Corrupção e inércia

O BNDES passou a distribuir uma espécie de “bolsa-empresário”, concentrando recursos fabulosos em conglomerados amigos do poder



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Lisboa – O governo Dilma Rousseff não diz ao que vem, do ponto de vista administrativo. Vê-se que a marca da “gerente”, da “executiva” ágil, tem mais a ver com a mente fértil do marqueteiro João Santana que com a realidade dos fatos: obras paralisadas, desconexão entre os Ministérios e as diversas instâncias da máquina pública, lentidão na privatização de serviços essenciais ao êxito da Copa de 2014.

E corrupção. Muita corrupção. Sobram casos e faltam páginas de jornais e revistas para registrar cada delinquência.

Dilma não inventou essa pólvora nem esses métodos. Eles vieram do imperador Lula da Silva, que abriu mão de uma biografia para se congraçar com o que de pior viceja na política brasileira. Insisto: não se trata de ter de aturar certas figuras em nome de um projeto de Brasil. Trata-se, isto sim, de preferir o baixo mundo, ao invés do diálogo saudável com aliados programáticos e com a própria oposição.

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O BNDES mesmo, que passou a distribuir uma espécie de “bolsa-empresário”, concentrando recursos fabulosos em conglomerados amigos do poder, escapou por pouco de terrível equívoco. Refiro-me à fusão Pão de Açúcar/Carrefour, que não esbarrou na decisão do banco de negar dinheiro público para assunto claramente privado e sim na resistência do sócio de Abílio Diniz.

O BNDES-PAR seria a garantia, com o dinheiro dos brasileiros, para a hipótese de o negócio, se efetuado, dar com os burros n’água. Logo, dizerem que não entraria dinheiro público na história é, nada mais, nada menos que “conversa para boi dormir”.

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No plano econômico, as coisas se passam divergentes do otimismo de Guido Mantega. Dilma pode passar seus quatro anos de mandato às voltas com inflação elevada e renitente, juros altos, crescimento medíocre, real sobrevalorizado e crescente desindustrialização.

As medidas que vão sendo adotadas ficam entre o inadequado e o insuficiente. Taxar o mercado de derivativos poderá “exportar” negócios e lucros de Bovespa e BMF para centros exteriores ao Brasil.

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Penélope de Ítaca, esperando um Ulysses que demorava a chegar da guerra de Tróia, respondeu a súditos e pretendentes a desposá-la: “decidirei com quem casar quando tiver concluído esta tapeçaria”. E fiava de dia para desfazer o trabalho na parte da noite.

Segundo a lenda, terminou recompensada, pois o arguto Ulysses retornou, sofrido, inteiro e apaixonado. Diferente de Mantega e sua “tapeçaria” de medidas, que, no dizer do economista André Leite, representa apenas “enxugamento de gelo”.

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*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado

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