Iris Rezende: "antigo PSD era consequente. Já o de Kassab..."

Ao 247, ex-ministro, governador e senador peemdebista compara partido criado pelo prefeito de So Paulo ao de Juscelino Kubitschek e critica os 13 anos de gesto tucana em Gois: "tempo moralmente morto"



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Marcus Vinicius, especial para o 247 – Com 53 anos de vida pública, Iris Rezende Machado (PMDB) ocupou quase todos os postos possíveis: senador, vereador, deputado estadual e governador – de Goiás, por dois mandatos (1983-1986 e 1991-1994). Também foi ministro da Agricultura no Governo Sarney (1986-1990), ministro da Justiça no Governo FHC (1997-1998) e duas vezes prefeito de Goiânia (1965/69 – 2005/2010). A experiência do passado e as lides atuais levam o velho cacique goiano a abraçar a ideia acalentada pelo ex-presidente Lula de uma Constituinte exclusiva para a Reforma Política.

“Com o Congresso atual, com estes escândalos recentes, não sai reforma”, avalia Rezende. Ele ressalta que pelas regras atuais as campanhas se tornaram mais caras. “Acabaram com shows, brindes, mas a legislação não limitou a contratação de pessoas para trabalhar nas campanhas”, analisa, lembrando que em Goiás seu adversário nas eleições ao governo do Estado, Marconi Perillo (PSDB), apresentou ao TRE uma prestação de contas dez vezes mais cara que a sua. “Nas últimas eleições, assistimos a candidatos contratando milhares de pessoas para trabalhar em campanha, trabalho cujo objetivo era conquistar o voto da pessoa contratada e de sua família. Nisto levamos uma desvantagem muito grande”, comenta. 

Ainda na ativa, Iris Rezende está às voltas com a renovação de seu partido, o PMDB, reforçando candidaturas a prefeito e vereador em todo o Estado. Militante na política desde o PSD de Juscelino Kubitschek, ele critica o novo do PSD e sua voracidade sobre as bases peemedebistas. “O PSD criado por Getúlio Vargas era desenvolvimentista. Este novo PSD... Vivi isto. Em 1998, perdi para governador, mas a nossa aliança elegeu 28 deputados estaduais. Nosso adversário (Marconi), cooptou 14 no primeiro mês. Onde estão aqueles deputados? Viraram pó”, frisa.

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Para Iris, o eleitor deveria acompanhar a vida dos políticos com o mesmo entusiasmo com que acompanha os craques do futebol. “Se o povo cobrasse dos seus representantes como cobra dos atletas, não teríamos tantos picaretas na política”, filosofa. Critico do modelo neoliberal posto em prática pelos governos tucanos de Marconi Perillo (1999-2002, 2002-2006 e desde 2011), diz que os treze anos de continuísmo tucano produziram em Goiás um “tempo moralmente morto”, numa antítese ao slogan “Tempo Novo”, utilizado pelo marconismo em todas as eleições. 

Para Iris a redução do Estado levada a cabo pelo PSDB no Estado, com as extinções de órgãos como o Crisa (consórcio entre Estado e municípios para obras em estradas vicinais), Dergo (departamento de estradas de rodagem estaduais), Metago (espécie de “Vale do Rio Doce” goiana) e terceirizações de serviços na Celg (companhia estatal de energia elétrica) minaram a infraestrutura do Estado. “As estradas acabaram, o Estado não tem capacidade de fornecer energia. Apagões são constantes em Goiânia. Quem administra tem que fazer contas, assumir responsabilidades, zelar pela coisa pública, pois não se governa a distância, nem terceirizando aquilo que cabe ao poder público fazer”, ensina. 

