Ao fazer ‘toma lá da cá’ com Congresso, Bolsonaro comete quase um ‘estelionato eleitoral’, diz professora
Segundo a cientista política e professora da UFSCar Maria do Socorro Sousa Braga, Jair Bolsonaro "terá maiores dificuldades e ficará refém do Congresso. Porque o Congresso hoje tem condições de mostrar para a sociedade que ele é capaz de garantir a governabilidade"
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Rede Brasil Atual - Até o final deste ano, o governo Jair Bolsonaro deve liberar cerca de R$ 1,2 bilhão em emendas aos parlamentares para garantir vitória em votações no Congresso Nacional. De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, desta terça-feira (3), deputados e senadores foram informados que o governo prometeu uma execução semanal de R$ 300 milhões. O compromisso com a liberação foi firmado ainda no primeiro semestre do ano como moeda de troca para apoio às medidas do Executivo.
Agora, o governo espera aprovar até o dia 17 o orçamento para 2020, e pretende destravar essa pauta com a execução de emendas que já foram anunciadas aos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), respectivamente, e ao líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO).
Na prática, Bolsonaro repete o “toma lá, dá cá”, que ficou caracterizado também no processo de aprovação da “reforma” da Previdência, quando recursos do programa Mais Médicos foram desviados para a compra de apoio, como analisa a cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Maria do Socorro Sousa Braga em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual.
“Ele (Bolsonaro) acabou, digamos assim, cometendo quase que um estelionato eleitoral para o eleitorado, porque ele se vendeu praticamente durante a campanha dizendo que não ia fazer o que chamou de ‘jogo das velhas raposas’, dos partidos que a gente começa a considerar tradicionais”, ressalta Maria do Socorro. “Ele se elege falando que não ia entrar pela velha política, não ia ficar nessas negociações a varejo e ele não tem como não fazer isso, porque é um governo de minoria e governo de minoria vai ter que negociar cada pleito porque não tem aquela base parlamentar que ele devia ter trabalhado desde o começo do governo.”
“Ele terá maiores dificuldades e ficará refém do Congresso. Porque o Congresso hoje tem condições de mostrar para a sociedade que ele é capaz de garantir a governabilidade. Não é pensar que o Congresso está negociando questões particulares, claro que tem uma continuidade dessa política, de negociar e fazer essa barganha, mas tem uma outra parte do Congresso que está mostrando também para o Executivo que não concorda com a sua pauta, com os seus projetos de lei”, avalia a docente.
Perto das eleições municipais que ocorrem em 2020, os parlamentares aproveitam das emendas para utilizá-las no fortalecimento de suas bases eleitorais. Por enquanto, se as regras legislativas forem mantidas, o novo partido do presidente seguirá fora da disputa A cientista política destaca que o cenário é “complicado para a família Bolsonaro”, que nesta semana teve já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), suspenso pela direção do seu partido.
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