Viver para o currículo... Ou para o elogio fúnebre?

(Foto: Gisele Federicce)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

continua após o anúncio

 

 

continua após o anúncio


Dentro de cada um de nós há dois egos, sugere David Brooks nesta curta palestra meditativa: o ego que almeja pelo sucesso, que constrói um currículo, e o ego que busca conexão, comunidade, amor, os valores que compões um grande elogio fúnebre. (Joseph Soloveitchik chamou esses egos de "Adam I" e "Adam II".) Brooks pergunta: será que conseguimos equilibrar esses dois egos?

 

continua após o anúncio

Vídeo: TED março 2014 – Ideas Worth Spreading

Tradução: Gustavo Rocha. Revisão: Leonardo Silva

continua após o anúncio

 

David Brooks, colunista do New York Times é autor de “Bobos in Paradise,” “On Paradise Drive,” e também da narrativa de neurociência"The Social Animal: The Hidden Sources of Love, Character and Achievement." 

continua após o anúncio

 

Vídeo:

continua após o anúncio

 

continua após o anúncio

 

Tradução integral da palestra de David Brooks:

 

Eu estive pensando na diferença entre as virtudes do currículo e as virtudes do elogio fúnebre. As virtudes do currículo são as que colocamos no currículo, que são as habilidades que levamos ao mercado. As virtudes do elogio fúnebre são aquelas que são mencionadas no elogio fúnebre, que são mais profundas: quem somos em profundidade, qual é a natureza de seus relacionamentos, somos audaciosos, carinhosos, dependentes, consistentes? E a maioria de nós, eu inclusive, diria que as virtudes do elogio fúnebre são as virtudes mais importantes. Mas pelo menos para mim, será que é nelas que penso na maior parte do tempo? E a resposta é não.

Estive pensando nesse problema, e um pensador que me ajudou nisso foi Joseph Soloveitchik, um rabino, que escreveu um livro chamado "The Lonely Man Of Faith", em 1965. Soloveitchik disse que há dois lados de nossas naturezas, os quais chamou de Adam I e Adam II. Adam I é o lado mundano, ambicioso e externo de nossa natureza. Ele quer construir, criar, criar empresas, criar inovação. Adam II é o lado humilde de nossa natureza. Adam II não quer só fazer o bem, mas ser bom, viver internamente de modo a honrar a Deus, à criação e a nossas possibilidades. Adam I quer conquistar o mundo. Adam II quer ouvir um chamado e obedecer o mundo. Adam II saboreia conquistas. Adam II saboreia consistência interna e força. Adam I pergunta como as coisas funcionam. Adam II pergunta por que estamos aqui. O lema de Adam I é "sucesso". O lema de Adam II é "amor, redenção e retorno".

 

David Brooks e a capa da edição norte-americana de seu livro O animal social.

 

Soloveitchik argumentou que esses dois lados de nossa natureza estão em guerra entre si. Vivemos num perpétuo auto-confronto entre o sucesso externo e o valor interno. E o mais curioso, eu diria, nesses lados da natureza é que trabalham por lógicas diferentes. A lógica externa é uma lógica econômica: uma entrada gera uma saída, o risco leva à recompensa. O lado interno de nossa natureza é uma lógica moral e muitas vezes uma lógica inversa. É preciso dar para receber. É preciso se render a algo externo para ganhar força interna. É preciso conquistar o desejo para conseguir o que se quer. Para completar-se é preciso se esquecer. Para encontrar-se é preciso se perder.

Acontece que vivemos numa sociedade que favorece Adam I, e muitas vezes negligencia Adam II. E o problema é que isso nos torna animais astutos, que consideram a vida um jogo, e nos tornamos criaturas frias e calculistas, que caem num tipo de mediocridade onde percebemos que há uma diferença entre seu eu desejado e seu eu verdadeiro. Não estamos merecendo o elogio fúnebre que queremos que alguém nos faça. Não temos a profundidade da convicção. Não temos uma sonoridade emocional. Não temos compromisso com tarefas que precisariam de mais de uma vida para nos comprometermos.

 

 

Lembraram-me de uma resposta comum, através da história, de como construir um Adam II sólido, como construir profundidade de caráter. Pela história, as pessoas voltaram em seus próprios passados, às vezes para uma época preciosa em suas vidas, para sua infância, e, muitas vezes, a mente gravita no passado em um momento de vergonha, um pecado cometido, um ato de egoísmo, um ato de omissão, de superficialidade, o pecado da raiva, o pecado da pena de si mesmo, tentar agradar todo mundo, uma falta de coragem. Adam I se constrói trabalhando nossas forças. Adam II se constrói lutando contra nossas fraquezas. Entramos em nós mesmos, encontramos o pecado cometido repetidamente em nossas vidas, nosso pecado específico, do qual os outros emergem, e lutamos contra esse pecado e combatemos esse pecado, e dessa luta, desse sofrimento, assim uma profundidade de caráter se constrói. E normalmente não nos ensinam a reconhecer o pecado dentro de nós, não somos ensinados nesta cultura a como combatê-lo, como confrontá-lo e como enfrentá-lo. Vivemos numa cultura com a mentalidade de Adam I, em que não nos pronunciamos sobre Adam II.

Finalmente, Reinhold Niebuhr resumiu o confronto, a vida vivida completamente com Adam I e Adam II, assim: "Nada que vale a pena fazer pode ser alcançado durante a vida; portanto, precisamos nos salvar pela esperança. Nada que é verdadeiro, bonito ou bom tem sentido completo em qualquer contexto histórico imediato; portanto, precisamos nos salvar pela fé. Nada que fazemos, por mais virtuoso, pode ser realizado sozinho; portanto, precisamos nos salvar pelo amor. Nenhum ato virtuoso é tão virtuoso do ponto de vista de nosso amigo ou inimigo como de nosso próprio ponto de vista. Portanto, precisamos nos salvar pela forma final do amor, que é o perdão."

Obrigado.

 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247