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Confira a íntegra da entrevista:

247 – Qual tem sido sua rotina, desde o fim das eleições?
Iris Rezende Machado
– Desde que acabaram as eleições, procuro colocar minha vida particular em dia. Tenho um grande projeto agrícola, iniciado há 9 anos – para se ter uma ideia, tenho uma lavoura de mais de mil alqueires (de soja), e isso estava lá entregue a auxiliares. Procuro corrigir defeitos, distorções. Agricultura num ano dá preço e vai muito bem, no outro, não. Se a gente não cuidar, vai à ruína. A pecuária não dá muito dinheiro, o rendimento é pequeno, mas não quebra, já a agricultura pode dar bons preços ou levar à falência.

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247 – O senhor voltou a receber lideranças politicas, por quê?
Iris – Tenho acompanhado as questões legais, no TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Na época de campanha, surgem muitas questões e a gente tem que estar atento, acompanhando, por exemplo, multas eleitorais. Paralelamente estou na posição de conselheiro do partido, ajudando a resolver questões municipais, onde duas ou mais alas do partido se defrontam. Recebo os companheiros que veem de todo o Estado à procura de uma orientação. Inicialmente comecei a atender no meu apartamento, mas senti que estava atrapalhando a vida dos demais condôminos, então passei a atender no escritório da deputada Iris Araújo. Tenho recebido dezenas de pessoas de Goiânia e do Estado.

247 – Depois de mais de cinco décadas de vida pública, ainda tem paciência para despachos diários?
Iris
– Esse contato com o povo me faz bem, eu considero até imprescindível em minha vida.

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247 – O que motiva o senhor a seguir na vida política, após tanto tempo?
Iris
– Eu nasci político. Não tem outra explicação. Minha vida pública só encontra explicação na área espiritual. Como é que aquele menino nascido numa comunidade pequena, criado na roça dos 7 aos 15 anos, vem para Goiânia e se torna líder estudantil? Com dois anos de vivência em Goiânia era presidente dos grêmios do Lyceu de Goiânia e da Escola Técnica de Contabilidade de Campinas. Com 9 anos de Goiânia, me tornei o vereador mais votado da história da Câmara Municipal até aquela data. Nunca tive parente político, nunca contei com o entusiasmo político de familiares, e me tornei político. Então digo que nasci com este dom da política. Entendo que o político que prospera é aquele que tem dom, se ele vem por vaidade ou por interesses outros ele não prospera.

247 – O senhor foi convocado pelo PMDB para coordenar um processo de renovação do partido nos diretórios Metropolitano e Estadual. Como é esse trabalho?
Iris
– Esse é um processo que envolve tempo. Entendo que as primeiras providências são as que foram tomadas, com a intervenção nos municípios onde os dirigentes não corresponderam, e estamos fazendo o chamamento de novas lideranças. Eu sempre recebi críticas dos adversários, mas sempre fui um político de espírito renovador. Quando me elegi prefeito em 2004, assumi com uma equipe de gente nova. Quando todos esperavam que eu fosse buscar nos meus velhos companheiros de luta, nomeei secretários pessoas jovens, cuja equipe deu um resultado extraordinário na administração. E você pega estes deputados do PMDB, praticamente todos se tornaram políticos pelas minhas mãos, muitos me ajudaram no governo do Estado ou na prefeitura de Goiânia, depois se candidataram a vereador, depois a deputado.

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ADESISMO

247 – O senhor iniciou a carreira no PTB, mas passou mais tempo no PSD de Juscelino Kubistchek e no MDB e no PMDB. Como o senhor vê o novo PSD do prefeito Gilberto Kassab?
Iris
– Quando estudante, no meio estudantil havia uma oposição das lideranças contra o PSD, que comandado em Goiás pelo senador Pedro Ludovico. Os professores e intelectuais, para combater o governo, combatiam o detentor do poder – e Dr. Pedro Ludovico representou esse regime por 15 anos ou mais. Naquela época, eu, como líder estudantil, era contra o PSD e fui me candidatar a vereador pelo PTB. Naquela eleição, em 1958, o PTB rompeu com o PSD e lançou candidato próprio à prefeitura de Goiânia: Públio de Souza apoiado pela UDN e pelo PSP. Empossado vereador, no primeiro dia fui eleito presidente da Câmara Municipal e logo o PTB volta a se coligar com o PSD. Então nos juntamos na Câmara. O prefeito era Jaime Câmara, que não foi apoiado por mim naquela eleição. E naquela época eu tive uma visão muito clara, de que nós convivíamos com o pluripartidarismo – tínhamos mais de 12 partidos na época – e senti que, para grandes voos, eu teria que procurar partido grande, e, em Goiás, era UDN ou PSD. Eu, já no meu segundo ano de vereador, me filiei ao PSD, fui candidato a deputado pelo PSD e nunca mais saí.

