Como os brasileiros têm se alimentado com a inflação em alta
A crescente inflação que atingiu o mundo inteiro trouxe sérios problemas alimentares para o Brasil. A seguir, falaremos mais sobre o tema!
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Existem inúmeros motivos que justificam a crescente alta nos preços da cesta básica no Brasil. Contudo, o resultado é apenas um: o brasileiro está comendo menos e pior.
De acordo com fontes, a inflação no preço dos alimentos acumulada dos últimos 12 meses ultrapassa 11,75%. Isso reflete diretamente no tipo de alimento consumido pelas classes menos favorecidas, fazendo com que elas optem por comer alimentos ultraprocessados em detrimento dos naturais.
No texto de hoje, iremos falar um pouco mais sobre a inflação e como ela está impactando diretamente o preço dos alimentos e a forma como os mais pobres estão se alimentando. Portanto, para conhecer mais sobre o tema, continue lendo e saiba mais.
Impacto da inflação no consumo de alimentos ultraprocessados
Estudos realizados pelo Nupens/USP indicam um crescimento superior a 60% no consumo de alimentos ultraprocessados por parte das famílias mais pobres desde que se iniciou a crise econômica no país ao longo do governo Temer.
Mesmo com a retração na inflação, as pessoas continuam se alimentando desse tipo de alimento.
Assim sendo, existem inúmeros fatores que podem explicar esse consumo exacerbado pela como a pandemia de covid e o aumento no preço dos alimentos, falta de políticas públicas voltadas à nutrição, etc
Isso se torna ainda mais latente quando tratamos da população carente, uma vez que a inflação os obrigou a trocar a comida saudável (que ficou muito mais cara) pela comida ultraprocessada.
Para exemplificar, um pacote de macarrão instantâneo custa em média R$2,00. Por outro lado, um simples maço de alface está custando algo em torno de R$4,00. Sendo assim, existe uma clara e gigantesca diferença entre os dois tipos de alimentos.
Comparações entre as diferentes classes sociais
O estudo feito pelos pesquisadores se deu a partir de grupos com cinco pessoas de diferentes faixas de renda. Dessa forma, engloba tanto pessoas mais pobres quanto as mais ricas.
No grupo de pessoas mais pobres foi possível observar um crescimento significativo no consumo dos alimentos ultraprocessados, devido à falta de recursos para comprar alimentos in natura.
Já as classes mais favorecidas podem se dar ao luxo de consumir apenas alimentos saudáveis e naturais, ainda que o preço tenha subido de forma significativa.
Essa diferença social é tão acentuada que além de consumir apenas alimentos naturais, os mais ricos ainda fazem uso de suplementos alimentares, como a Coenzima Q10, para incrementar a sua dieta.
Crescimento da insegurança alimentar
Conforme informações divulgadas pela Vigisan, cerca de 120 milhões de brasileiros são obrigados a conviver com a insegurança alimentar.
Nesse número, estão incluídas pessoas que consomem apenas produtos processados, bem como aquelas que consomem apenas esporadicamente.
Isso acontece justamente porque esses alimentos são substâncias derivadas, o que acaba reduzindo o seu preço, porém, trazendo uma série de riscos, devido ao excesso de aditivos químicos, açúcares e gorduras.
Devido à pressões por parte da indústria, o nosso país não reconhece que o consumo de alimentos ultraprocessados aumentou e isso traz uma segurança alimentar gigantesca.
Dessa forma, a falta de informação e a negação por parte do governo faz com que o problema se torne ainda pior. Para ilustrar melhor, basta retornar um pouco enquanto o país ainda enfrentava a pandemia de covid-19.
Nesse período, eram doadas milhares de cestas básicas para as populações menos favorecidas. Contudo, a maioria dos alimentos presentes nessa cesta eram industrializados e ultraprocessados.
A priori, eles podem saciar a fome, no entanto, não garantem uma alimentação saudável e tampouco qualidade de vida.
Perda da vida saudável em face da inflação
Em entrevista, a agricultora Ariana Pereira relembra dos tempos de fartura no semiárido baiano. Nessa época, ela criava os seus filhos com uma alimentação que se assemelhava àquela da sua infância.
A maioria dos alimentos consumidos era proveniente das lavouras e do próprio criadouro de animais. Porém, a estiagem fez com que isso não fosse mais possível.
De acordo com Ariane, tanto os desmatamentos quanto à falta de chuva fizeram com que os córregos deixassem de existir e os volumes dos seus reduzissem de forma drástica. Assim, a agricultura local restou completamente prejudicada.
Dessa forma, a agricultora relembra que a sua única fonte de renda é o Bolsa Família, conhecido atualmente como Renda Brasil. Porém, a alta nos preços fez com que essa pequena fonte de renda se tornasse insuficiente para manutenção das necessidades básicas de casa.
