Sistema imunológico. O ambiente conta mais que os genes

A maneira como respondemos às doenças infecciosas depende das precedentes exposições a germes e bactérias, da alimentação e da higiene pessoal. Muito menos da herança genética.

A maneira como respondemos às doenças infecciosas depende das precedentes exposições a germes e bactérias, da alimentação e da higiene pessoal. Muito menos da herança genética.
A maneira como respondemos às doenças infecciosas depende das precedentes exposições a germes e bactérias, da alimentação e da higiene pessoal. Muito menos da herança genética. (Foto: Gisele Federicce)


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Por: Equipe Oásis

Um mesmo vírus pode desencadear, em algumas pessoas, um leve resfriado; em outras, uma febre alta e insistente; em outras ainda, pode não provocar nada. Diante da agressão de agentes patógenos somos todos diversamente vulneráveis. Mas as maiores diferenças quanto a resposta imunológica não dependem no entanto dos genes, como muitas vezes se acredita, mas sim de fatores ambientais. É o que revela um aprofundado estudo sobre a imunologia em gêmeos feito pela Escola de Medicina da Stanford University, publicado nos EUA pela prestigiosa revista científica Cell.

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O DNA não é tudo

“A ideia, em alguns círculos da ciência genética, é que quando estabelecemos a sequencia do genoma de alguém, será possível ver quais doenças essa pessoa manifestará nos seus próximos 50 anos”, comenta Mark Davis, professor de microbiologia e imunologia e coordenador do estudo. Mas, não obstante a genética desempenhe um papel indiscutível no surgimento de algumas doenças, o nosso sistema imunológico deve ser incrivelmente adaptável para gerir imprevistos como infecções virais, feridas ou tumores. “Ele deve se arranjar com os seus próprios recursos” diz Davis. 

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Para determinar a influência de genes e do ambiente nas características do sistema imunológico, os pesquisadores reuniram 78 pares de gêmeos monozigóticos (possuidores de DNA idêntico) e 27 pares de heterozigóticos (com apenas 50% dos genes em comum). A ambos os irmãos de cada par foram efetuados três exames de sangue em três diversas ocasiões, para medir a atividade de cerca 200 diversos componentes do sistema imunológico.

Em três quartos dos casos, as influências não hereditárias (vacinações efetuadas ou exposições a infecções, alimentação, higiene oral) superaram os fatores hereditários ao modelar as características do sistema imunológico. Essa prevalência foi observada sobretudo nos gêmeos idosos (com 60 anos ou mais), e menos em gêmeos com menos de vinte anos.

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Mesmos genes, reações diversas 

Nos menos jovens, os fatores ambientais influenciam consideravelmente a resposta às mesmas vacinas contra a gripe; a presença ou não de infecções virais crônicas não curadas (como as do citomegalovírus, um vírus que provoca sintomas similares aos de um resfriado comum, mas que pode debilitar quem já tem a saúde fragilizada) também desempenha um papel importante para determinar a capacidade de resposta do sistema imunológico.

“Pelo menos nos primeiros vinte anos de vida – conclui Davis – o sistema imunológico parece capaz de se adaptar a uma gama incrivelmente vasta de condições ambientais. Se em boa saúde, as nossas defesas continuam a se renovar à medida que encontram patógenos, micróbios ‘bons’, substâncias nutritivas e outros elementos, fazendo passar a segundo plano a influência da maior parte dos fatores hereditários”.

 

 

A ciência do resfriado

Em todo o mundo, o resfriado é uma das moléstias mais comuns e corriqueiras. Apesar disso, ele permanece uma das doenças mais misteriosas. Na verdade, existem poucas certezas a respeito dele.

Tem quem acredita que um golpe de frio possa provocar um resfriado, e que é uma certeza manifestar essa moléstia quando temos o sistema imunológico debilitado. Mas apesar de décadas de pesquisadas, algumas realmente curiosas, a ciência médica permanece perplexa diante do resfriado. Aqui estão algumas verdades e mentiras sobre a matéria:

Quantos são os tipos de resfriado? Embora os cientistas falem de um “vírus do resfriado”, o que causa a moléstia são cinco famílias de vírus. As mais comuns, responsáveis por 30 a 40% dos resfriados, são os Rhinovirus, dos quais existem cerca 200 variedades geneticamente distintas.