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247 – O que era o PSD naquela época?
Iris
- O PSD se firmou em princípio como um partido defensor da democracia, do desenvolvimento. Era o partido criado com apoio do ex-presidente Getúlio Vargas, que também havia criado o PTB. Getúlio fez muito por Goiás com a Marcha para o Oeste, incentivando o Estado com a Colônia Agrícola de Ceres e a Construção de Goiânia, tendo o Dr. Pedro Ludovico como governador. O PSD, portanto, é criado em 1945, tendo à frente o presidente que seria eleito em 1946, o General Eurico Gaspar Dutra. Em Goiás, o partido disputou com Juca Ludovico, perdendo para Coimbra Bueno, da UDN. O PSD era um partido consequente, equilibrado, preocupado com o desenvolvimento. E, por consequência, o MDB em Goiás constitui-se numa continuidade do PSD. A ditadura se udeenizou e coube ao PSD e, depois, ao MDB o papel de oposição. O PSD que hoje está aí nos leva a ter uma cautela muito grande para fazer uma avaliação do que será este partido. Lá, encontramos líderes das mais diversas matizes. Em Goiás procuraram o PSD aqueles que quiseram aderir ao governo estadual e federal.

247 – Vários deputados do PMDB migraram para o PSD, por quê?
Iris
- O PMDB foi vitima deste processo quando pessoas eleitas com votos de peemedebista tiraram a camisa do partido como se política fosse uma brincadeira. Mas eu tenho um comportamento à altura dos desígnios do Brasil.

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247 – Como o senhor vê essas afirmações de deputados que trocaram o PMDB pelo PSD de que não tinham espaço no partido?
Iris
– Eu tive oportunidade de fazer um pronunciamento aqui no escritório, quando mais de cem líderes se filiaram ao PMDB na semana passada e disse que enquanto uns vão, outros chegam. Isso pela credibilidade que o partido foi adquirindo junto à sociedade ao longo dos anos. E, naquele momento, respondi a afirmação de deputados do PMDB que foram para os quadros do recém-criado PSD, dizendo que saíam porque o PMDB não dava espaço para as novas lideranças. Disse que é até falta de juízo quando uma pessoa dá uma declaração dessas. Quem não era nada há pouco tempo e logo foi secretário no governo do PMDB, foi vereador eleito pelo PMDB, foi deputado eleito pelo PMDB, foi presidente da Câmara de Goiânia. Ora, isso é oportunidade oferecida por um partido? Quer dizer, é falta de caráter quando uma pessoa profere uma declaração desta natureza. O líder encontra seu próprio espaço em qualquer lugar. Agora, quando um líder toma uma atitude dessa natureza, além de trair o partido está traindo o eleitor.

