Salvem os oceanos, alimentem o mundo! Bióloga marinha discute a fome mundial

Numa apresentação reveladora, Jackie Savitz descreve o que realmente está acontecendo com a pesca global. O quadro não é nada positivo, mas essa bióloga marinha oferece sugestões inteligentes para remediar o problema e, ao mesmo tempo, produzir alimento para todos

Numa apresentação reveladora, Jackie Savitz descreve o que realmente está acontecendo com a pesca global. O quadro não é nada positivo, mas essa bióloga marinha oferece sugestões inteligentes para remediar o problema e, ao mesmo tempo, produzir alimento para todos
Numa apresentação reveladora, Jackie Savitz descreve o que realmente está acontecendo com a pesca global. O quadro não é nada positivo, mas essa bióloga marinha oferece sugestões inteligentes para remediar o problema e, ao mesmo tempo, produzir alimento para todos (Foto: Gisele Federicce)


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Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading

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Tradução: Lilian Kano. Revisão: Ruy Lopes Pereira

A biólogo marinha Jackie Savitz é importante ativista dedicada à proteção dos oceanos do mundo. Vice-presidente da US Oceans, na localidade de Oceana, formada também em toxicologia ambiental,, ela já produziu várias campanhas focadas em fatores que comprometem a saúde dos oceanos, tais como as mudanças climáticas, o mercúrio, a poluição causada pelos grandes navios. Jackie costuma dizer que em suas veias corre água do mar.

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Video: Abaixo, à direita no vídeo, você poderá ativar as legendas em português.

 

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Tradução integral da palestra de Jackie Savitz:

 

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Vocês podem estar se perguntando: por que uma bióloga marinha de Oceana viria aqui hoje para falar com vocês sobre a fome mundial? Estou aqui hoje porque salvar os oceanos é mais do que um desejo ecológico. É mais do que uma coisa que fazemos porque queremos criar empregos para os pescadores ou preservar seu trabalho. É mais do que uma busca econômica. Salvando os oceanos, podemos alimentar o mundo. Vou mostrar como.

Como sabem, já existem mais de um bilhão de pessoas famintas no planeta. Prevemos que o problema vai piorar conforme a população aumenta para nove bilhões ou dez bilhões no meio do século, e podemos esperar uma pressão maior sobre os nossos recursos alimentares. É uma grande preocupação, especialmente considerando onde estamos agora.

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A bióloga Marinha Jackie Savitz, da Organização Oceana

 

Agora sabemos que a nossa terra arável per capita já está em declínio tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Sabemos que estamos caminhando para mudanças climáticas, que vão mudar os padrões da chuva, tornando algumas áreas mais secas, como podem ver em laranja, e outras mais úmidas, em azul, provocando secas nos nossos celeiros, como o Centro-Oeste e a Europa Central, e inundações em outros. Vai ser mais difícil para a terra nos ajudar a resolver o problema da fome. E é por isso que os oceanos precisam ter abundância máxima, de forma que possam nos fornecer o máximo de alimento possível.

E isso é algo que os oceanos têm feito pela gente por um longo tempo. Há muito tempo temos visto um aumento na quantidade de alimentos que podemos extrair dos nossos oceanos. Parecia que ia continuar aumentando, até mais ou menos 1980, quando começamos a ver uma queda. Vocês ouviram sobre o pico do petróleo. Talvez estejamos no pico da pesca. Espero que não. Voltarei a esse assunto. Podemos ver uma queda de 18% na quantidade de peixes que pescamos no mundo desde 1980. E esse é um grande problema, que continua. Essa linha vermelha continua a cair.

Mas sabemos como virar o jogo, e é sobre isso que quero falar hoje. Sabemos como virar aquela curva para cima de novo. Esse não precisa ser o pico da pesca. Se fizermos algumas coisas simples em áreas selecionadas, podemos revitalizar nossa pesca e usá-la para alimentar as pessoas.

