Tudo a nu. A revolução do reconhecimento já chegou
No futuro próximo, a tecnologia permitirá revelar as nossas emoções e sentimentos. Mais à frente, prevê-se que também nossos pensamentos serão devassados. Como será um mundo onde a dissimulação não seja possível?
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Por: Gary Shapiro. Fonte: Jornal The Washington Post
The Hunger Games (Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1), do diretor Francis Lawrence, é o mais recente de uma longa lista de filmes cuja ação se passa num Estado totalitário e onipresente – como 1984 ou Minority Report – A Nova Lei. Existindo a capacidade de saber tudo de antemão sobre uma pessoa, o arsenal tecnológico dos tiranos do futuro se enriquecerá de maneira exponencial.
Pois bem: A curto prazo, os nossos smartphones serão capazes de reconhecer rostos ou vozes, à nossa frente ou na tela. E a identificação é apenas a mais elementar das possibilidades. Vários programadores de aplicações para sistemas móveis trabalham neste momento em programas de análise que poderão definir as emoções de uma pessoa ou avaliar o seu grau de sinceridade através do exame analítico das expressões do seu rosto.
Essa tecnologia de avaliação interpessoal – também chamada de revolução do reconhecimento - não é apenas uma ameaça: ela poderá facilitar a nossa vida. O reconhecimento facial permitirá um serviço ao cliente imediato e personalizado. Se num restaurante ou loja me reconhecerem antes de eu entrar, poderão saber com antecedência que estão prestes a receber um bom cliente e propor-me os meus pratos ou produtos favoritos.
Da mesma forma, graças aos algoritmos já existentes, milhares de expressões faciais serão associadas a emoções. Os nossos cérebros fazem isso naturalmente. Os policiais e os jogadores de pôquer vão mais longe: utilizam essas informações para avaliar a sinceridade do suspeito ou do adversário. Mas quanto mais o comportamento natural do nosso cérebro for simplificado pela tecnologia, mais dados mensuráveis e verificáveis conseguiremos produzir. Seja com sensores de atividade ou aparelhos ligados em rede, medimos mais do que nunca as funções e condições do nosso corpo. Brevemente faremos o mesmo com os sentimentos, as emoções e possivelmente, mais à frente, os pensamentos.
Atualmente, os programadores trabalham em programas que interpretarão as emoções de cada um, para em seguida enviarem os resultados, seja para aplicações de computador, seja para óculos de realidade aumentada como os “Google Classes".
A tecnologia também já consegue analisar a voz humana para determinar emoções. Neste caso, não só estimula as capacidade do cérebro como as ultrapassa. A “Moodies”, uma aplicação criada pela empresa Beyond Verbal, é capaz de detectar o estado de espírito de uma pessoa a partir da sua voz. Esta tecnologia já está sendo testada em centros de atendimento ao cliente para ajudar os operadores a saber se os seus interlocutores estão enervados e portanto predispostos a se mudarem para a concorrência.
Algumas consequências desses desenvolvimentos poderão, no entanto, revelar-se negativas. Se é possível analisar a imagem e a voz de uma pessoa através de um programa capaz de reconhecer as emoções e avaliar a boa-fé, a sociedade vai ter de se adaptar. Todos sabemos que alguns dos nossos atos quotidianos não passam de mentiras piedosas: “Muito prazer em revê-lo”, “Claro que me lembro de você” ou “Come-se muito bem naquele restaurante”. Não dizer sempre a verdade facilita as relações em sociedade.
Lenços e máscaras anti-emoções
À medida que as nossas pequenas imposturas passarem a ser reveladas, um novo mercado de tecnologias despontará, produzindo novas tecnologias que novamente nos permitirão esconder nossas emoções. Lenços e outros tipos de máscaras vão ficar na moda. Talvez venham a surgir zonas livres onde seja proibida a entrada de aparelhos de detecção de emoções, sendo essa interdição assegurada pela lei. Tal como ninguém acha normal fazer fotografias nos banheiros e mictórios públicos.
Uma coisa é certa: a vida política vai se ressentir. Quando todos os smartphones estiverem equipados com um detector virtual de mentiras, os eleitos vão ter de fazer prova de criatividade nos seus discursos...
Receio que os políticos mais inseguros ou mais poderosos consigam rapidamente regular ou limitar a utilização desse tipo de tecnologia para tentar preservar o poder das suas meias-verdades e das suas inteiras mentiras.
Estejamos ou não preparados, essas novas tecnologias brevemente serão realidade. Vão permitir avaliar os outros com um grau de precisão que nunca imaginámos possível. Quanto aos programas de reconhecimento facial, poderão ajudar os doentes de Alzheimer a se lembrar das pessoas que conheciam, dos amigos e dos seus entes queridos.
Assim, antes de começar a depreciar essas tecnologias de avaliação, temos também de ter em conta as suas inúmeras e incríveis vantagens. Se essa “revolução do reconhecimento” corresponder às expectativas, os nossos pequenos receios poderão passar rapidamente para segundo plano.
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