247 – Em Goiás, o PSD nasce como partido adesista?
Iris
– Eu vivi isto muitas vezes. Quando foi instituído o Regime Militar de 1964, a quantidade de líderes que mudaram de lado, imediatamente, foi impressionante. Todo mundo queria ficar ao lado do poder, era um poder forte, que tinha decretado a intervenção federal em Goiás. Lembro que dois deputados federais do PSD imediatamente estavam integrados à ditadura que decretou a intervenção no governo de Mauro Borges. E esses momentos são importantes para a sociedade conhecer os valores, pois os fracos e os oportunistas aderem. O povo fica conhecendo os fortes, sérios, leais. Em 1998, quando eu perdi a eleição para o governador atual (Marconi Perillo), nós havíamos elegido 28 deputados estaduais. A onda que me atingiu nos dias finais da campanha não alcançou a chapa estadual. A aliança PMDB-PL-PSD elegeu 28 e, em um mês, o governador eleito conseguiu a adesão de 14 deputados em troca de todo tipo de favor político. Eu pergunto: onde estão aqueles 14 deputados? Eles viraram pó! Nenhum prosperou. E assim as coisas vão acontecendo. Tínhamos líderes que iam de vento em popa, depois eram atraídos por alguma proposta e somem. Mas o povo no seu silêncio, na sua sabedoria, vai colocando estes oportunistas nos seus devidos lugares. Eu não sou contra ninguém mudar de partido, fique onde achar que fica bem, mas que mudem antes, e se candidatem pelo partido que querem integrar, e não depois de uma eleição. Porque aí sim é traição ao partido e ao eleitor. Nunca critiquei ninguém que num determinado momento disse que iria se filiar a um determinado partido. Mas não depois de ganhar eleição, porque aí é traição, no duro.

REFORMA POLÍTICA

247 – O senhor teve na eleição um recurso de campanha que foi dez vezes menor que o do seu adversário. Predominou a força econômica nas eleições?
Iris
– Tenho falado sempre que possível, com as lideranças nacionais do PMDB a esse respeito. O Congresso Nacional estabeleceu uma legislação que não permite a distribuição de brindes (chaveiros, camisetas, bonés), enfim, nada que signifique uma lembrança ao eleitor. Não é permitido servir um café-da-manhã, almoço ou jantar num encontro político. Não podem ser realizados shows ou contratação de artistas, porém, a lei não estabeleceu limites para a contratação de pessoas para o trabalho de campanha.

247 – A campanha, com a regra atual, ficou mais cara?
Iris
– Nas últimas eleições, assistimos a candidatos contratando milhares de pessoas para trabalhar em campanha, trabalho cujo objetivo era conquistar o voto da pessoa contratada e de sua família. É nisso que levamos uma desvantagem muito grande, até porque saí candidato na última hora, fui vítima de pesquisas – que considero altamente duvidosas –, que tinham por objetivo evitar a reflexão do eleitor e também intimidar aqueles que financiam as campanhas. Nós tivemos 11 partidos integrados conosco na prefeitura (2005-2010), e na campanha ficaram apenas três, pois eu não tinha condição de dar a estrutura de campanha que foi exigida na ocasião. Foram experiências dolorosas, mas defendo o princípio de que a democracia não envolve apenas a conquista do regime democrático, mas todo um aprendizado. Esse aprendizado se dá com a realização de eleições. Cada eleição é uma aula que o povo recebe, que o político também recebe, e quando o povo erra por isto ou aquilo, enfim, decide por um candidato que não merecia o seu voto, ele vai sentir o efeito dessa escolha no trabalho daquele político no parlamento ou no Executivo. É um aprendizado lento, mas que nos encaminha para o aperfeiçoamento da democracia.

247 – O ex-presidente Lula propõe uma Constituinte exclusiva para fazer a Reforma Política, como o senhor vê essa iniciativa?
Iris
– Eu acho muito difícil uma reforma política com o Congresso que aí está. Entendo que uma Constituinte só atenderia aos anseios da população se o parlamentar fosse eleito para votar uma nova Constituição. E que este constituinte, terminada a votação da Constituição, não tivesse mais mandato. Aí viria nova eleição. Como é que vai haver reforma política se a gente vê Ministério do Turismo e Ministério dos Transportes com tanto escândalo e envolvimento de tanta gente? Como é que se reforma uma constituição com este pessoal?

