Toscana, uma viagem pelos sentidos
Na Villa Podere Felceto, voc colhe azeitonas, faz sua prpria comida e vive como se fosse um morador local - o Slow Movement, um novo jeito de fazer turismo e despertar sensaes
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Joaquim Castanheira_247 - Esqueça as férias superplanejadas, com roteiros e horários organizados em uma planilha eletrônica. Esqueça a correria de cidade em cidade. Esqueça a obrigação de tirar centenas de fotos e fazer dezenas de vídeos para mostrar para os amigos aquilo que nem você teve tempo de ver. Um movimento surgido na Itália na década de 80 prega uma outra forma de curtir seus momentos de lazer e descanso. Batizado de Slow Movement, seu mandamento número um é o seguinte: conheça uma cidade ou região não como turista, mas, sim, como um nativo, vivendo o dia a dia, respeitando o ritmo do local, adotando seus hábitos e participando ativamente de suas tarefas cotidianas. A regra (se existe alguma) é integrar-se à paisagem.
No coração da Toscana, uma propriedade rural, chamada Villa Podere Felceto, é legítima representante dessa tendência. A Villa funciona em uma casa do século XV, rodeada pelas planícies do Chianti Clássico cobertas de parreiras. Ao seu redor, pequenos e grandes produtores de vinhos e azeite. Os bosques preservados e os edifícios seculares remetem à história medieval.
O turista que ali se hospeda está disposto a se dar um tempo para sentar no terraço, coberto por parreiras, e observar, no fim da tarde, o pôr do sol. Ele deve dedicar tempo para sentar à mesa com outros amigos e habitantes do local e desfrutar um menu da região, preparado com suas próprias mãos e, se quiser, orientado por um chef toscano.
Para os mais dispostos, a época da colheita de azeitonas é uma experiência desafiadora. Em novembro, mesmo com o frio, pode-se ir ao campo colher as azeitonas para a produção do azeite extra-virgem orgânico da própria Villa Podere Felceto. São 1.200 pés de oliveiras na fazenda. É trabalho duro, mas, para quem se aventurar, também pode ser parte integrante da experiência de viver como um toscano.
Um dos destaques charmosos é conhecer a Festa da Debulha do Trigo, no final de julho. É uma festa em Panzano que respeita os antigos rituais da debulha do trigo com máquinas a vapor e tudo como era feito pelos antepassados. A atividade dura um dia inteiro das 7 da manhã até a noite e dela participam mais de 200 pessoas da comunidade, entre camponeses, visitantes e curiosos. O tipo de trigo colhido – o Cappelli – chega a mais de 1 metro e meio de altura e só pode ser debulhado pelas máquinas antigas.
Nessas atividades, você terá sempre a companhia da família Del Mastio, dona do local. O “clã” é formado pela brasileira Jussara Peres, pelo italiano Roberto Del Mastio e pelas duas filhas do casal, além de dois cunhados e uma cunhada de Jussara. "Criamos um ambiente em que as pessoas se sintam como convidados em nossa casa", diz Jussara. "Procuramos evitar a impessoalidade de um hotel." Inteiramente construída de pedras, a Podere Felceto abriga, simultaneamente, até 13 visitantes em suas sete suítes - Jussara e Roberto preferem alugá-la para grupos de amigos ou familiares. Além dos dormitórios, os 400 metros quadrados da casa são divididos em salas, uma ampla cozinha, salão de jogos, sala de leitura e uma varanda, de onde se pode vislumbrar as colinas da Toscana e o rio Pesa, em cujas margens despontam os ciprestes característicos da região.
As refeições podem ser feitas em longas mesas externas, situadas debaixo das parreiras que ornamentam a propriedade. A cozinha é franqueada para que os hóspedes possam preparar pratos típicos da região, como a famosa bistecca alla fiorentina.
