Realidade aumentada nos esportes: Como ela transformará as competições e criará empatia
Na semana de encerramento da Copa do Mundo de Futebol, Chris Kluwe avalia o futuro dos esportes e pensa em como a tecnologia pode ajudar não só jogadores e treinadores, mas torcedores. O ex-jogador de futebol americano vislumbra um futuro no qual a realidade aumentada ajudará as pessoas a experimentar os esportes como se estivessem em campo e, talvez, até a enxergar os outros sob uma nova perspectiva
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Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Ricardo Marcondes. Revisão: Alessandra Areias
Como jogador de futebol americano, notadamente no Minnesota Vikings, Chris Kluwe colecionou uma série de recordes e troféus. Defensor aguerrido da igualdade, ele foi um dos poucos atletas a quebrar o código de omertà a respeito da política dos bastidores do esporte nos Estados Unidos.
Vídeo:
Tradução integral da palestra de Chris Kluwe:
O que realidade aumentada e futebol americano profissional têm a ver com empatia? E qual é a velocidade de uma andorinha em voo livre? Infelizmente, vou responder apenas uma destas perguntas hoje. Então, tentem conter seu desapontamento.
Quando a maioria das pessoas pensa em realidade aumentada, elas pensam no "Minority Report" e no Tom Cruise mexendo suas mãos no ar, mas a realidade aumentada não é ficção científica. A realidade aumentada é algo que vai acontecer durante nossas vidas, e vai acontecer pois temos ferramentas para torná-la possível e as pessoas devem saber disso, pois a realidade aumentada mudará nossas vidas da mesma forma que a Internet e o telefone celular.
Como conseguimos a realidade aumentada? O primeiro passo é este que estou usando: o Google Glass. Muitos de vocês conhecem o Google Glass. O que vocês não devem saber é que o Google Glass é um dispositivo que permitirá que vocês vejam o que eu vejo. Permitirá que vocês experimentem como é ser um atleta profissional em campo. Agora mesmo, a única maneira de vocês estarem em campo é eu tentar descrever para vocês. Tenho que usar palavras. Tenho que criar uma estrutura que será preenchida pela sua imaginação. Com o Google Glass, podemos colocá-lo dentro de um capacete, e podemos ter a percepção de como é correr pelo campo a 160 km/h, seu sangue pulsando em seus ouvidos. Você pode ter a percepção de como é ter um homem de 110 Kg correndo atrás de você, tentando degolá-lo com toda sua força. Eu já passei por isso, e a sensação não é muito boa.
Tenho alguns vídeos para mostrar a vocês como é usar um Google Glass dentro do capacete para dar um gostinho a vocês. Infelizmente, não é um filme da NFL, porque a NFL pensa que tecnologia emergente é o que acontece quando um submarino vem à tona, mas - (Risos) - nós fazemos o que podemos.
Então, vamos mostrar alguns vídeos.
(Vídeo) Chris Kluwe: Vai. Argh, ser atacado é uma droga. Espere, vamos chegar mais perto. Certo, está pronto? Vai!
Chris Kluwe: Então, como podem ver, um gostinho de como é ser atacado no campo de futebol americano, da perspectiva do atacado. Você deve ter notado a falta de algumas pessoas: o restante do time. Nós temos um vídeo para isso, da Universidade de Washington.
(Vídeo) Lançador: Ei, Rato 54! Rato 54! Azul 8! Azul 8! Vai! Oh!
CK: Isto leva vocês um pouco mais perto da sensação de estar naquele campo, mas não é nem de perto igual a estar na NFL.
Torcedores querem essa experiência. Querem estar no campo. Eles querem ser seus jogadores favoritos, e já falaram comigo no YouTube, e no Twitter, dizendo: "Você pode colocar isso em um lançador? Ou em um corredor? Nós queremos essa experiência."
Uma vez que temos essa experiência com GoPro e Google Glass, como ficar mais imersivo? Como dar o próximo passo? Damos o próximo passo indo para algo chamado de Oculus Rift, e sei que muitos de vocês já conhecem. O Oculus Rift foi considerado um dos dispositivos mais realistas que a realidade virtual já criou, e não é exagero. E vou mostrar porque não é exagero com este vídeo. (Vídeo) Homem: Oh! Oh! Não! Não! Não! Eu não quero jogar mais! Não! Meu Deus! Aaaah!