247 – Com 53 anos de vida pública, o que ainda faz o senhor ir em frente, e o que decepciona, causa perplexidade?
Iris
– O meu desencanto maior durante toda essa caminhada é em relação à falta de participação de uma considerável parcela da população brasileira na política. Não é participação se candidatando não, eu gostaria que o povo vivesse o dia a dia de seus escolhidos. Gostaria que o povo acompanhasse mais de perto a atuação do seu vereador, prefeito, deputado, governador ou presidente, como vive a vida do jogador de futebol, por exemplo. Se você perguntar a um cidadão – em qualquer parte do país –, sobre a atuação de um ou outro jogador de futebol, as pessoas opinam. Qualquer passo em falso, o povo comenta sobre o atleta, mas não acompanha com a mesma intensidade o trabalho dos políticos nos parlamentos ou no Executivo. Quando vem a eleição, apenas uma parcela muito pequena da população pesquisa a vida do candidato, se seu passado recomenda-lhe o voto. Se o povo acompanhasse de perto atentamente a vida daqueles que estão no exercício do mandato, não teríamos tantos picaretas na política.

TEMPO MORALMENTE MORTO

247 – Passados dez meses, o senhor já tem uma avaliação do governo atual?
Iris
– Eu disse, certa vez, que, enquanto candidato que perdeu as eleições, não queria fazer declarações no período de um ano, pois elas podem ser entendidas como resultado de estado emocional, mas daqui a três meses podemos conversar a respeito...

247 – Estamos completando, com o governo atual, um ciclo de treze anos de poder de um mesmo grupo, que, ao final deste mandato, totaliza 16 anos de continuísmo. No balanço desses anos, Goiás andou para frente ou para trás?
Iris
– Nos governos do PMDB, Goiás recebeu um impulso muito grande com o projeto de infraestrutura nas áreas de saneamento básico, saúde, energia elétrica, estradas, enfim, em todas as áreas. Construímos a IV Etapa da Usina de Cachoeira Dourada, a usina em São Domingos, interligamos Goiás com o eixo de rede de energia elétrica do Norte-Nordeste. Conseguimos trazer energia de Itaipu, com todos estes sistemas atravessando Goiás, interligando o sistema também com o Mato Grosso. Até 1982, Goiás tinha mil quilômetros de estradas estaduais pavimentadas, em dois governos que tive oportunidade de gerir (1983-1986 e 1991-1994) nós asfaltamos 7,8 mil quilômetros de estradas estaduais. Fizemos o Fomentar, criando uma política de incentivo fiscal que alavancou a economia do Estado, em especial, salvou o Daia em Anápolis, que viria a ser o que é hoje: um pólo farmoquímico. Foram, enfim, os governos do PMDB que trouxeram a Perdigão para Rio Verde, a Mitsubishi para Catalão. Hoje, o que nos preocupa: uma empresa que queira se instalar em Goiás não tem meio, pois não tem garantia de fornecimento de energia elétrica. E energia até sobra, pois há no Estado força hidráulica e a força da co-geração, através do bagaço de cana-de-açúcar, mas faltam investimentos para levar energia da fonte de geração até o consumidor domiciliar ou industrial. Vou dar um exemplo: estive na inauguração de uma usina de álcool e açúcar na região de Quirinópolis. A planta tem capacidade de gerar 100 MW de energia, dos quais 50 MW consumidos na própria indústria, e o restante não podia ser redistribuído porque a rede de distribuição não comportava aquela potência. Isso está acontecendo em Goiás. Ora, se não tem rede que possa fornecer energia para uma indústria, ela não vem.

247 – O chamado Tempo Novo, expressão que marcou a ascensão de Marconi ao governo, se exauriu?
Iris
– O que nós vemos é um tempo moralmente morto. Essa sanha em desmanchar o que está pronto. As estradas acabaram, o Estado não tem capacidade de fornecer energia. Apagões são constantes em Goiânia. Sempre tive minhas reservas com relação a esta terceirização e privatizações no serviço público. Foram extintos por este governo o Dergo (Departamento de Estradas de Rodagem de Goiás) e o Crisa (Consórcio Intermunicipal de Serviços e Assistência), que eram dois órgãos altamente equipados com máquinas, oficinas, técnicos e engenheiros, além da própria Celg. O Dergo tinha um corpo de funcionários dos melhores do país, o Consórcio também. Eram centenas e centenas de máquinas, caminhões, patrols, veículos, com oficinas regionais onde até peças eram construídas. De repente, assumiram o governo e decidiram acabar com o Dergo, com o Consórcio, e fica a indagação: o que foi feito daquele volume de máquinas? Eu lembro que, de uma vez só, compramos 500 caminhões e patrols para o Consórcio. O Dergo tinha suas usinas de asfalto e britadores. De repente foi tudo abandonado. As máquinas, os veículos sumiram. E entregaram todo Estado para 18 empresas num projeto chamado Terceira Via. Empresas que faturaram milhões e deixaram as estradas acabarem. A Celg também foi vítima disso.