Quantas vezes somos atacados? Em média, os adultos têm entre dois e quatro resfriados ao ano, e as crianças entre sete e oito. Considerando-se apenas os Rhinovirus, e calculando-se para cada resfriado uma duração de uma semana, chegamos a um total de pelo menos cinco anos de espirros e narizes escorrendo ao longo de uma vida. Os vírus do resfriado vivem apenas nas narinas dos seres humanos, não nos animais, com exceção do chimpanzé e de alguns outros primatas.

Tomar frio provoca resfriado? Esta é uma ideia antiga e impossível de ser erradicada. Em muitas línguas a palavra que indica a doença faz referência a baixas temperaturas: além do português e do espanhol “resfriado”, há o italiano “raffredore” e o inglês “cold” (frio). A ciência, no entanto, ainda nao encontrou provas definitivas que sustentem essa convicção. Pelo contrário, tomar frio não parece aumentar o risco de contágio, e nem sequer de influenciar a sua gravidade.

O vírus do resfriado também ataca nos meses quentes? Esses vírus estão difundidos em todas as latitudes e longitudes, mas eles são sazonais. A época dos resfriados começa com um pico no início do outono, prossegue durante todo o inverno, e tem um novo pico na metade da primavera. Durante o verão, em todos os países, o resfriado tende a desaparecer.

Como ele se transmite? Durante a Primeira Guerra Mundial, os pesquisadores demonstraram aquilo que hoje parece óbvio: se tomamos um concentrado de secreções nasais de uma pessoa resfriada e a colocamos no nariz ou nos olhos de uma outra pessoa, também a segunda apresentará um resfriado depois de alguns dias. Mas compreender como acontece o contágio no mundo real é muito mais complicado.

 

O vírus circula no ar? É possível. Um espirro lança partículas de saliva, eventualmente contendo germes, à velocidade de uma centena de quilômetros horários, num raio de 2 a 3 metros. Mas não está provado que o contágio possa acontecer através do ar. Nos anos 50 tentou-se demonstrar isso, mas sem resultados. Até mesmo um beijo não parece ser um meio eficaz de transmissão. Tosse e espirros são meios de transmissão teoricamente possíveis, mas não parecem ser o meio privilegiado pelo qual o vírus se difunde.

Onde e quanto tempo vive o vírus?

Um estudo de 1973, feito pelo médico e escritor Atul Gawande, e publicado na revista New Yorker, mostrava que o vírus fora encontrado vivo depois de três horas, em gotas de muco nasal deixadas para secar sobre tecidos de náilon, lã, seda, e sobre superfícies de fórmica, aço, madeira e sobre a pele. 

Esse vírus parece sobreviver bem sobre a maior parte das superfícies não porosas, mas estranhamente isso não acontece sobre lenços de papel ou de algodão. Se os participantes tocavam as superfícies contaminadas, ficavam resfriados em 60% dos casos. Em resumo, não existe sequer necessidade de contato direto.

 

 

Como se pode evitar de pegar um resfriado? Os especialistas aconselham, em primeiro lugar, lavar as mãos com frequência, e não se tocar a face, o nariz e os olhos. Mas isso é mais fácil de dizer do que fazer.

Ser derrubado por um simples resfriado é sinal de que o sistema imunológico está fragilizado? Durante muito tempo se pensou que os sintomas do resfriado fossem provocados pela ação destrutiva do vírus sobre as células do nariz e da garganta. Hoje se sabe que espirros, tosse e secreções nasais constituem a resposta inflamatória do nosso corpo contra o vírus. As substâncias químicas produzidas pelo sistema imunológico inflamam as células e os tecidos das vias aéreas, provocando escorrimento do nariz, garganta inchada, tosse e espirros. 

A atividade física é recomendável quando se está resfriado? Pode-se adotar uma regra simples para decidir se devemos ou não anular a sessão de exercícios físicos em casa ou na academia: se os sintomas se limitam à região acima do pescoço, o nariz entupido, leve dor de garganta, não há necessidade de se evitar a atividade física. Se os sintomas invadiram também as regiões abaixo da garganta, com tosse, dores musculares, brônquios congestionados, é melhor ficar quieto e repousar.