Primeiro, queremos saber onde estão os peixes, vamos observar sua localização. Os peixes estão convenientemente localizados, na sua maior parte, nas áreas costeiras dos países, nas zonas costeiras, e essas são áreas que as jurisdições nacionais controlam, e ela podem administrar sua pesca nessas áreas costeiras. Os países litorâneos tendem a ter jurisdições que se expandem até 200 milhas náuticas, em áreas chamadas de zonas econômicas exclusivas, e é bom que possam controlar sua pesca nessas áreas, porque o alto mar, que são as áreas mais escuras no mapa, em alto mar é muito mais difícil controlar as coisas, porque precisa ser feito internacionalmente. São necessários acordos internacionais, e se acompanhamos o acordo de mudança climática, sabemos que pode ser um processo bem lento, frustrante e tedioso. Então, o controle nacional é uma prerrogativa importante.

Quantos peixes estão de fato nessas áreas costeiras em comparação com o alto mar? Bem, podemos ver aqui quase sete vezes a quantidade de peixes nas áreas costeiras em relação ao alto mar. Então esse é o lugar perfeito para focarmos porque realmente podemos resolver muita coisa. Podemos restaurar nossa pesca se focarmos nessas zonas costeiras.

Mas em quantos desses países temos que trabalhar? Há cerca de 80 países costeiros. Será que precisamos intervir na administração da pesca em todos esses países? Então, nos perguntamos em quantos países temos que focar, tendo em mente que a União Europeia convenientemente administra sua pesca através de uma política comum de pesca. Se tivermos uma boa administração na União Europeia e, digamos, em outros nove países, quanto da nossa pesca estaríamos cobrindo? A União Europeia e nove países cobrem dois terços da pesca mundial. Se levássemos o projeto para 24 países, mais a União Europeia, aumentaríamos para 90%, quase toda a pesca mundial. Achamos que podemos trabalhar em um número limitado de lugares para promover a revitalização da pesca. Mas o que precisamos fazer nesses lugares? Bom, com base no nosso trabalho nos EUA e em outros lugares, sabemos que há três pontos chaves a cobrir para trazer a pesca de volta.

Eles são: Temos que estabelecer quotas ou limites do quanto consumimos; temos que diminuir a captura acessória, que é a pesca ou morte acidental de peixes que não são nosso alvo, um grande desperdício; e em terceiro lugar, precisamos proteger os habitats, as áreas de viveiro, as áreas das desovas, de que eles precisam para crescer e se reproduzirem de forma que possam reconstruir sua população. Se fizermos essas três coisas, sabemos que a pesca vai voltar.

 

 

Como sabemos? Sabemos porque já vimos isso acontecer em muitos lugares diferentes. Este slide mostra a população do arenque na Noruega que estava declinando desde os anos 50. Estava diminuindo, e quando a Noruega definiu limites, ou cotas na sua pesca, o que acontece? A pesca se revitaliza. Esse outro exemplo, por acaso também é da Noruega, do bacalhau ártico norueguês. Mesma coisa. A pesca decai. Eles determinam limites no descarte. Os descartes seriam os peixes indesejados, jogados fora, desperdiçados. Quando estabeleceram o limite do descarte, a pesca se revitalizou. E não é só a Noruega. Vimos isso acontecer em países em todo mundo, muitas vezes. Quando esses países se envolvem e estabelecem políticas de administração de pesca sustentáveis, a pesca, sempre em declínio, parece que se revitaliza. Então, temos uma grande promessa aqui.

O que isso significa para a pesca mundial? Quer dizer que se pegarmos essa pesca em declínio e pudermos virá-la para cima, poderíamos aumentá-la para 100 milhões de toneladas métricas por ano. Então, ainda não tivemos o pico da pesca. Ainda temos uma oportunidade não só de retornar os peixes mas de aumentar o seu número podendo alimentar mais gente do que agora. Quanta gente mais? No momento, podemos fornecer a cerca de 450 milhões de pessoas um peixe por dia com base na atual situação da pesca mundial, que, é claro, sabemos que está caindo. Esse número vai diminuir com o tempo se não resolvermos o problema, mas se adotarmos as práticas de administração da pesca, como as que descrevi e as usarmos em 10 a 25 países, poderíamos aumentar esse número e fornecer a cerca de 700 milhões de pessoas por ano uma refeição saudável com peixe.

É óbvio que devemos fazer isso porque é uma boa maneira de lidar com o problema da fome, mas também é econômico. Acontece que o peixe é a proteína mais econômica do planeta. Se observarmos quanta proteína o peixe fornece por dólar investido em comparação com todas as outras proteínas animais, obviamente, o peixe é uma boa decisão comercial. Também não precisa de muita terra, em escassez agora, comparando com outras fontes de proteína. E não precisa de muita água doce. Utiliza-se muito menos água doce que, por exemplo, pecuária, onde temos que irrigar o campo de forma que possamos cultivar o alimento para o gado pastar. 