247 – Mas o governo tucano culpa os problemas da Celg pela privatização da Usina de Cachoeira Dourada durante o último governo do PMDB, em 1997.
Iris
– Não fui favorável a venda de Cachoeira Dourada, eu construí a IV Etapa. E é preciso dizer que os problemas da Celg não decorrem da venda da usina de Cachoeira Dourada. Quantas empresas que não geram energia e estão tendo lucro. O problema da Celg foi a terceirização de tudo. A Celg com seus engenheiros, com seus técnicos, seus eletricistas, construía milhares de redes de transmissão de energia elétrica em Goiás. Eu mesmo organizei quantos mutirões estado afora construindo redes de transmissão de energia elétrica com o trabalho do povo, das prefeituras e orientação de técnicos da Celg. Hoje, até a leitura de relógios de energia é feita por empresas terceirizadas. O resultado é que falta energia em Goiânia. No nosso prédio, no Setor Oeste, ficamos 70 horas sem energia e não aparecia ninguém para dar assistência, que só veio a ocorrer depois de 24 horas e, logo depois, iniciou-se a chuva e foram mais de 48 horas sem luz. Esses problemas ocorrem porque a empresa foi sucateada. Cadê aquele corpo técnico da Celg? Sumiu. Estão nas empresas terceirizadas e estas não estão nem aí para o consumidor.

247 – O neoliberalismo posto em prática pelos governos tucanos trava o desenvolvimento de Goiás?
Iris
– Está claro que sim. O Estado deixa de ter recursos. Por exemplo, a Metago foi extinta. Veja bem, uma empresa que cuidava da política mineral de Goiás foi extinta. A Celg construía usinas, redes de energia, hoje não constrói mais. O Dergo e o Crisa, extintos, e Goiás deixou de cuidar das rodovias e de abrir novas. Se fizermos um levantamento minucioso, o prejuízo foi muito grande e, às vezes, é só após muito tempo a sociedade percebe o erro que foi cometido. Vejam, chegou-se ao absurdo de terceirizar até a administração do Centro de Convenções de Goiânia, um prédio construído por nós com recursos exclusivos do Estado. O Centro de Convenções tinha sua administração, eletricistas, encanadores. Hoje é uma empresa que comanda, cobra R$ R$ 20 mil a R$ 30 mil pelo aluguel de espaços. E quanto o Estado recebe disto? Nada. Vai tudo para empresa que explora. Até o Ginásio Goiânia Arena foi terceirizado. Não me admira se terceirizarem a administração do Palácio das Esmeraldas.

247 – Há quem defenda que a terceirização poupa gastos...
Iris
– Sou contra. Quando assumi o governo em 1983, encontrei o Estado com seis meses de atraso em folhas de pagamento do servidor público. A primeira coisa que fiz foi acabar com todos os contratos de terceirização de limpeza e segurança. Cada secretaria assumiu a manutenção e limpeza. Convocamos a Polícia Militar para fazer a segurança. Economizamos e botamos as contas em ordem. Na prefeitura, quando assumimos em 2005, fizemos o mesmo. Acabamos com as terceirizações, economizamos. Recebemos com dívidas acima de R$ 260 milhões. Pusemos fim à terceirização da varrição urbana, que há 17 anos era feita por uma empresa. A Comurg assumiu tudo. Economizamos, pagamos as contas e asfaltamos todos os bairros de Goiânia. Quem administra tem que fazer conta, assumir responsabilidades, zelar pela coisa pública, pois não se governa a distância, nem terceirizando aquilo que cabe ao poder público fazer.