Quais são os remédios mais eficazes? Infelizmente, apesar de todos os estudos e pesquisas, ainda não existem medicamentos com efeitos notáveis. Jack Gwaltney, um dos maiores expertos mundiais do resfriado, adota a estratégia de tomar, aos primeiros sintomas, e a cada doze horas, a combinação de dois fármacos: um anti-inflamatório não esteroide, tipo ibuprofeno, e um anti-histamínico de velha geração, daqueles que davam uma certa sonolência. Nada disso cura o resfriado, mas aliviam os sintomas enquanto se espera que a doença passe naturalmente. Certas técnicas da medicina natural também podem ajudar. Uma delas é a do jala neti, uma técnica indiana, muito usada no ioga, e que consiste na lavagem dos dutos nasais com soro fisiológico ou com água ligeiramente salgada. O jala neti alivia as tensões e é considerado um remédio eficaz contra o resfriado.

 

Na foto, jovens indianas praticam o jala neti - ioga da limpeza dos dutos nasais


Galeria de vírus de cristal

Especializado na produção de obras de cristal e vidro, o artista plástico britânico Luke Jerram criou uma série de esculturas que reproduzem, em escala macro, alguns vírus e bactérias tais como o da gripe AH1N1, o Ebola, o HIV. Como na impressão em 3D, sua técnica é baseada em cálculos algorítmicos.

 

 

Jerram tomou como modelo as imagens de vírus e bactérias aumentadas por microscópios eletrônicos. Depois, as reproduziu. O resultado é surpreendente: as formas perfeitas e a transparência do vidro transformam essas minúsculas e perigosas formas de vida em obras primas da arte contemporânea.  As obras hoje estão expostas em algumas galerias inglesas e alcançam altos preços. Fotos: © Luke Jerram/Wellcome Trust

 

1 Esculpidos no vidro, até mesmo os vírus mais letais, como o da influenza AH1N1 não mais provocam medo. A contrário, na sua fragilidade, apresentam formas elegantes.

 

 

2 O primeiro vírus recriado por Jerram data de 2003. É essa réplica perfeita do HIV. Para realizar seu trabalho, o artista recorreu à consultoria de Andrew Davidson, importante virologista da Universidade de Bristol. Analisando diferentes fotografias ao microscópio, modelos e diagramas,  Favidson e Jerram criaram esculturas que têm inclusive um valor científico. Vírus e bactérias são, com efeito, transparentes: não possuem cores na natureza. Em certas obras, algumas cores foram acrescentadas por Jerram para facilitar a compreensão e melhorar o aspecto.

 

3  O vírus da gripe aviária foi supervalorizado pela comunidade científica e provocou ondas de pânicos, sobretudo em países asiáticos. Mas na realidade ele não se transformou num vírus perigoso para o ser humano.

 

4 O vírus da varíola (esquerda) junto ao vírus da gripe e do HIV. Durante todo o século 20 a varíola matou entre 300 e 500 milhões de pessoas, até ser completamente erradicado nos anos 1970 graças a um programa de vacinação global. Hoje, ao que se sabe, permanecem apenas dois exemplares desse vírus, conservados em laboratórios de segurança máxima nos Estados Unidos e na Rússia.

 

5 Um particular do vírus da gripe AN1H1. Embora o processo de replicação dos vírus seja aparentemente fácil, alguns fogem à regra. O vírus da dengue, por exemplo. Ele é responsável pela febre homônima, e no início não consegue utilizar o material genético das células que o hospedam. Calcula-se que só tem êxito uma vez em cada 4 mil tentativas.

 

6 A Escherichia coli é a única bactéria construída dor Luke Jerram.

 

7 Ao falar de suas obras, Luke Jerram explicou que os cientistas não conseguiram responder a algumas de suas perguntas. Por exemplo, como o filamento do Rna (ácido ribonucleico) se espalha exatamente no interior da cúspide de um vírus, como se pode observar nesta réplica de um vírus da gripe SARS.

 

8 O vírus Ebola é uma das mais recentes criações de Luke Jerram.

 

9 A beleza estrutural do vírus da malária.

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