Ariana e os seus três filhos são obrigados a sobreviver consumindo apenas alimentos ultraprocessados, pois é mais simples e barato. Nem mesmo o cartão de crédito é suficiente para garantir uma alimentação adequada para a família.
Ela lamenta a necessidade de trocar a alimentação saudável por esses alimentos.
Alguns exemplos de trocas que ela foi obrigada a fazer foi a substituição da rapadura pelo açúcar refinado, o peixe pelo fiambre e a carne pela salsicha. Dessa forma, o seu corpo reagiu com diversos tipos de alergias e outros problemas de saúde causados pela má alimentação.
Produção recorde no agronegócio x segurança alimentar
A professora da UERJ, Juliana Casemiro, ressalta que o recorde de produção no agronegócio não está diretamente relacionado com a segurança alimentar enfrentada por milhares de famílias em todo o país.
Isso porque essa área foi uma das que registrou maior crescimento nos anos de 2020, 2021 e 2022. Contudo, a população brasileira continua a sofrer com a inflação e o aumento nos preços dos insumos básicos. Então por que isso acontece?
A resposta para essa pergunta é bastante simples: praticamente tudo o que é produzido dentro do país é exportado para o exterior, fazendo com que os preços praticados no Brasil continuem a crescer.
Em outras palavras, não ficamos com quase nada do que as empresas produzem no país. Esses insumos são vendidos para fora, o que faz com que os preços não sejam reduzidos.
Somado a isso, temos ainda o crescimento exponencial da produção de alimentos industrializados que pouco a pouco estão substituindo os alimentos naturais nas prateleiras do mercado.
Com isso, a ausência de recursos e o preço baixo desses alimentos fazem com que as classes mais pobres sejam praticamente obrigadas a adquiri-los em detrimento dos alimentos naturais.
Esse movimento deu início a um processo conhecido como Sindemia Global. Essa sindemia está relacionada principalmente com a forma de consumir, produzir e comercializar os produtos na atualidade.
Assim, em poucos anos seguindo esse ritmo, teremos uma população obesa, com grave carência nutricional e cheia de problemas de saúde.
Alimentos saudáveis e a segurança alimentar
A segurança alimentar é um conceito bastante amplo e envolve inúmeros fatores, como é o caso do acesso à comida sem agrotóxico totalmente natural, bem como a capacidade de adquirir alimentos provenientes da cultura local e vários outros conceitos.
No Nordeste, a deficiência é ainda mais acentuada. Isso porque nos últimos anos, houve um aumento significativo no desmonte das políticas públicas voltadas às famílias carentes que vivem da agricultura familiar.
Para se ter uma ideia, de 2010 a 2016, foram entregues mais de 4.000 cisternas para famílias carentes. Porém, esse número caiu mais da metade de 2017 a 2020.
Dessa forma, acabou trazendo diversas dificuldades para quem sobrevive da cultura familiar no alto sertão e em regiões semiáridas. Além disso, a falta de tecnologia de cultivo e plantio também refletiu diretamente na segurança alimentar dessas populações.
O Ministério da Cidadania divulgou dados sobre a entrega de tecnologias, como o sistema de proteção pfsense, que podem ajudar as escolas das comunidades carentes. Até 2014, mais de 42 mil foram entregues. No entanto, de 2009 a 2022, apenas 5.000 chegaram às comunidades das pessoas carentes.
Políticas públicas voltadas à redução da insegurança alimentar
Como forma de amenizar a insegurança alimentar em comunidades carentes, foi criado o plano Alimenta Brasil. Ele tem como objetivo comprar produtos provenientes da agricultura Familiar e reverter em doações para populações que estão em situação de vulnerabilidade.
De acordo com o Ministério da Cidadania, 30% de todo o orçamento da merenda é destinado a compra de alimentos da agricultura familiar. Sendo assim, os pequenos agricultores conseguem obter um alívio financeiro que traz benefícios para toda a comunidade.
Porém, como era de se esperar, nem tudo sai como planejado. Pois, existe atualmente em tramitação no Congresso Nacional projetos de lei voltados a criação de cotas para empreendedores do agronegócio.
Em termos simples, uma parcela do valor que é destinado a adquirir produtos provenientes da agricultura Familiar será usado para comprar alimentos advindos do agronegócio.
Isso traz sérios prejuízos não só para os pequenos agricultores, mas também para toda a comunidade que depende desse dinheiro.
Portanto, é importante ficar atento e fiscalizar como os gestores públicos estão tratando o problema da inflação e da insegurança alimentar em nosso país, cobrando uma atitude sempre que necessário.
É importante destacar que todo poder emana do povo.
Logo, somente nós podemos reverter essa situação e cobrar dos responsáveis uma mudança não apenas nos preços dos produtos, mas em toda a indústria de alimentos ultraprocessados e na forma como são empurrados para as populações carentes!
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