As surpresas e as obviedades que os números mostram
Argentinos confiam muito em suas escolas públicas e no sistema de saúde, ao contrário de brasileiros e chilenos. Mas todos desconfiam dos políticos e do judiciário
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A falta de confiança da população nos partidos políticos e no Congresso Nacional é um ponto comum entre brasileiros, argentinos e chilenos. Segundo pesquisa realizada nos três países pelo Ibope Inteligência, os partidos são a instituição em que brasileiros e chilenos menos confiam. Na Argentina, os sindicatos estão com o prestígio ainda pior do que o dos partidos, que por isso ficam em penúltimo lugar. A seguir na escala de desconfiança, nos três países, vêm seus congressos nacionais – deputados e senadores.
O Ibope listou 18 instituições e quatro grupos sociais e entrevistou cidadãos dos três países para verificar qual o nível de confiança que têm em cada um deles. As notas baixas dadas a partidos e parlamentos indicam o desprestígio dos políticos nos três países, enquanto a liderança dos corpos de bombeiros, em todos eles, não é surpresa.
O Ibope diz que, “como um termômetro, o Índice de Confiança Social reflete o contexto social, político e econômico dos países pesquisados”. Um exame mais minucioso dos números mostrados pela pesquisa traz algumas surpresas aos brasileiros que, influenciados por notícias e análises superficiais difundidas por uma imprensa tendenciosa, têm uma impressão bem equivocada sobre a Argentina, governada pela “esquerda”. E desmonta algumas ilusões cultivadas a respeito do Chile, governado pela “direita”.
As cinco instituições que gozam de maior confiança nos três países, com o índice que obtiveram, são:
Brasil – Corpo de bombeiros (86 pontos), igrejas (72), forças armadas (72), meios de comunicação (65) e presidente (60).
Argentina – Corpo de bombeiros (90 pontos), escolas públicas (74), sistema público de saúde (69), organizações civis (66) e eleições/sistema eleitoral (65).
Chile – Corpo de bombeiros (92 pontos), polícia (60), organizações civis (60), forças armadas (56) e meios de comunicação (51).
As escolas públicas, que na Argentina estão em segundo lugar, com índice 74, no Brasil estão em nono lugar, com índice 55. No Chile, as escolas públicas estão décimo lugar, com 47. O sistema público de saúde, terceiro lugar na Argentina (69), é 16º no Brasil (41) e 13º no Chile (40). Ou seja: os argentinos têm muito mais confiança em seus sistemas públicos de ensino e de saúde do que brasileiros e chilenos.
A presidente brasileira tem índice de 60 pontos, a argentina tem 64, em sexto lugar, e o presidente chileno tem 27, em 16º lugar. O governo federal, ou nacional, tem índice de 60 pontos na Argentina, 52 no Brasil e 36 no Chile.
O Poder Judiciário e a justiça estão mal nos três países: Brasil, 13º lugar, 49 pontos; Argentina, 15º lugar, 48; Chile, 15º lugar, 30. A polícia está em segundo lugar no Chile, mas com apenas 60 pontos. Está pior no Brasil (décimo lugar, 55) e na Argentina (14º lugar, 52).
Bancos não gozam de muita confiança em nenhum dos três países: oitavo lugar, 57 pontos, no Brasil; 13º lugar, 56 pontos, na Argentina, e nono lugar, 48 pontos, no Chile. Empresas são mais bem avaliadas, mas também não estão com índices altos: sexto lugar, 59 pontos, no Brasil; 11º, 58, na Argentina, e sétimo, 49, no Chile.
Quando se fala em reforma eleitoral no Brasil e no Chile, é interessante ver como se situa, no ICS, o item eleições/sistema eleitoral nos três países. É quinto lugar na Argentina, com 65 pontos; 11º no Brasil, com 52; e oitavo no Chile, com 49.
No Chile, embora bem colocados (quinto lugar), os meios de comunicação têm a pior avaliação: 51. No Brasil ocupam o quarto lugar, com 65, e na Argentina o sétimo, com 61.
Sindicatos são mal avaliados nos três países: 35 pontos na Argentina (18º), 44 no Brasil (15º) e 47 no Chile (11º). As igrejas são fortes no Brasil (segundo lugar, 72 pontos), mas não têm o mesmo índice de confiança na Argentina (60, em oitavo) e no Chile (44, em 12º).
As forças armadas, com alto índice de confiança no Brasil (terceiro lugar, 72 pontos) não estão tão bem no Chile, embora em boa colocação (quarto lugar, 56) nem na Argentina (12º, 57).
A desconfiança mais forte, porém, é com os parlamentos e com os partidos políticos:
Congresso: 17º no Brasil (35 pontos) e no Chile (23) e 16º na Argentina (48 pontos).
Partidos: 18º no Brasil (28 pontos) e no Chile (17) e 17º na Argentina (41).
Como se vê, o Congresso e os partidos vão mal nos três países, mas estão em melhor situação na Argentina. Onde, aliás, houve aumento de confiança em todas as 18 instituições públicas avaliadas, em relação a 2010. No Brasil, houve queda de confiança em 14 das 18. No Chile, a pesquisa foi realizada pela primeira vez.
Notas finais no Índice de Confiança Social: Argentina, 64; Brasil, 58; Chile, 51.
Esses números, obviamente, não dizem tudo, até porque o nível de exigência da população de cada país pode ser diferente. Mas são significativos e realmente refletem um contexto: as coisas não estão tão mal na Argentina como nos dizem. Não é à toa que a reeleição da presidente Cristina Kirchner é praticamente certa.
Mais vitórias argentinas
O Ibope avaliou também o índice de confiança em quatro grupos sociais: família, amigos, vizinhos e cidadãos do país. Os índices argentinos são os mais altos, os brasileiros são os mais baixos:
Argentina Brasil Chile
Família 96 90 95
Amigos 88 68 79
Vizinhos 76 59 63
Cidadãos do país 74 60 60
Porto Rico
O Ibope Inteligência fez sua pesquisa também em Porto Rico, que não é uma nação independente, mas um país associado aos Estados Unidos e submetido ao governo de Washington. Mesmo assim, não há muitas diferenças em relação ao Cone Sul: os bombeiros estão em primeiro lugar, com 83 pontos. Nas quatro últimas colocações estão: governo federal (40), governador local (26), congresso (25) e partidos políticos (21). A nota geral foi 54, superior à do Chile.
As escolas públicas e o sistema de saúde na Argentina estão mais bem avaliados do que os da possessão estadunidense. Em Porto Rico, escolas públicas têm 60 pontos e o sistema público de saúde apenas 46 pontos.
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