Um novo palácio em Paris

Como o designer Philippe Starck reconstruiu o Le Royal Monceau e que lições isso traz para o Brasil



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Um novo capítulo na história da hotelaria francesa está sendo iniciado. Ele está representado pela abertura do Hotel Le Royal Monceau Raffles, em Paris, no último outubro. Este antigo palácio que já foi ponto de encontro e recebeu hóspedes ilustríssimos como Coco Chanel , Ernest Hemingway e Ray Charles, fechou suas portas por dois anos para total renovação, após uma “destruction-party” para a qual apenas as figurinhas carimbadas da alta sociedade parisiense e do jet set internacional foram convidadas.

Para a completa repaginação de seus ambientes, o fundo soberano Qatari Diar, proprietário do Palais Royal Monceau , entregou a tarefa ao uber designer francês Philippe Starck. Apesar de sua vasta experiência no mundo hoteleiro, o grande desafio aqui foi o de desenhar não sobre uma página em branco, mas sobre um local cheio de história. E o resultado é um gênero inédito em Paris, confluência entre salão parisiense e residência de artista – um palácio do século XXI e, nas palavras do próprio Starck, “um antipalácio!”.

Ao entrar no hotel não se vê o balcão da recepção, o que indica que isso é coisa do passado. À esquerda, o que se tem é uma grande escadaria rodeada por espelhos e adornada por uma profusão de candelabros de cristal, que outrora enfeitaram os grandes salões do antigo palácio. Logo à frente, um grande templo gastronômico, com mesas cobertas por toalhas em linho branco, afrescos coloridos pintados no teto e colunas com frases escritas a giz. O conjunto cria uma atmosfera elegante e, ao mesmo tempo, despretensiosa. A novidade: a cozinha, toda revestida em aço inox, é aparente e revela o segredos da cucção do chef Gabriel Grapin. À direita, o bar, predominantemente vermelho, com sua enorme mesa central, confortáveis lounges espalhados e uma clientela animada que se reúne diariamente a partir das sete da noite. Restaurante e bar, ambos se debruçam sobre o jardim criado pelo paisagista Louis Benech, que o concebeu como se fora o jardim de um jovem escritor que o herdou de sua avó. Há cadeiras gastas, bancos entalhados em madeira e também um bule gigantesco em ferro torcido, no melhor estilo Alice no País das Maravilhas. A escultura é assinada pela artista plástica portuguesa Joana Vasconcelos. Sim, há arte da melhor qualidade espalhada por tudo, além de uma loja de livros especializada em títulos de arte. Qualquer dúvida é só chamar o concièrge d’art, capaz de dar detalhes sobre as obras expostas e a frequência com que são renovadas.

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Alguém quer saber se a recessão européia bateu a essa porta? Nem passou perto. Apesar da crise econômica mundial, o Le Royal Monceau Raffles é o primeira de uma série de hotéis com abertura programada na capital francesa para os próximos 15 meses. Os novos empreendimentos aumentarão em 70% a atual oferta de quartos com diárias de 700 euros.

Para junho deste ano, o SPA Clarins e sua piscina de 25 metros inundada por luz natural - algo inédito para os padrões hoteleiros parisienses - deverão estar prontos. Ali, a sala de cinema que recebe avant-premières já funciona a todo vapor.

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Mas voltando ao nosso “antipalácio”, nele os detalhes estão até mesmo nos elevadores. Ali ouvimos trechos de poemas de Victor Hugo e entramos no nosso apartamentos, onde se tem a impressão inicial de que alguém acabou de sair. Há detalhes como lembranças de antigas viagens, pequenas anotações deixadas na cabeceira da cama e um mapa de Paris sobre a escrivaninha com anotações manuscritas. A cama é disposta no meio do quarto, jamais encostada numa parede como numa casa bourgeois. Os estilos das peças são diversos: uma luminária italiana dos anos 60, uma mesa dos anos 40, uma escrivaninha estilo Império com interferências do próprio designer. O resultado é rico, acolhedor e igualmente dramático.

Além de fotografias de diversos artistas, cada quarto possui obras diferentes. Está a disposição dos hóspedes um violão de Michael Lag Chavarria e, aos mais entusiasmados, o hotel pode providenciar estúdios portáteis que se acomodam em qualquer tipo de quarto. Nesse caso, no entanto, será necessário resolver problemas acústicos antes de estimular os hóspedes a grandes serenatas. Do jeito que está hoje, infelizmente, do nosso apartamento se podia ouvir a televisão do quarto vizinho ou o som do aspirador da arrumadeira que logo cedo se põe a trabalhar. Mas Paris vale o, digamos, sacrifício...

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Fernanda Marques, arquiteta formada pela FAU-USP, 1988, é titular do escritório Fernanda Marques Arquitetos Associados

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