Amorim: Trump quer OEA e BID como instrumentos de ‘dominação direta’ na América Latina

Segundo o ex-chanceler Celso Amorim, destacou a intenção do governo Donald Trump, aliado de Jair Bolsonaro, em apresentar um candidato, Mauricio Claver-Carone, para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o que não acontece há seis décadas. Ex-ministro avalia que a intenção da candidatura é uma tentativa de dominar países da América Latina

Celso Amorim
Celso Amorim (Foto: 247)


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Por Eduardo Maretti, da RBA - A queda do jurista brasileiro Paulo Abrão do cargo de secretário-geral da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA se insere num cenário em que os Estados Unidos de Donald Trump querem utilizar todos os instrumentos e organizações para exercer uma dominação mais direta sobre a América Latina. O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim inclui, nesse quadro, a intenção norte-americana de apresentar um candidato, Mauricio Claver-Carone, para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o que não acontece há seis décadas, desde que o órgão foi criado.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luis Almagro, vetou a recondução do jurista brasileiro Paulo Abrão a um novo mandato no cargo de secretário-geral da CIDH, alegando que ele é objeto de “dezenas” de denúncias. A motivação é contestada.

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Junto com os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e outras lideranças, Amorim assinou uma declaração do Grupo de Puebla (link ao final da matéria), que rechaça a derrubada de Abrão e classifica a decisão como “intervenção arbitrária do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, ignorando a decisão adotada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em janeiro de 2020”, quando a CIDH ratificou Paulo Abrão como secretário-geral. Os ex-presidentes da Colômbia (Ernesto Samper) e Equador (Rafael Correa) também assinam a declaração.

Pretensões de domínio

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Para Amorim, tanto o episódio com Abrão na CIDH como a indicação,  por Donald Trump, de Claver-Carone para o BID fazem parte da mesma estratégia. Antes da pandemia de coronavírus, a ex-presidenta costa-riquenha Laura Chinchila era considerada favorita.

“Almagro não tomaria uma atitude dessas (contra Paulo Abrão) sem consultar o governo brasileiro, que aliás não fez nenhum movimento para defendê-lo, se é que não fez alguma coisa para contribuir para a queda dele”, diz o ex-chanceler. “Provavelmente o governo brasileiro é conivente diretamente. Mas não me surpreende. Almagro está nas mãos, não diria só dos Estados Unidos, mas do Trump.”

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A subordinação de Almagro, que foi ministro das Relações Exteriores do Uruguai no governo de Pepe Mujica (2010-2015), é surpreendente, na opinião de Amorim. “É uma coisa que deixa a gente surpreso e pasmo.” Sob Almagro, a Organização dos Estados Americanos produziu um relatório para legitimar o “golpe” contra o presidente deposto da Bolívia, Evo Morales.

Sombra chinesa

Amorim classifica a decisão de Trump de indicar um norte-americano para presidir o BID como “muito grave”. “Depois de 60 anos, pela primeira vez, eles indicam um cidadão dos Estados Unidos. Sempre foi um latino-americano. E não é qualquer americano. Claver-Carone faz parte do lobby anti-Cuba e defende ações duras contra a Venezuela. O objetivo do Trump em colocá-lo lá é ele ter o mesmo papel do Almagro, como por exemplo facilitar mudanças de regime, afastar aquilo que atrapalhe.”

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A intenção de Trump faz parte da estratégia de fazer frente à crescente expansão econômica e geopolítica da China. A Europa não é a favor da solução do presidente americano para o BID (leia declaração abaixo)

A esperança do nome americano não vingar é que uma reunião seja realizada após as eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro, com os representantes se manifestando presencial, e não remotamente.

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“Os únicos países grandes que apoiam Claver-Carone são Brasil e Colômbia, uma coisa vergonhosa”, diz Amorim. O postulante é norte-americano de ascendência cubana.

Como mostra reportagem do jornal El País de julho, cinco ex-presidentes latino-americanos vêm criticando a quebra da tradição de 60 anos do BID ser chefiado por um latino-americano. Para Fernando Henrique Cardoso, Juan Manuel Santos (Colômbia), Ricardo Lagos (Chile), Julio María Sanguinetti (Uruguai) e o mexicano Ernesto Zedillo, a atitude de Trump significa “nova agressão do governo dos Estados Unidos ao sistema multilateral”, segundo o diário.

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A ideia de Trump para o BID foi alvo de uma declaração conjunta dos presidentes dos parlamentos regionais. No documento, os grupos latino-americanos afirmam que a indicação de um candidato americano à presidência do órgão “rompe com o consenso histórico e a regra habitual”.

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