Superbactérias: cresce a resistência aos antibióticos

A crescente resistência humana a antibióticos poderá fazer com que esses medicamentos não sejam mais eficazes em um futuro próximo, levando o mundo a uma era "pós-antibióticos", na qual uma simples infecção na garganta ou um arranhão podem ser fatais, diz a OMS (Organização Mundial da Saúde)

A crescente resistência humana a antibióticos poderá fazer com que esses medicamentos não sejam mais eficazes em um futuro próximo, levando o mundo a uma era "pós-antibióticos", na qual uma simples infecção na garganta ou um arranhão podem ser fatais, diz a OMS (Organização Mundial da Saúde)
A crescente resistência humana a antibióticos poderá fazer com que esses medicamentos não sejam mais eficazes em um futuro próximo, levando o mundo a uma era "pós-antibióticos", na qual uma simples infecção na garganta ou um arranhão podem ser fatais, diz a OMS (Organização Mundial da Saúde) (Foto: Gisele Federicce)


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Por: Equipe Oásis

"Uma era pós-antibióticos significa, de fato, o fim da medicina moderna como a conhecemos", disse a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, ao falar em um recente encontro de especialistas em doenças infecciosas realizado na Dinamarca. Chan alertou para o desafio que esta nova realidade representa, especialmente para os países em desenvolvimento, que são os principais afetados por essas enfermidades.

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"Muitos países estão incapacitados pela falta de infraestrutura, incluindo laboratórios, diagnósticos, confirmação de qualidade, capacidade de regulação, monitoramento e controle sobre a obtenção e a utilização de antibióticos", disse Chan. "Por exemplo, comprimidos contra malária são vendidos individualmente em mercados locais. Também há abundância de antibióticos falsos ou de baixa qualidade", afirma.

Uso excessivo

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As declarações da diretora da OMS foram feitas em um momento em que diversos grupos americanos de especialistas em doenças infecciosas publicaram um relatório no qual pedem que autoridades de saúde e políticos em todo o mundo aumentem os esforços para melhorar o uso dos antibióticos existentes e promover a investigação de novos medicamentos.

Especialistas afirmam que a atual resistência das bactérias a antibióticos é causada principalmente pelo mau uso desses remédios e que, muitas vezes, são os próprios médicos que receitam os medicamentos excessivamente.

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Segundo os autores do estudo, entre as medidas para evitar a resistência está o estabelecimento de programas que ajudem os médicos a decidir quando é necessário receitar um antibiótico e qual a melhor opção de tratamento.

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Aumenta a resistência na Europa

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Ao mesmo tempo, em Roma, no último dia 15, o Adnkronos Salute) – um dos mais importantes portais europeus para a divulgação da informação na área da saúde – alerta para o significativo aumento na Europa da resistência de algumas bactérias aos antibióticos. A Itália está entre os países do Velho Continente com os níveis mais elevados de resistência a esses medicamentos. Segundo dados publicados pelo Instituto Superior de Saúde (ISS) italiano o panorama que se descortina é muito desconfortável: no decorrer dos últimos 4 anos foi notável, por exemplo, o aumento da resistência em duas espécies de bactérias perigosas: a Escherichia coli e a Klebsiella pneumoniae. Causadoras de várias síndromes infecciosas, como infecções urinárias, sepses e outras infecções, elas agora mostram um aumento nas porcentagens de resistência às cefalosporinas de terceira geração, as fluoroquinolonas e aminoglicosídeos. Pior ainda, tais resistências muitas vezes combinam-se entre si, gerando bactérias multirresistentes que são a causa de infecções dificílimas de serem tratadas. Os últimos anos ao rol das resistências juntou-se aquela aos carbapenêmicos, antibióticos de última geração. Uma resistência que, a partir de agora, pode tornar várias infecções praticamente impossíveis de serem tratadas.

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Primeiro mapa de resistência a antibióticos

O problema está longe de ser limitado à Europa e ao Hemisfério Norte. Ele preocupa e muito os cientistas brasileiros da área da saúde. Há pouco mais de dois anos eles traçaram, na cidade de São Paulo, o primeiro mapa de resistência a um antibiótico do Brasil, e confirmaram que o abuso gera resistência, abrindo portas para orientar políticas públicas de venda e prescrição desse tipo de medicamento. O "Mapa de Probabilidade de Risco de Resistência ao Antibiótico Ciprofloxacina em Bactérias Escherichia coli" foi realizado pelo projeto Eureqa (Epidemiologia do Uso e da Resistência Bacteriana a Quimioterápicos e Antibióticos na População). O estudo foi publicado revista científica International Journal of Health Geographics.

