Sobe o nível dos mares. Com velocidade cada vez maior
Nos Estados Unidos, o nível do mar sobre a um ritmo cada vez mais rápido ano após ano, e poderá crescer até cerca de 2,5 metros até o ano 2100. Em todo o mundo os dados são semelhantes. No Brasil, os mais afetados pelo fenômeno são os Estados do Nordeste.
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Por: Equipe Oásis
O nível dos mares aumenta em todo o planeta. Este é um fato agora consolidado cuja evolução é seguida com apreensão, já que terá efeitos devastadores para a vida de milhões de pessoas que moram em regiões costeiras. Um relatório do Virginia Institute of Marine Science, porém, revela um dado ainda mais inquietante relativo ao litoral dos Estados Unidos: não apenas o nível dos mares nessas regiões continua a subir, mas acelera ano após ano, num ritmo tal que, ao redor do ano 2050, as águas costeiras norte-americanas estarão 80 centímetros mais altas do quanto estão hoje. Pior: estarão 2,5 metros mais altas ao redor do ano 2100.
Rockport e outras cidadezinhas costeiras no litoral do Texas, Estados Unidos, alagadas.
Os números do aumento
O relatório do Virginia Institute é baseado em dados coletados por 32 estações de aferição climática distribuídas ao longo dos dois litorais dos Estados Unidos, do Maine à Louisiana no lado atlântico e da Califórnia ao Alasca no lado do Pacífico. Os dados aferidos trazem muito desconforto: 27 dessas estações registraram um aumento no nível do mar, e para 25 delas o aumento em 2019 foi mais rápido do que nos anos precedentes. Os piores dados foram os obtidos pela estação de Rockport: no ritmo atual de crescimento, as águas dessa cidade portuária do Texas estarão, já em 2050, 82 centímetros mais altas do que eram em 1992, e a cifra pode aumentar mais ainda se a aceleração continuar.
Toda a orla marinha de Camp Ellis, no Maine, arrasada pela subida das águas do Atlântico.
Os autores do estudo também fazem referência a um relatório do NOAA de 2017 no qual se informa que, em caso de um ulterior aumento das emissões de gases de efeito estufa, o nível do mar poderá subir a mais de 2,5 metros no decorrer de um século. “a aceleração que estamos verificando em tantas estações de aferição climática sugere que se cumprirão as previsões mais pessimistas daquele relatório”, considera Molly Mitchell, uma das autoras do estudo.
Destruição na Praia de Icaraí, Ceará
E o mar avança também no Brasil
O avanço do mar é um fenômeno registrado no litoral dos 17 Estados brasileiros banhados pelo oceano Atlântico. Levantamentos recentes apontam que, além de avançar em uma velocidade acima do normal em alguns locais, o mar também está recuando em parte significativa do litoral, o que vem mudando o mapa litorâneo. Especialistas preveem alterações ainda maiores nos próximos anos.
O estudo “Erosão e progradação do litoral Brasileiro”, do Ministério do Meio Ambiente, é apontado como um atlas do litoral e mostra que o Estados enfrentam situações bem distintas, causadas não só pela ação natural do tempo, mas principalmente pelas interferências do homem com a mudança do curso dos rios e das construções à beira-mar.
Se historicamente o avanço do mar era considerado normal e inofensivo aos seres humanos, as construções litorâneas fizeram o assunto passar a ser visto como “fator de risco, implicando em questões econômicas e sociais.” A situação é apontada como mais preocupante nas regiões Norte e Nordeste. A pesquisa aponta que “a falta de informações dificulta a tomada de decisões devido à falta de elementos para distinguir se o que ocorre é uma tendência natural, ou um ciclo no qual uma situação de desequilíbrio volta espontaneamente à normalidade.”
Praça de São Marcos, em Veneza, alagada pela subida das águas do mar.
Paraíba em situação alarmante
Situações graves em todos os Estados costeiros brasileiros foram analisados por pesquisadores e apontam para situações diferentes. A Paraíba é apontada pelo estudo como em situação “alarmante”. Segundo os dados, 42% do litoral registra erosão (avanço do mar) – o dobro das praias classificadas como “em equilíbrio”. Já 33% do litoral tem progradação (recuo) do oceano. Metade da costa, onde mora um milhão de pessoas, está ameaçada pelo avanço do mar. A Ponta do Seixas (ponto mais ao leste do país) corre o risco de ser engolida pela água nas próximas décadas e desaparecer do mapa, dizem especialistas. A situação também é preocupante no Pará, onde a mudança na costa “é um dos fenômenos mais impressionantes entre os processos costeiros, que acabou transformando-se em um problema emergencial.” Dados analisados mostram que mais de 70% do litoral apresentou tendência de erosão nas últimas décadas.
Alagoas está em alta vulnerabilidade
Em Alagoas, a erosão causa “graves problemas ambientais”, e o Estado é classificado como de “alta vulnerabilidade”, por conta de sua geografia propícia ao avanço do mar, somada a interferências humanas. “A erosão marinha é mais evidenciada nos setores norte e central, sendo estes os mais ocupados e urbanizados do litoral alagoano”, aponta o texto. Em agosto, vários pontos da orla de Maceió foram danificados por uma das maiores ressacas do mar, que destruiu barracas em praias turísticas, como a da Sereia, no litoral norte.
Ainda no Nordeste, a erosão marinha é um problema verificado em 33% das praias de Pernambuco. No Estado, obras como a construção dos portos e barragens de contenção para evitar alagamentos em Recife causaram o desequilíbrio ambiental. A construção de prédios em área de mangue também contribuiu para os sérios problemas, especialmente na região metropolitana de Recife, onde são registradas as maiores erosões.
Estrada destruída na Costa Leste dos Estados Unidos
Em Santa Catarina, o estudo também aponta que “pode-se constatar evidências erosivas na maioria das praias estudadas.” Fatores ambientais – como ondas, correntes e ventos – e o crescimento das construções em áreas impróprias seriam os principais responsáveis pelo avanço do mar que diminuem a faixa de areia. As praias de Armação, Barra da Lagoa, Canavieiras e Ingleses são consideradas as mais afetadas
A Bahia, que possui o maior litoral brasileiro, com mais de mil quilômetros de costa, apresenta situação mais “confortável”, com 26% do litoral com avanço do mar, 6% de recuo e 8% estabilizado por obras de engenharia. O índice está considerado dentro de um padrão da média nacional.
Vídeo: O avanço do mar – FAPESP
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