CK: Esta é a experiência de um homem em uma montanha-russa, temendo por sua vida. Como você acha que será a experiência de um torcedor, quando fizermos um vídeo de um Adrian Peterson voando pela linha, livrando-se de um marcador com braço firme, antes de correr para o gol? Qual seria a experiência de um torcedor quando ele for o Messi, arrancando pelo campo e colocando a bola no fundo da rede, ou Federer sacando em Wimbledon? Como vocês acham que será a experiência quando ele descer uma montanha a mais de 110 km/h como um esquiador olímpico? Eu acho que a venda de fraudas para adultos pode explodir. (Risos)
Mas isso ainda não é realidade aumentada. É apenas realidade virtual, R.V. Como chegamos à realidade aumentada, R.A.? Aumentamos a realidade quando treinadores, dirigentes e empresáriosveem ese fluxo de informação que as pessoas querem ver e dizem: "Como usamos isso para melhorar nosso time? Como usamos isso para ganhar jogos?" Pois times sempre usam tecnologia para ganhar jogos. Eles gostam de vencer. Dá dinheiro.
Uma breve história da tecnologia na NFL. Em 1965, o Baltimore Colts pôs uma munhequeira no lançador para que ele fizesse as jogadas mais rápido. Ganharam o Super Bowl daquele ano. Outros times o imitaram. Mais pessoas viram o jogo, pois era mais emocionante. Mais rápido.
Em 1994, a NFL colocou rádios nos capacetes dos lançadores, e depois da defesa. Mais pessoas viam os jogos pois eram mais rápidos. Era mais divertido.
Em 2023, imagine que você é um jogador voltando para seu grupo, e sua próxima jogada é exibida bem à sua frente no visor de plástico transparente que você já está usando. Sem preocupações em esquecer jogadas. Sem preocupações em memorizar as regras. Você apenas sai e reage. E os técnicos querem isso, pois tarefas não realizadas perdem jogos, e técnicos odeiam perder. Perder jogos significa ser demitido como técnico. Eles não querem isso.
Mas a realidade aumentada não é apenas uma cartilha melhorada. A realidade aumentada é também uma maneira de pegar todos os dados e usá-los em tempo real para melhorar sua forma de jogar.Como seria isso? Uma montagem bem simples seria com câmeras em cada canto do estádio, dando uma visão do alto de todas as pessoas lá embaixo. Também haveria informações de sensores nos capacetes e acelerômetros, tecnologia que está sendo desenvolvida neste momento. Você pega essas informações e envia para os jogadores. Boas equipes as transmitem para uso dos jogadores. As ruins terão uma sobrecarga de informação. Isso determina quem é bom ou ruim. E agora, seu departamento de TI é tão importante quanto o departamento de contratação, e mineração de dados não é mais coisa de "nerds". É também coisa de atleta. Quem diria?
Como seria isso no campo? Imagine que você é um lançador. Você pega a bola e se afasta. Você está procurando por um recebedor. De repente, um brilho do lado esquerdo de seu visor informa que um jogador adversário está vindo te atacar. Normalmente você não o veria, mas a realidade aumentada te avisa. Você avança para se proteger. Outro flash alerta para um recebedor livre. Você lança a bola, mas é atingido. A bola sai do rumo. Você não sabe onde ela vai cair. No entanto, no visor do recebedor, ele vê um caminho acender na grama, e sabe como reajustar. Ele vai, pega a bola, corre e faz o gol. A multidão delira e os torcedores acompanham a cada passo, assistindo de todas as perspectivas.
Isso é algo que criará uma empolgação massiva com o jogo. Fará multidões assistirem, porque elas querem essa experiência. Torcedores querem estar no campo. Querem ser seu jogador favorito. A realidade aumentada fará parte dos esportes, porque é rentável demais para não fazer.
Mas faço uma pergunta a vocês: é só para isso que usaremos a realidade aumentada? A usaremos somente para nosso pão, nosso circo, nosso entretenimento? Porque eu acredito que podemos usar a realidade aumentada para mais. Acredito que podemos usá-la como uma maneira de promover empatia dentro da própria espécie humana, literalmente mostrando para alguém como é se pôr no lugar de outra pessoa. Sabemos que esta tecnologia é válida para ligas esportivas. Ela vale receitas da ordem de bilhões de dólares por ano. Mas quanto valeria esta tecnologia para uma professora em sala de aula, tentando mostrar para um valentão como suas ações são danosas do ponto de vista da vítima? Quanto vale essa tecnologia para um gay da Uganda ou da Rússia, tentando mostrar para o mundo como é viver sendo perseguido? Quanto vale essa tecnologia para um Comandante Hadfield ou um Neil deGrasse Tyson, tentando inspirar uma geração de crianças a pensar mais sobre o espaço e a ciência, em vez de relatórios trimestrais e reality shows?
Senhoras e senhores, a realidade aumentada vem aí. As perguntas que fazemos, as escolhas que fazemos, os desafios que enfrentamos dependem, como sempre, de nós mesmos.
Obrigado.
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