússia é o berço dos Narodniks (populistas), que inclusive deram origem à expressão populismo. (...) Os traços essenciais do populismo nunca nos abandonaram: narrativas contrapondo elites corrompidas e povo virtuoso; e líder como expressão direta deste último, sem intermediários como partidos ou sem estar limitados por instituições de controle ou separação de poderes. Sim, no momento, uma Rússia palpita entre nós.”


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