Também tem uma pegada de carbono muito baixa. Tem um pouco de pegada de carbono porque temos que sair para pegar o peixe. E isso precisa de combustível, mas a agricultura tem uma pegada de carbono, e a pesca tem uma muito menor, então é menos poluente. Já é uma grande parte da nossa dieta, mas pode ser ainda maior, o que é bom, porque sabemos que é saudável para nós. Ele reduz os riscos de câncer, problemas cardíacos e obesidade.

 

 

De fato, nosso CEO, Andy Sharpless, na verdade, autor desse conceito, gosta de dizer que os peixes são a proteína perfeita. Andy também menciona o fato de que o movimento pela conservação do oceano realmente cresceu a partir do movimento de conservação da terra. E na conservação da terra, temos esse problema em que a biodiversidade está em guerra com a produção alimentar. É preciso cortar a floresta da biodiversidade se quisermos que o campo produza o milho para alimentar as pessoas, e então temos um constante cabo de guerra. Há sempre uma decisão difícil que tem que ser tomada entre duas coisas muito importantes: Manter a biodiversidade ou alimentar as pessoas. Mas nos oceanos não temos essa guerra. Nos oceanos a biodiversidade não está em guerra com a abundância. Na verdade, elas estão alinhadas. Quando promovemos ações que produzem biodiversidade, temos mais abundância, e isso é importante para que possamos alimentar as pessoas.

Agora, tem uma pegada.

Ninguém "pescou" essa? (Risos)

A pesca ilegal. A pesca ilegal compromete o tipo de administração da pesca sustentável de que estou falando. Pode ser quando pegamos os peixes usando um equipamento proibido, quando pescamos em lugares onde não é permitido, quando pegamos peixes que são do tamanho ou da espécie errada. A pesca ilegal engana o consumidor e também engana pescadores honestos. Isso precisa parar. A pesca ilegal entra no mercado pela fraude dos frutos do mar. Vocês já devem ter ouvido. É quando os peixes são rotulados como algo que não são. Pensem na última vez que comeram peixe. O que era? Têm certeza de que era isso mesmo? Porque testamos 1.300 amostras diferentes de peixes e quase um terço deles não era o que o que mostravam no rótulo. 10% dos caranhos não são caranhos. 50% do atum que testamos foi rotulado de modo errado. E o vermelho (cioba), testamos 120 amostras, e somente sete delas eram realmente o vermelho. Então, boa sorte para encontrar um vermelho.

 

 

Frutos do mar têm uma cadeia de abastecimento bem complexa, e em cada passo dessa cadeia de abastecimento, há uma oportunidade para a fraude de frutos do mar, a não ser que tenhamos como rastreá-la. A rastreabilidade é uma forma através da qual a indústria pode acompanhar os frutos do mar do barco até o prato e que o consumidor possa saber de onde vêm os frutos do mar.

Isso é realmente importante. É feito por alguns na indústria, mas não é suficiente, e estamos levando uma lei ao Congresso chamada SAFE Seafood Act, e estou muito empolgada hoje por anunciar o lançamento de uma petição de chefs, onde 450 chefs assinaram uma petição solicitando ao Congresso que apoie o SAFE Seafood Act. Há muitos chefs famosos que talvez vocês conheçam: Anthony Bourdain, Mario Batali, Barton Seaver e outros. Eles assinaram a petição porque acreditam que as pessoas têm o direito de saber o que estão comendo.

Os pescadores também gostam da ideia, assim há uma boa chance de obter o apoio necessário para aprovar essa lei, e ela chega num momento crítico, porque é assim que acabamos com a pesca ilegal,essa é a maneira de conter a pesca ilegal, e é assim que garantimos que as cotas, a proteção do habitat, e redução da pesca acessória possam cumprir seus objetivos.

Sabemos que podemos administrar nossa pesca de forma  sustentável. Sabemos que podemos produzir refeições saudáveis para centenas de milhões de pessoas sem fazer uso da terra, ou de muita água, com uma pegada baixa de carbono, de maneira econômica. Sabemos que salvando os oceanos podemos alimentar o mundo, e temos que começar agora.

 

 

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