A decoração da villa mescla elementos típicos da Toscana com peças originais de países asiáticos - uma herança das viagens semestrais que, durante 15 anos, Jussara e Roberto faziam à região à caça de mercadorias para o antiquário que mantinham em Florença anos atrás. Nas proximidades, encontram-se pequenas cidades repletas de história e charme, como Montepulciano, San Gimignano, Lucca, entre outras. Na própria Panzano in Chianti, há atrações imperdíveis, como os restaurantes de Dario Cecchini. Descendente de uma longa linhagem de açougueiros, Cecchini costuma brindar seus visitantes com cortes nobres de carne acompanhados apenas de legumes ou verduras. Não há menu. A cada dia, apenas entre quinta-feira e domingo, seu restaurante oferece duas opções de pratos. Como sobremesa, o excêntrico chef recita poemas italianos - seu preferido são passagens da Divina Comédia, de Dante Alighieri.
Jussara é uma espécie de apóstola do slow movement. Descreve o conceito com entusiasmo, convicção e um pequeno tempero de humor. “O Slow Movement nasceu na Itália como uma forma de reação ao que eu chamaria de uma espécie de obsessão pela velocidade, uma doença que se instalou no homem moderno sem que a gente se desse conta. Quando nasceu, o que hoje é um movimento surgiu especificamente como uma reação ao fast food, coisa que sempre incomodou os italianos, para quem a comida é mais do que alimento. É um prazer e uma forma de estabelecer ou reforçar laços de amizade. Estar à volta de uma mesa, demoradamente com pessoas que queremos bem, é um dos maiores prazeres que os italianos de qualquer classe social preservam. Aprendi o valor disso, quando vim para a Itália e casei com um italiano, há 30 anos. A Itália ama a comida e a forma como ela é feita e saboreada. O fast food quando surgiu com força por aqui, foi visto como uma afronta para a cultura, os produtores de alimentos e para a história do país”, diz Jussara.
O pai do Slow Movement é Carlo Petrini, um italiano da cidade de Bra, na região do Piemonte. Conhecido por seus artigos sobre culinária e por vários livros, resolveu reagir publicamente ao fast food e fundou em 1986 o Slow Food (hoje com mais de 100 mil membros ). Baseado nessa ideia, logo engrossada por outros países da Europa, surgiu uma outra iniciativa – as Slow Cities (ou Cittaslow, em italiano ou as Cidades do Bem Viver, em português), em 1999, fortemente liderada
pelo próprio Petrini e pelo então prefeito da cidade de Greve in Chianti. “Lembro-me bem de como a imprensa italiana destacou isso, e como se espalhou por outros países como França, Japão, EUA e Grécia (até onde me lembro) e aí virou um movimento: o Slow Movement”, diz Jussara. A brasileira diz que leu recentemente no site do Slow Movement que no Japão o movimento já chegou a outra atividade humana: o Slow Sex! “O Slow Movement tem como símbolo um caracol, mas a ideia não é a de substituir a doença da velocidade pela doença da lentidão, como poderia sugerir o bichinho
que carrega lentamente a casa nas costas...É só preparar o espírito para, com calma, curtir o que te dá prazer e saborear cada minuto, cada segundo desse prazer! A vida agradecerá essa tentativa”, afirma ela.
SERVIÇO:
O site Casa na Toscana dá todas as dicas sobre o local, como chegar e o que fazer.
Preços
Alta Temporada:
1-Cottage (chalé para casal) = 125 Euros/dia com café da manhã. Mínimo 5 noites;
2-Casa Principal (até 13 pessoas)= 5.200 Euros/semana, de sábado a sábado;
3- Fienile (até 5 pessoas)= 1.850 Euros/semana, de sábado a sábado;
Média Temporada:
Cottage (chalé para casal)= 120 Euros/dia com café da manhã. Mínimo 5 noites
Casa Principal (até 13 pessoas)= 4.850 Euros/semana(sábado a sábado);
Fienile (até 5 pessoas)= 1.700 Euros/semana, de sábado a sábado
Baixa Temporada:
Cottage (chalé para casal) = 110 Euros/dia com café da manhã. Mínimo 5 noites;
Casa Principal ((até 13 pessoas)= 3.200 Euros/semana (sábado a sábado);
Fienile (até 5 pessoas)= 1.300 Euros/semana, de sábado a sábado.
Joaquim Castanheira é jornalista e do-fundador do www.brasil247.com.br
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