247 – O senhor acompanha a situação da UEG?
Iris
– Meu adversário alega que criou a UEG, mas não foi. A Universidade Estadual foi criada no meu governo com o nome de Universidade Estadual de Anápolis. Nós tínhamos dois cursos superiores estaduais, um de Administração, em Anápolis, e a Escola Superior de Educação Física (Esefego) em Goiânia. Nós criamos dezenas, desde Porto Nacional (hoje Tocantins), até o Sul do Estado, pois no meu primeiro governo Goiás e Tocantins eram um só estado. Bem, nosso adversário mudou o nome da UEG, mas nós construímos uma sede para a Universidade Estadual, criamos sete cursos em Anápolis, dezenas no interior do Estado, pois a universidade federal não se fazia presente no interior do Estado e, por isso, tratamos de levar ensino superior para o interior. E hoje vemos a UEG vivendo problemas terríveis.

247 – O senhor foi muito criticado por fazer casas, escolas e postos de saúde com materiais precários, como placas de cimento. Por que fez essa opção quando governou?
Iris
– Porque as necessidades eram grandes, os desafios imensos. Com o sistema de mutirão e aquele tipo de material, conseguíamos atender às demandas, que eram enormes. O número de crianças que não iam à escola por falta de salas de aulas era grande, então, em 1983, fizemos um levantamento da necessidade, buscamos números de quantas salas de aula eram necessárias em cada município, chamei os prefeitos e resolvemos fazer tudo no primeiro ano. Por isso, adotamos aquele sistema de placas para escolas, saúde e habitação, de forma a acelerar a solução dos problemas, de sorte que, em um mês – quatro finais de semana –, construímos 1,2 mil salas de aula em mais de cem municípios de Goiás e Tocantins e fizemos mil casas em um só dia na Vila Mutirão.

ELEIÇÕES

247 - Há uma movimentação em torno de alguns nomes para o governo do Estado em 2014, como os empresários Vanderlan Cardoso (PMDB), Júnior Friboi (PSB) e o seu nome. Como o senhor vê estes nomes?
Iris
– Meu nome não deve ser cogitado para esses embates futuros, mas entendo que quanto maior o número de postulantes ao cargo talvez seja melhor para a democracia. Disputei a prefeitura de Goiânia com outros sete candidatos e candidatas e, no segundo turno, o povo definiu quem queria e eu entendo que consegui corresponder às expectativas da cidade. Este é um ano de filiações, em que quem não tem partido se filia, pois a lei estabelece um ano antes para ser candidato. O ano que vem é o ano das convenções e o PMDB está se preparando para concorrer para valer. Espero que em 2012 o PMDB faça grande número de prefeitos em todas as regiões de Goiás e, daqui a três anos, o PMDB vai buscar o governo do Estado.

247 - A aliança com o PT está consolidada em relação a Goiânia, Anápolis e Aparecida e, também, para 2014?
Iris
– Se ambos os partidos tiverem juízo esta aliança estará consolidada. Eu não vejo por parte do PMDB ou do PT, como partidos consolidados, que têm responsabilidade administrativa, seja na Presidência da República, ou nas prefeituras de Goiânia e Anápolis, mas nem por isto o PMDB vai se agachar, se colocar num plano de desigualdade ou de humilhação. O PMDB é o maior partido de Goiás e buscou esta aliança na prefeitura de Goiânia para iniciar um projeto maior. Em 2008, o PMDB não precisava da aliança para ganhar a reeleição – o fez numa demonstração de altruísmo, pois, se nós temos responsabilidades comuns no governo federal, na prefeitura de Goiânia, precisamos ter juízo suficiente no sentido de que essas duas forças caminhem de mãos dadas para buscar o poder, evitando que este poder não caia em mãos menos preparadas para gerir os destinos do Estado.

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