Dilma: 100 dias de governo, 73% de aprovação

Presidente fecha o primeiro ciclo de sua gesto com popularidade em alta, crescimento forte, poltica externa sadia,vida mansa no Congresso e um nico desafio: equilibrar as contas pblicas para assegurar o controle da inflao



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Rodolfo Borges_247, de Brasília – A presidente Dilma Rousseff completa os 100 primeiros dias de governo neste domingo sob o efeito inebriante dos 73% de aprovação popular da pesquisa CNI-Ibope, publicada há uma semana. Os primeiros três meses de governo da sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva passaram sem grandes arranhões a sua imagem de boa gestora, construída durante o período de ministra-chefe da Casa Civil. Não bastasse a boa avaliação, a presidente demonstrou qualidades não esperadas, como a capacidade de lidar com questões de coordenação política, mas a lua de mel com o país tem prazo de validade, avisam os especialistas. “A grande vantagem de Dilma é não tagarelar como Lula, que fazia falações todo dia e, por isso, falava muita besteira”, avalia o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).

A administração discreta é apenas um dos quesitos que os analistas vêm utilizando para elogiar o comportamento de Dilma na comparação com Lula – para a irritação de partidários do ex-presidente, que o enxergam como mentor de Dilma e, portanto, incomparável e insuperável no confronto de qualidades com a sucessora. Na comparação, Dilma é elogiada até por responder aos desastres causados pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro com mais presteza do que a reação de Lula às enchentes de Santa Catarina em 2008 – por enquanto, só se admite vitória do antecessor no que se refere à tergiversação e à oratória. A pupila também vem batendo o mestre no quesito direitos humanos, grande destaque de seu início de governo.

A condenação da presidente à condenação por apedrejamento de Sakineh Ashtiani no Irã marcou uma mudança de rumo no Itamaraty (junto com a reaproximação com os Estados Unidos, simbolizada pela visita do presidente Barack Obama ao Brasil) e na forma como o Palácio do Planalto vinha lidando com os direitos humanos, estabelecendo um norte que deve atingir seu ápice na criação da prometida Comissão da Verdade, idealizada para revelar segredos do período ditatorial. “A comissão será mais fraca do que o planejado, porque não é mais ‘de Justiça’, como estava previsto no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), mas ainda assim a defendemos”, diz o coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), Gilson Cardoso. Para viabilizar a instalação da comissão, o governo aceitou retirar a possibilidade de condenações em seu âmbito.

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Cardoso elogia a condução de Dilma na área de direitos humanos, considerada por ele uma continuação das políticas do governo Lula, mas critica o corte de gastos na área. “Acredito que a presidente vai voltar atrás no corte de 11% no orçamento da Secretaria de Direitos Humanos (SDH, da Presidência da República). A secretaria não tem como repor esse dinheiro”, diz. O fato de envolver até uma área prioritária para a presidente – que estabeleceu a erradicação da miséria como prioridade, sob o slogan “País rico é país sem pobreza” – expõe a necessidade de corte nos gastos do governo, elevados exageradamente no ano passado, como consequência das eleições.

Inflação

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Os analistas consideraram insuficiente o corte de R$ 50 bilhões anunciado pelo governo em fevereiro, mas a medida foi utilizada pelo Planalto como resposta ao crescimento da inflação, que acumula alta de 6,3% em 12 meses (próximo do teto da meta de 6,5% para o ano) e deve servir de fundo para os primeiros desgastes de Dilma com a população. “Dilma acabou pegando carona no governo Lula. Sua imagem está muito associada à do ex-presidente e a economia está aquecida, mas o nível de aprovação deve cair nos próximos meses, quando o povão começar a sentir as medidas antiinflação”, avalia o cientista político Ricardo Caldas, referindo-se aos altos níveis de aprovação popular dos primeiros meses de governo. Para Caldas, o aumento da taxa básica de juros (no governo Dilma, já foram dois, de 0,5 ponto percentual cada) ainda não surtiu o efeito esperado, e isso mantém a população satisfeita.

De medidas impopulares até agora, só a paralisação nos concursos públicos, uma das contradições entre a Dilma candidata e a Dilma presidente. Assim como a aventada transferência da gestão dos aeroportos à iniciativa privada, o corte nos concursos era utilizado pela campanha do PT para desqualificar o concorrente José Serra (PSDB). Outras críticas que marcaram o início do governo Dilma foram sua ingerência na queda de Roger Agnelli da presidência da Vale e a indicação política do ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima para a vice-presidência da Caixa Econômica Federal, que relativizou o comprometimento do governo com a excelência de gestão simbolizada pela presidente. “Foi um erro manter o (ministro da Fazenda, Guido) Mantega. Ele é muito fraco. Resolveu mal o problema da Vale. Ele não é o que se pode chamar de uma pessoa com iniciativa, força ou presença”, critica o cientista político David Fleischer.

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Oposição

A grande vitória do governo nestes três primeiros meses foi, sem dúvida, a aprovação do salário mínimo de R$ 545 na Câmara. Mas, se Dilma tende a superar Lula nas comparações, é preciso reconhecer que a vida da presidente é bem mais fácil que a do antecessor graças à maioria do governo no Congresso Nacional, que aprovou na Câmara, nesta semana, o repasse de R$ 20 bilhões do BNDES para o consórcio responsável pelo Trem de Alta Velocidade (TAV) e a revisão do tratado de Itaipu com o Paraguai sob os protestos de uma indefesa oposição.

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Os 100 primeiros do governo, aliás, marcaram a primeira manifestação contundente dos oposicionistas, que coube ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Ainda que seja nítido e louvável o esforço da nova presidente em impor personalidade própria ao seu governo, tem prevalecido a lógica dominante em todo esse período e suas heranças”, criticou o senador, acrescentando: “Não há ruptura entre o velho e o novo, mas o continuísmo das graves contradições dos últimos anos”, disse.

As críticas foram rebatidas pelo líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Segundo ele, a aprovação popular de Dilma “reflete a percepção de que a presidente tem luz própria, imprime o seu ritmo, seu estilo e sua dinâmica às atividades de governo”. “Os primeiros cem dias do governo acenam com perspectivas extremamente positivas para o povo brasileiro”, disse, destacando que a passagem de Dilma pela Presidência já “garantiu dimensão inédita à questão do gênero no Brasil”.

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