Bolsonaro cobrava investigações sobre Maia, Doria e Witzel na PF
De acordo com um membro do Poder Judiciário, Jair Bolsonaro "queria autonomia para 'pilotar' a PF como um todo, principalmente para investigar Maia, a quem ele vem pedindo mais empenho nas investigações". Também cobrava investigação sobre a atuação de João Dória e Wilson Witzel, dois possíveis adversários dele na eleição presidencial de 2022
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247 - Aliados de Jair Bolsonaro e integrantes do Judiciário afirmam que ele reclamava, com frequência, por acreditar que a Polícia Federal "fazia corpo mole" ao não investigar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os governadores João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ).
"A recusa em atuar no inquérito das Fake News que pode respingar no Eduardo (Bolsonaro) foi o estopim", disse, em reserva, um membro do Judiciário, que pediu anonimato. "Bolsonaro queria autonomia para 'pilotar' a PF como um todo, principalmente para investigar Maia, a quem ele vem pedindo mais empenho nas investigações", complementou. As entrevistas desta matéria foram concedidas ao jornal O Globo.
A crise política no governo aumentou após Bolsonaro exonerar o Maurício Valeixo da Diretoria-Geral da PF. Moro apontou crimes de responsabilidade por parte do seu ex-chefe. "O presidente me relatou que queria ter uma indicação pessoal dele para ter informações pessoais. E isso não é função da PF", complementou.
Um inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) apuram a disseminação de fake news e ataques a parlamentares e ministros da Corte pelas redes sociais. O outro apura a organização de atos a favor da intervenção militar no governo no último fim de semana. De acordo com integrantes da Polícia Federal, a primeira investigação atinge um dos filhos de Bolsonaro.
Superintendentes e diretores que participaram da reunião com Valeixo na quarta-feira (22) ficaram perplexos ao ver o Bolsonaro dizer em pronunciamento nesta sexta-feira (24) que o diretor-geral teria dito que estava "cansado" e queria deixar o cargo. Duas pessoas presentes na conversa com Valeixo afirmaram que ele disse apenas não ter "apego a cargos".
"É muito diferente de dizer que ele tava cansado e que ia sair, comunicando a exoneração. Ele não disse isso", afirmou um delegado da PF presente à conversa com Valeixo.
De acordo com delegados, Bolsonaro demonstra desconhecimento do papel da PF. Outro delegado afirma: "Nossos relatórios não são como os do Exército ou da Inteligência do governo. Muitas vezes nem o superintendente tem acesso se nao é para ter acesso. Pode ser só da competência do delegado que conduz a investigação. É diferente de relatório de inteligência que produz no órgão governamental, que, em tese, é de interesse do presidente. Enquanto o juiz determina sigilo num procedimento, ninguém que não seja parte pode ter conhecimento".
Witzel e Doria
Um aliado de Bolsonaro no Palácio do Planalto também afirmou que ele reclamava da falta de investigações sobre a atuação dos governadores João Dória (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), dois possíveis adversários de Bolsonaro na eleição presidencial de 2022.
O embate com Witzel aumentou principalmente após serem evacuadas na imprensa informações sobre supostas ligações da família Bolsonaro com o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018. O clã presidencial sinalizava que o governador do Rio interferia de alguma forma nas investigações para prejudicar a família Bolsonaro.
Em março, foram presos dois suspeitos de serem os assassinos de Marielle: o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-militar Élcio Vieira de Queiroz. O primeiro é acusado de ter feito os disparos e o segundo de dirigir o carro que perseguiu a parlamentar. Lessa morava no mesmo condomínio de Bolsonaro. Outro detalhe é que Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos havia postado no Facebook uma foto ao lado de Jair Bolsonaro. Na foto, o rosto de Bolsonaro está cortado.
O confronto com o governador João Doria, que apoiou Bolsonaro, veio após o tucano se fortalecer cada vez mais dentro do PSDB como candidato do partido à presidência da República. O chefe do Executivo paulista chegou a fazer uma autocrítica por ter votado em Bolsonaro. "Não tinha a perspectiva de ter um presidente que pudesse vir a ter comportamentos tão irresponsáveis, tão distantes da verdade, tão condenáveis sobretudo numa situação de pandemia como essa", disse ele, em entrevista a Sérgio Dávila, na Folha de S. Paulo.
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