Ter um filho: Isso põe a carreira em risco?
78% dos entrevistados de uma pesquisa da Universidade La Sapienza, de Roma, sobre as condições de trabalho das mulheres que se tornam mães nas empresas italianas, acredita que a maternidade limite a carreira. 49% chega a achar que as duas coisas são simplesmente inconciliáveis
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Por: Luis Pellegrini
Um filho ou a carreira profissional? Esta é uma pergunta que muitas mulheres na Europa e no mundo estão se fazendo. A questão é prioritária desde que, há algumas décadas, e cada vez mais, a mulher chega ao mercado de trabalho e disputa passo a passo com os homens os mesmos direitos e, sobretudo, os mesmos deveres. Uma posição igualitária que pouco se reflete na outra face da existência da mulher: a sua vida como mãe e dona de casa. Todos os dias úteis, como o homem, a mulher assina ponto de entrada e saída nos mesmos horários e, no trabalho, partilha das mesmas responsabilidades, tanto as de esforço intelectual quanto emocional e físico. Mas, no recesso do lar, onde feriado não existe, ainda toca a ela a maior parte das tarefas.
Diante dessa dura realidade, é fácil compreender por que, sobretudo nos países mais desenvolvidos, as mulheres cada vez mais procuram evitar uma das funções fundamentais da sua existência: a perpetuação da espécie. Em países como a Itália, e em vários outros da Europa, a taxa de natalidade está reduzida a cerca de 1,1 filho por mulher. A metade do que seria necessário (2,2 filhos por mulher) para simplesmente manter a população do país. A consequência imediata disso é a redução acentuada da população total. Soma-se a isso o envelhecimento exponencial dessa mesma população, e temos instalada uma situação de crise, de vácuo populacional que terá de ser preenchido por imigrantes, quase todos eles provenientes dos países pobres ou daqueles em desenvolvimento. Com todos os riscos e problemas que essa miscigenação, quando supera certos limites, acarreta.
No Brasil, as coisas são ainda piores. Existe uma carência de estatísticas abalizadas, mas um estudo da FEA-USP mostra que trabalhadoras com filhos pequenos têm em média, em nosso país, salário 27% menor que o de suas colegas sem filhos. "Apesar de todos os avanços dos últimos anos, as mulheres continuam sendo o maior objeto de preconceito nas empresas brasileiras, seguidas pelos idosos e por menores de 25 anos", disse em entrevista Hermano Roberto Thiry-Cherques, coordenador do núcleo de Ética nas Organizações da FGV-RJ.
Em outra matéria neste mesmo número de Oásis ("Quociente de inteligência") o filósofo moral James Flynn, um dos grandes especialistas mundiais em ciências cognitivas, afirma sem maiores rodeios que, no que diz respeito a funções executivas, a mulher demonstra hoje ser mais inteligente do que o homem. A boa notícia é que, provavelmente sabedoras disso, as empresas europeias assumem cada vez mais mulheres, parecendo inclusive superar o velho preconceito de que a gravidez torna a mulher trabalhadora menos eficiente. A má notícia é que, não obstante isso, as pesquisas mostram que permanece alto o preconceito contra a mulher com filhos no momento em que a corporação deve escolher a quem dar oportunidade de fazer carreira. Pior ainda, em plena Europa do século 21, com frequência mulheres são obrigadas a deixar o emprego depois do nascimento do primeiro filho.
Isso é o que emerge dos resultados preliminares de uma pesquisa desenvolvida pela Universidade La Sapienza, de Roma, que até agora entrevistou cerca de 2 mil funcionários de empresas privadas, entre homens e mulheres. A pesquisa ainda prossegue, mas os dados preliminares já obtidos são muito indicativos. 78% dos entrevistados consideram que a maternidade limite a carreira, e 49% chega a opinar que maternidade e carreira são coisas que não podem ser conciliadas. Embora no caso da Itália, nos últimos vinte anos, o número de mulheres trabalhadoras tenha crescido 22,2% (enquanto o de homens diminuiu 0,3%), as mulheres que mantêm o emprego depois de terem o primeiro filho somam apenas 59%. Em outros países europeus esse fenômeno também ocorre, embora com números menos expressivos do que a Itália. Mantêm o emprego depois da primeira gravidez 74% das alemães, 81% das suecas e 63% das espanholas.
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