As 35 prisões da PF já ameaçam o chefe da PF
Dilmaficou possessa com o ministro da Justia, Jos Eduardo Cardozo, que no lhe contou a dimenso exata da Operao Voucher
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247 – Eram pouco mais de 8h da terça-feira 9, quando o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, chegou ao Palácio do Planalto para relatar à presidente Dilma Rousseff o que aconteceria logo depois: a primeira megaoperação da Polícia Federal em seu governo, que acabou prendendo 35 pessoas ligadas ao Ministério do Turismo, incluindo o secretário-executivo da pasta. “Não sou eu quem vai agora brecar a trabalho da Polícia Federal”, teria dito Dilma ao ministro.
Com o sinal verde, começaram a ser cumpridas as ordens de prisão e logo depois o Palácio do Planalto teve a dimensão do estrago: uma crise política com o principal partido da base aliada, o PMDB. Mais grave do que isso: uma operação, que como muitas outras conduzidas pela Polícia Federal nos últimos anos, corre o risco de não ficar de pé por muito tempo. A sensação generalizada, em Brasília, é de que a Operação Voucher reabriu a temporada de uso da “polícia política” – algo que se disseminou no governo Lula e que parecia enterrado no governo Dilma, com a chegada de José Eduardo Cardozo.
A própria dimensão dos desvios parece ser “café pequeno” para o padrão recente da corrupção no Brasil: R$ 3 milhões, num convênio de R$ 4 milhões, que levaram à prisão de 35 pessoas. Muitas deles não teriam a menor relação com o caso, como parece ser o caso do ex-deputado federal Colbert Martins, do PMDB da Bahia. “Palhaçada”, definiu o também deputado Jânio Natal ao Bahia 247. “É muito sensacionalismo. Como um cara que acaba de assumir pode ser preso?”
Outro efeito colateral importante foi o estilhaço na campanha da senadora Marta Suplicy, ex-ministra do Turismo, à prefeitura de São Paulo, uma vez que seu ex-assessor Mário Moyses foi preso.
Discurso padrão
Como sempre, repetiu-se o discurso padrão do governo em operações do tipo. Porta-vozes da Polícia Federal falaram em “provas robustas” e a ministra da Articulação Política, Ideli Salvatti, falou em “PF republicana”, que não protege nem persegue, citando uma expressão criada pelo ex-ministro Marcio Thomaz Bastos – este sim o grande articulador da polícia política da era Lula. Ideli disse até que operação da PF não se discute, “cumpre-se”, esquecendo-se de mencionar que poucas do passado recente ainda estão de pé.
Dilma, no entanto, sabe no seu íntimo que o tiro disparado pela Polícia Federal foi inconsistente. Ganhou mais uma crise política desnecessária, potencialmente mais perigosa do que a do PR, e talvez tenha que tolerar por mais tempo o ministro Pedro Novais, a quem só recebeu uma única vez.
Paradoxalmente, a Operação Voucher pode ter fortalecido o ministro do Turismo.
Leia, abaixo, reportagem anterior do 247 em que lideranças do PT e do PMDB denunciam abusos na Operação Voucher:
PT e PMDB, enfim, unidos. Contra a PF
O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), acusou que houve abuso de poder pelo Judiciário e pelo Ministério Público (MP) na operação no Ministério do Turismo que resultou na prisão de 38 pessoas, incluindo o "número dois" na hierarquia, o secretário-executivo, Frederico Costa.
O mesmo tom foi usado pelo líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN). "Está caracterizado abuso de poder. Ninguém tem conhecimento de dolo, de irregularidades", disse. "Todos estão surpreendidos pela virulência da operação", afirmou Alves.
Vaccarezza, Alves e líderes da base saíram em defesa do ex-deputado Coubert Martins (PMDB-BA), atualmente secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo do Ministério, um dos presos na operação. Eles argumentaram que ele está há apenas dois meses no Ministério e não pode ser preso sem nenhuma explicação por conta de convênios que estão em funcionamento desde 2009. "Essa decisão da Justiça é absurda e muito estranha. É preocupante a forma como foi feita (a decisão pela prisão), tudo por um juiz de primeira instância", disse o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO).
Vaccarezza também afirmou que o petista Mário Moysés, ex-secretário executivo do Ministério e um dos presos na operação, é uma pessoa séria. "Eles (as pessoas acusadas) devem ser chamados para depor e não começar com a prisão, mesmo que a prisão não seja uma condenação. Houve abuso de poder do Judiciário e do Ministério Público", reclamou o líder.
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