FHC será bom amigo ou amigo da onça para Dilma?
O teatro poltico brasileiro se agita com o chega mais entre a presidente e o ex; h um olhar 43 na foto acima?
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Evam Sena e Rodolfo Borges _247 – Não poucas interrogações, feitas no circuito da alta política brasileira, cercam os seguidos movimentos da presidente Dilma Rousseff na direção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Num primeiro momento, em março, ambos tiveram um encontro inaugural protocolar, no Palácio do Itamaraty, em recepção oficial a Barack Obama.
Em seguida, porém, a relação ficou mais próxima. Muito. E por iniciativa de Dilma, o que fez despertar, de imediato, profundas repercussões políticas. O aniversário de 80 anos de FHC, em junho, 18, pode ser politicamente comemorado de véspera graças a carta que a presidente endereçou a ele. Dias antes dos festejos, como se fosse um rojão pioneiro para anunciar a efeméride, a presidente enviou uma missiva repleta de loas, linha por linha, aos oito anos de mandato de FHC e à sua pessoa física. Uma peça histórica, imediatamente capturada pelo PSDB como troféu que determinou o fim da chamada herança maldita, afamada pelo sucessor dele, Luiz Inácio Lula da Silva. “Acadêmico inovador”, “político habilidoso” e “presidente que contribuiu decisivamente para a estabilidade econômica do País” são apenas alguns dos elogios elencados naquela peça. Perdeu o PT de Dilma, com a prosa presidencial, uma bandeira que até então funcionava muito bem, a de lançar sobre o tucano as razões de quase todos os problemas e atribuir a Lula o papel principal nas grandes realizações. “Foi um tapa na cara do partido”, disse ao 247 uma fonte muito próxima da cúpula petista.
Até a carta, porém, a relação entre Dilma e FHC parecia ser unilateral. Isto é, dela para ele. Desde a quinta-feira 18, no entanto, passou a ser de mão dupla. Ao ver Fernando Henrique entre os que esperavam para cumprimentá-la, no maior reduto tucano de poder, o grandioso Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, Dilma abriu seu melhor sorriso em meses. Alguns chegaram, até, a notar um discreto “olhar 43, aquele assim, meio de lado”, como diz a música do RPM, da presidente para o ex. Estão ai todas as fotos para o leitor julgar.
O que se viu logo depois, durante a assinatura de convênios pelos quais o governo de Dilma irá transferir verbas milionárias para a administração tucana de Geraldo Alckmin participar do programa Brasil Sem Miséria, foram cenas de franca admiração. Sentada ao lado do ex-presidente, Dilma puxava assunto, fazia perguntas, respondia. Parecia embevecida. Fernando Henrique estava sério, por alguns instantes quase circunspecto, exercendo com segurança o papel de “o experiente”. Resultado: já no dia seguinte, a diferentes interlocutores, o ex-presidente se via em condições de sair falando na qualidade de interlocutor qualificado da presidente. O recado que ele passou foi algo como “estamos os tucanos prontos para ajudar a presidente em sua cruzada contra a corrupção”.
A partir dessa mensagem, as interrogações sobre a relação política entre a atual presidente e o ex se multiplicaram. Fernando Henrique passará a ser interlocutor frequente de Dilma? Assim como falou em ajudá-la a combater a corrupção, poderá amanhã usar sua conhecida verve sedutora para novos conselhos? Talvez um elogio aqui, uma repreensão ali? E mais: o que Dilma ganha com esse movimento que já leva os chefões do PT a terem de explicar que a extrema cordialidade, compreensão e sintonia entre eles não é o que parece? Por que ela resolveu resgatar FHC para a cena principal? A presidente estaria mudando a sua política de alianças, trocando o rame-rame de dissabores diários com a base aliada pela ombro amigo do velho e bondoso líder tucano? Como reagirá Lula, que se encontra FHC na mesma rua prefere mudar de calçada (ele, afinal, nunca foi chamado aos palácios presidenciais nos 8 anos de mandato do sociólogo, e jamais convidou o professor para uma conversinha sequer em seus próprios 8 anos de poder)?
Quanto a FHC, as perguntas se pulverizam em torno de uma indagação principal: ele será mesmo o melhor amigo de Dilma na oposição em todas as horas ou, quando as coisas apertarem, poderá se mostrar um amigo da onça? Neste exato momento, quando a própria Dilma já diz que o combate à corrupção não é “objetivo principal do seu governo” e ele espalha que a ajudará a combater os malfeitos, não estaria FHC, desde logo, atuando para enfraquecer Dilma, na hipótese de novas surpresas negativas serem descobertas entre os colabores do governo?
A última pergunta é legítima diante do timing do tucano. Logo agora, quando Dilma começa a pisar no freio em sua "faxina" anticorrupção, FHC bota lenha no fogueira e prega que até o PSDB, principal partido de oposição, apóie a presidente em sua limpeza. Depois de pegar pesado com o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) no Ministério dos Transportes e perder o apoio do PR, Dilma agiu de forma mais amena durante a crise que levou à queda de Wagner Rossi (PMDB) do Ministério da Agricultura. A presidente chegou a lamentar a saída do peemedebista da Pasta e já ensaia uma reaproximação do PR por meio da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
A aproximação entre Dilma e FHC já vinha incomodando partidários do PT e do PSDB, mas os comentários de que o ex-presidente vem pregando apoio dos tucanos no combate à corrupção bateu tão forte que, agora, representantes dos dois partidos chegam ao cúmulo de negar que exista qualquer tipo de aproximação entre os dois. Mas, se é assim, que fotos são essas? Que sorriso foi aquele? E a carta, se esqueceram?
A intenção de FHC ao incentivar o apoio seria fortalecer Dilma o bastante para que o PT não considere a possibilidade de apelar para uma candidatura Lula em 2014. Mas o partido parece não ter recebido o recado dessa forma, pelo menos no discurso. O senador Alvaro Dias (PR), líder do PSDB no Senado, apressou-se em dizer que FHC apenas se solidarizou com Dilma enquanto ex-presidente, pois conhece “as agruras do poder”, e que Dilma não precisa da ajuda da oposição. Dias é o principal articulador da CPI da Corrupção, comissão que, na opinião de FHC, deveria ser abandonada. O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), também fez questão de dizer que não ouviu qualquer declaração contrária à CPI vinda de FHC e que o ex-presidente sabe separar suas relações pessoais e políticas.
Do lado petista, o discurso é o de que a aproximação entre Dilma e FHC é protocolar. “A presidente assume polidamente essa relação. Tem que ser assim”, disse ao 247 o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP). Segundo ele, “essa suposta aproximação entre a Dilma e o Fernando Henrique é uma coisa que a imprensa cria para fazer contraposição entre a presidente e o Lula, um antagonomismo que não existe”. A opinião do deputado é reverberada pelo colega Jilmar Tatto (PT-SP). “Isso (a aproximação) se dá do ponto de vista protocolar. É uma relação republicana e democrática. Não existe aproximação entre Dilma e o PSDB, até porque na hora de votar matérias de interesse do governo no Congresso, o PSDB obstrui, vota contra”, diz Tatto. É, pode ser. Mas diante do galanteador Fernando Henrique e com uma presidente de poucos amigos, seguirá o rumo certo das coisas quem acreditar que as cenas dos próximos capítulos desse romance político têm tudo para serem mais quentes.
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