Da vassoura à renúncia, cinquenta anos depois

Ao 247, Jnio Quadros Neto relata como e por que seu av decidiu renunciar presidncia da Repblica



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Leonardo Attuch_247 – Era 25 de agosto de 1991 e Jânio Quadros, ex-deputado, ex-prefeito, ex-governador e ex-presidente da República que protagonizou a mais meteórica carreira política da história do País, estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Na sua companhia, um jovem de 18 anos, Jânio Quadros Neto, que, pela primeira vez, teria a coragem de perguntar ao avô os motivos da renúncia ocorrida trinta anos antes. A oportunidade surgiu com um comentário feito pelo jornalista Carlos Chagas, na TV Manchete. Chagas, pai de Helena Chagas, atual secretária de Comunicação do governo Dilma, enumerou três possíveis razões para a renúncia: uma tentativa de golpe, como suspeitava o ex-aliado Carlos Lacerda, um ato de loucura ou o simples impulso de um bêbado. Furioso, Jânio quase pulou da cama de hospital.

- Então por que você renunciou? – indagou seu neto.

Não era uma pergunta simples de se fazer. Jânio era temido por auxiliares, mas também pelas pessoas mais próximas, da própria família, em função de seu temperamento mercurial e histriônico. E o neto se lembrava de um episódio, ocorrido no Guarujá, em que Jânio havia respondido a mesma pergunta de uma maneira nem tanto polida. “Porque a comida no Palácio do Alvorada era uma porcaria como é na sua casa”, disse ele ao anfitrião.

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Mas, naquela noite, no Einstein, Jânio, que morreria seis meses depois, decidiu falar. E, ao contrário do que se imagina, a renúncia não foi um ato impulsivo, etílico ou de loucura. Foi uma decisão racional tomada por Jânio – apenas foi mal calculada.

Jânio, que herdara de Juscelino Kubitschek um país em sérias dificuldades financeiras, após a construção de Brasília, tinha de negociar com um Congresso Nacional majoritariamente de oposição medidas altamente impopulares, como a redução de despesas e a demissão de funcionários públicos. “Ser presidente é a suprema ironia por ser um todo poderoso e um escravo ao mesmo tempo”, disse Jânio ao neto. E os parlamentares, saudosos da gastança da era JK, lhe faziam ferrenha oposição.

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Nas eleições daquele tempo, o presidente e o vice que acabavam eleitos não pertenciam necessariamente à mesma chapa. E Jânio, levado ao poder pela UDN, com sua vassourinha a tiracolo, tinha como vice o trabalhista João Goulart.

O que poderia parecer um problema seria também um trunfo na visão do político altamente sagaz que, em apenas treze anos, conquistou tudo na política. Jango era visto pelos militares em 1961 como Lula pelos empresários em 1989. Era a encarnação do mal.

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Por isso mesmo, ele imaginou que a cartada da renúncia o fortaleceria na presidência, permitindo que avançasse com seu programa de ajuste fiscal. E seria sua segunda renúncia, pois em 1959, na campanha, ele já havia renunciado à candidatura, para reforçar o apoio dos seus correligionários.

Se deu certo em 1959, por que não daria certo em 1961? Era assim que Jânio refletia.

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O ex-presidente tinha também fascínio pela Inglaterra, onde primeiros-ministros, com frequência, pedem votos de confiança ao Parlamento. E ele imaginava ser capaz de repetir o mesmo ritual.

Teatral, ele escolheu a dedo a oportunidade da renúncia, redigida em 19 de agosto e entregue ao ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, em 22 de agosto, quando Jango visitava a China comunista e se comemorava o Dia do Soldado.

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Só que, ao contrário do que Jânio imaginava, tudo saiu pelo avesso. A reação foi de estupefação. E os militares deram posse a Jango, para depois derrubá-lo, lançando o País num longo período de escuridão. “Foi o maior erro que cometi. Esperava um levantamento popular e que os militares e a elite não permitissem a posse de Jango, que era politicamente inaceitável para os setores mais influentes da nação na época”.

O que mais disse o avô ao neto naquela noite? “Aqueles que os deuses querem destruir, eles primeiro os fazem presidentes do Brasil”.

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