A pesquisa identificou 4.372 infecções do trato urinário por bactéria E. coli, registradas em 2002 em dois centros de saúde da capital paulista, das quais 723 resultaram ser resistentes à ciprofloxacina. Cada caso foi georreferenciado em um mapa digital, segundo o domicílio do paciente. Esses dados e a delimitação de zonas de influência de cada ponto de venda do medicamento permitiram obter a densidade de consumo do medicamento.

Um modelo estatístico e o sistema de informação geográfica permitiram vincular a resistência ao antibiótico com a densidade de seu consumo e detectar as zonas da cidade com maiores e menores riscos de resistência. O estudo confirmou que com esse antibiótico, indicado para infecções urinárias femininas, e para essa bactéria "há um grau de consumo populacional que desencadeia o surgimento e a agregação à resistência à ciprofloxacina na cidade de São Paulo", explicaram à IPS os coordenadores do estudo.

A pesquisa "aponta com bastante certeza" que, quando um determinado antibiótico é muito consumido por uma população, os integrantes dessa comunidade em uma determinada área de consumo estão mais sujeitos a se contagiarem com bactérias resistentes. Assim, "se muitos de nossos vizinhos ou pessoas próximas estiverem usando determinado antibiótico, é possível que tenhamos uma infecção por uma bactéria mais resistente, embora não tenhamos utilizado antibióticos nos últimos tempos", acrescentaram.

"É consequência da capacidade de certos micro-organismos (por exemplo, bactérias e vírus) de neutralizar o efeito dos medicamentos, como os antibióticos. A resistência surge pela mutação do micro-organismo ou pela aquisição do gene da resistência", explica um documento da OMS. O Eureqa busca exatamente combater esse risco. Segundo a OMS, mais de 50% das receitas de antibióticos no mundo são inadequadas. Mas é um grande negócio. Somente no Brasil, a venda de antibióticos gerou em 2009 cerca de US$ 1 bilhão.

No ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) restringiu a venda de antibióticos. Desde novembro é obrigatório apresentar na farmácia receita com duas cópias, uma é devolvida ao paciente e outra fica no estabelecimento. A Anvisa tomou essa medida depois que vários focos da superbactéria KPC (Llebsiella Pneumoniae Carbapenemase), que é resistente a quase todos os antibióticos, fortam descobertos. Somente em Brasília, foram registrados 183 casos, com 18 mortes.

Sobre bactérias e antibióticos

As bactérias são os seres mais antigos da Terra, sendo possíveis encontrá-las em praticamente todos os lugares. Nem toda bactéria é responsável por algum tipo de doença danosa ao ser vivo em geral, existem pelo contrário aquelas em que a obtenção de alguns nutrientes só é possível por ação de bactérias conhecidas por comensais (comuns à nossa flora bacteriana). Vale a pena ainda ressaltar a importância de algumas que atuam na deterioração de materiais orgânicos, conhecidas por decompositoras. Não fossem elas, o mundo estaria cheio de lixo orgânico.

Sendo assim, quando uma bactéria "desconhecida" por nosso organismo o invade, há uma resposta de defesa própria, para tentar reconhecer e destruir o invasor. Porém, nem sempre isso é possível, algumas vezes não conseguimos nos defender. Por esta razão, estudiosos vieram por longos anos estudando uma maneira de auxiliar o nosso organismo a combater microrganismos que antes não conseguíamos destruir sozinhos.

Após anos de estudo, Alexander Fleming, aproximadamente no ano de 1928, descobriu uma substância capaz de neutralizar a ação das bactérias, chamada de penicilina, obtida a partir do fungo Penicillium notatum. Como a substância foi criada para agir contra bactérias, chamou-se portanto a classe desses (medicamentos) de antibióticos, sendo a penicilina considerada a "mãe" dos antibióticos.

Bactérias e doenças

Atualmente são conhecidas diversas espécies de bactérias, algumas com alto potencial patogênico, ou seja, capaz de desencadear doenças, e outras inofensivas, utilizadas inclusive na culinária. As bactérias são seres capazes de sofrer evoluções grandiosas para que possam habitar quaisquer locais hoje existentes, seja sob condições amenas ou até mesmo extremas, como é o caso das psicrófilas (seu crescimento ideal se dá em temperaturas abaixo de 15ºC) e as termófilas (seu crescimento ideal se dá entre temperatura de 50 a 60ºC, algumas resistindo até 110ºC).

A causa primária da resistência bacteriana aos antibióticos é o alto poder de mutação espontânea e de recombinação dos genes, possíveis de serem transmitidos posteriormente durante a reprodução bacteriana, de uma bactéria mutável a outra não mutável, favorecendo dessa forma o surgimento e o aumento do número dos tipos de bactérias geneticamente modificadas.

Hoje, no entanto, a principal causa da resistência bacteriana é o uso abusivo e indiscriminado dos antibióticos, seja por má indicação médica ou por automedicação, que cria um ambiente extremamente favorável ao surgimento das bactérias resistentes.

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