A cabeça coroada de Kassab

Prefeito monta legenda Kombi para carregar a direita, assanha correligionários e consegue trégua de críticas à sua administração



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A administração Gilberto Kassab em São Paulo é abaixo da crítica, mas a política pessoal que o prefeito desenvolve é nota 10. Mesmo vendo o lixo acumular-se, todos os dias, pelas esquinas, em razão do arcaico sistema de coleta, as enchentes inéditas, resultantes muitas vezes da falta de investimentos em prevenção, ter reduzido as verbas para as creches e se assustado com a multiplicação de buracos e crateras no meio das ruas, o prefeito encontrou tempo para montar seu próprio partido político, o PDB – Partido da Democracia Brasileira.

Ok, a nova agremiação, destinada a carregar Kassab ao governo de São Paulo, em 2014, e fazer do cacique de olhos azuis um peso-pesado no jogo de influências da política nacional, ainda não saiu do papel. Já há aderentes que estão recuando e, ao que se vê, ela ainda não terá condições de arregimentar a maioria do DEM e, assim, fechar o caixão da velha legenda liberal. Porém, nascida da cabeça de um prefeito que administrativamente não consegue mostrar ao que veio – e já lá se foram cinco anos de poder, com Kassab iniciando o sexto ano no próximo dia 31 de março, 47º aniversário, diga-se, do golpe de 1964 -, há de se convir que ele está fazendo um barulho e tanto.

Apenas com a menção velada de criar uma legenda kombi para a centro-direita – numa comparação com o MDB que era o partido ônibus, no dizer de Fernando Henrique Cardoso, dos anos 70 --, Kassab provocou um alvoroço que está repercutindo na mídia, sem exceção, todos os dias nos últimos 30 dias. Um feito considerável, a altura de quem sempre foi elogiado por seus pares como um ótimo político de bastidores. Para se ter uma ideia do estrago que ele pode fazer em outras agremiações, Kassab poderá ter na janelinha de seu meio de transporte o vice-governador Guilherme Afif Domingos, do qual já foi faz tudo na campanha presidencial de 1989. Além dele, a legenda está atraindo prefeitos do interior paulistas, deputados estaduais e federais.

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Os números projetados para as adesões já foram mais otimistas, mas o plano é em tudo válido: ao sair do anódino DEM, ele parece querer levar sua kombi para a direção do PSB chefiado pelo governador Eduardo Campos, de Pernambuco. Só de embicar a perua para aqueles lados, o prefeito já provocou justificada reação da ex-prefeita Luiza Erundina (e deputada federal mais votada do PSB paulista), que ameaçou sair da legenda. E tudo isso sem que Kassab tivesse feito uma só declaração admitindo a articulação. Ficou calado em público, agiu no bastidor e, se quiser, pode deixar esse não dito pelo não dito mesmo, permanecer no DEM e fingir que nada foi com ele. Nesse meio tempo, ganhou uma trégua nas críticas em relação às muitas falhas da sua administração, passou a ocupar as manchetes do nobre noticiário político e, sem dúvida, demonstrou perspicácia. Uma grande jogada de um grande jogador.

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