Solteiros e cuca fresca: Jovens norte-americanos não se casam mais
Em 1970, apenas um jovem de cada dez permanecia solteiro após os 25 anos. Agora é um de cada quatro que não apenas não se casa mas prefere continuar morando com os pais. É o que revela a última pesquisa realizada pelo Instituto Pew.
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Por: Bernardo Zucconi. Fonte: Jornal La Repubblica (Roma)
Superadas hoje as barreiras de sexo, de religião, da necessidade econômica, da respeitabilidade social, o casamento nos Estados Unidos está se tornando uma prerrogativa de classe, reservada, exatamente como nas classes dos aviões, a quem pode se permitir. A crise, agora quase o colapso, da instituição matrimonial nunca antes tão desertada como apontam os censos nacionais, assinala de maneira cada vez mais evidente os limites entre as categorias de renda, de instrução, de colocação social. Casar é um luxo que, econômica e psicologicamente, cada vez menos homens e mulheres podem se permitir. Melhor ficar solteiro, de preferência vivendo na casa dos pais, sem ter que respeitar esse tipo de “empenho”.
Desde os anos 1970, quando os matrimônios alcançaram seu índice máximo, os pesquisadores se esforçam para entender e explicar quais são as causas do esfarelamento progressivo e até o momento impossível de se conter daquele contrato civil, ou inclusive sacramento religioso que há gerações tem sido o fundamento da família humana. Cada vaga de pesquisa trouxe as suas próprias explicações, o feminismo, a independência econômica crescente das mulheres não mais obrigadas a casar para viver e para criar os filhos, a disponibilidade do sexo, a pílula, os anticoncepcionais, a frequência deprimente das falências matrimoniais com todos os seus possíveis efeitos desastrosos, econômicos e psicológicos sobre a vida dos divorciados e dos filhos deles. Mas hoje o diagnóstico que resume e concentra todos os outros sintomas está sobretudo relacionado a uma questão de classe social.
Um jovem de cada quatro permanece solteiro
Quarenta por cento das novas mamães norte-americanas que dão à luz seus bebês são solteiras, não casadas e nem sequer unidas em casais de fato. As famigeradas “mães solteiras” de ontem pouco a pouco se tornam a regra, não mais a mortificante exceção. Em 1970, menos de um jovem americano de cada dez, rapaz ou moça, não era casado após os 25 anos de idade. Hoje, um americano adulto de cada quatro não é casado e apenas uma minoria de solteiros mantém uma relação estável com uma companheira ou companheiro, enquanto a idade média atual para o primeiro casamento toca os 30 anos para os homens e os 27 anos para as mulheres. Trata-se de uma rejeição profunda do “compromisso”, do empenho recíproco que tem no contrato nupcial a sua expressão mais solene.
A última pesquisa feita pelo Instituto Pew, o mais sério e respeitado dos centros de estudos de tendências sociais, publicada a 24 de setembro último informa que a primeira coisa que uma mulher – sobretudo as latinas e as afroamericanas – deseja num homem para se casar com ele é um emprego ou ocupação estável. Ante a possibilidade de se unir a um homem que traga para dentro de casa problemas, incertezas, frustrações e possível violência, uma maioria esmagadora de mulheres prefere assumir sozinhas a responsabilidade de ter filhos e criar uma família.
Somente para a cerimônia nupcial, a festa e a viagem de núpcias, um casamento hoje custa em média 30 mil dólares (70 mil reais). Esta é a renda média anual de um trabalhador norte-americano não qualificado. Uma soma que volta a ser importante para além daquela barreira de crédito que assinala a passagem para a classe média baixa. Quem ganha mais de 100 mil dólares brutos ao ano e possui pelo menos um diploma universitário se esposa com frequência redobrada em relação aos que vivem à beira da pobreza.
O matrimônio ainda é popular exatamente nas categorias sociais onde a evolução cultural e individual das mulheres fez-se mais real, e portanto onde a sagrada instituição do casamento deveria se ressentir do ceticismo típico desta geração.
Como ressuscitar a família tradicional?
Mas se hoje é coisa superada a condenação das mães solteiras por parte das “pessoas de bem”, uma outra condenação, de fato ainda mais cruel, permanece à espera delas e dos seus filhos: a pobreza. Nenhum programa público, nenhuma distribuição de ajuda e de fundos, conseguiu evitar a marginalização dessas mulheres e de seus filhos. Os conservadores, como Marco Rubio, potencial candidato republicano à Casa Branca em 2016, gostam de citar uma estatística arrepiante: “O casamento, e portanto uma família estável, evitam a pobreza para 82% das crianças”. Mas o que Rubio e os demais nostálgicos da cerimônia nupcial nunca explicam é “como” ressuscitar uma família tradicional que cada vez mais homens e mulheres rejeitam. Admitindo-se que a equação entre “família com papai e mamãe” e serena maturidade e velhice no aconchego do lar sejam, como parece acreditar Rubio, coisa automática...
Nesse quadro de cores cinzentas, a boa notícia é que a decadência do matrimônio como passagem obrigatória para o jovem adulto fez emergir um “quinto elemento” na fórmula nupcial, que a sociedade nem sempre utilizou: o amor. Se o matrimônio agora é apenas facultativo, a liberdade de escolha hoje oferecida a homens e mulheres que não mais se sentem obrigados a viver como casal significa também, para dois terços daqueles que assumiram esse empenho, que ele foi feito por amor. Isso os autoriza a demolir finalmente aquele velho mito e lugar comum que afirma ser o casamento “a tumba do amor”.
Se o casamento sobreviverá, para além dos mil e um desafios do nosso tempo, será exatamente por causa disso. E permanece sempre atual a boa observação atribuída a Sócrates e dirigida aos homens, mas aplicável também as mulheres: “Se você encontrar uma boa mulher, se tornará um homem feliz. Se encontrar uma mulher ruim, se tornará um filósofo”.
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