Vídeo: TED Ideas Worth Spreading
Tradução: Maurício Kakuei Tanaka. Revisão: Mericene Crus
Quando Richard J. Berry, prefeito de Albuquerque, viu um homem na esquina de uma rua segurando um cartaz de papelão que dizia “Quero um emprego”, decidiu aceitar a oferta dele (e de outros na mesma situação). Ele e sua equipe começaram uma iniciativa em toda a cidade para ajudar os sem-teto, dando-lhes tarefas diárias e um lugar para dormir – e os resultados foram incríveis. Descubra como sua cidade pode replicar o modelo de Albuquerque com esta palestra franca e otimista.
Vídeo:
Tradução integral da palestra de Richard J. Berry:
Levantem a mão se já viram alguém em sua cidade, de pé em uma esquina, segurando uma placa como esta. Acho que todos já vimos. Se forem sinceros, pelo menos uma vez, já se perguntaram se eles queriam mesmo isso? Se lhes oferecêssemos um emprego, eles realmente o aceitariam? O que esse trabalho significaria para a vida deles? Esta é uma história sobre o que aconteceu em minha cidade quando decidimos descobrir. Quando decidimos pensar de forma diferente sobre os pedidos de esmola, e erguer as pessoas por meio da dignidade do trabalho.
Levantem a mão se já viram alguém em sua cidade, de pé em uma esquina, segurando uma placa como esta. Acho que todos já vimos. Se forem sinceros, pelo menos uma vez, já se perguntaram se eles queriam mesmo isso? Se lhes oferecêssemos um emprego, eles realmente o aceitariam? O que esse trabalho significaria para a vida deles? Esta é uma história sobre o que aconteceu em minha cidade quando decidimos descobrir. Quando decidimos pensar de forma diferente sobre os pedidos de esmola, e erguer as pessoas por meio da dignidade do trabalho.
Chamamos de: “Há uma Melhor Maneira”. Chamamos assim pois creio que há uma melhor maneira de conseguir o dinheiro que precisam em vez de pedir esmola na esquina. Acredito que há uma melhor maneira de ajudar nossos irmãos necessitados do que dar dinheiro pela janela do carro. Sabemos que há dignidade no trabalho. Sabemos também que há mais chance das pessoas investirem em si mesmas se acreditarem que a comunidade delas está disposta a investir nelas primeiro. Por sermos todos estimulados à bondade e à compaixão, sempre nos sentimos bem em dar dinheiro a alguém que passa necessidade. Mas, se conversarem com os mendigos, muitos deles lhes dirão que o pouco que derem a eles não será necessariamente para a alimentação, mas para um vício. Há uma melhor maneira.
Meu nome é Richard Berry, e tenho um dos melhores empregos do mundo. Sou prefeito de uma grande cidade americana: Albuquerque, Novo México. Estava almoçando em 17 de julho de 2015, em minha grande cidade americana, e, em meu caminho de volta à prefeitura, vi este senhor parado em uma esquina. Como podem ver, está segurando uma placa, dizendo que quer um emprego. Mas, se olharem de perto, verão que ele está de pé, debaixo de uma placa azul que diz: se precisar de ajuda, comida ou abrigo ou quiser doar, por favor, ligue para 311, nosso número do serviço comunitário.
Por que esse homem está de pé, debaixo de minha placa, com a placa dele? Nós nos perguntamos se alguém ligava para 311, e descobrimos que ligaram 11 mil vezes. Coloco essas placas em 30 cruzamentos. Nós os colocamos em contato com comida, abrigo e serviços. Mas ele ainda está de pé debaixo de minha placa com uma placa dizendo que quer um emprego. É simples: ele quer um emprego. Decidi, então, fazer algo raro no governo: tornar a solução mais simples em vez de mais complexa. Voltei ao meu escritório, reuni minha equipe e disse: “Vamos acreditar no que ele e os outros dizem”. O homem diz que quer emprego, então o daremos a ele, e faremos de nossa cidade um lugar ainda melhor enquanto isso”.
Vejam, Albuquerque é um lugar bonito, a cerca de um quilômetro de altitude, com as Montanhas Sandia ao leste. O Rio Grande percorre o centro da cidade. Somos o lar do Festival Internacional de Balonismo de Albuquerque. Em um dia como hoje, vocês poderiam esquiar de manhã e jogar golfe à tarde. Mas sempre há algo para fazer, ervas daninhas para remover, lixo para coletar. Se tiverem uma iniciativa assim em sua cidade, terão de fazer duas perguntas. A primeira: há alguma coisa a fazer em sua cidade? Se a resposta for não, poderiam me dar o número de telefone do prefeito, porque preciso de um conselho.
Mas a segunda pergunta que precisam fazer é esta: suas soluções para os mendigos estão dando certo? Se forem como Albuquerque, e estiverem fazendo a abordagem punitiva que fazíamos, distribuindo multas aos mendigos ou àqueles que lhes dão dinheiro, vou advertir que isso não funciona, e sei que não estão chegando à raiz do problema em sua cidade. Se tiverem algo para fazer e precisarem de pessoas que necessitam de algo para fazer, há uma melhor maneira. A boa notícia é que não é tão complicado.
Esta é uma caminhonete Dodge 2006. Estava em minha frota, sem uso algum. Colocamos alguns pneus novos e pintamos um logotipo nela. Esta caminhonete sai agora às esquinas em que estão nossos mendigos. Vamos até eles. Paramos a caminhonete, saímos, perguntamos se eles gostariam de trabalhar por um dia em vez de pedir esmola. Se querem saber se eles realmente queriam isso, levamos quase uma hora para encher a caminhonete, porque quase todos a quem perguntamos aceitam o emprego para o dia.
Mas é preciso mais do que apenas uma caminhonete. É preciso um ser humano superfantástico para conduzi-la. Meu ser humano superfantástico é o Will. Aqui está ele de colete amarelo. Will trabalha em nosso parceiro sem fins lucrativos. Trabalha todo dia com os sem-teto. Os mendigos confiam nele, ele acredita neles, trabalha com diligência. Gosto de dizer: “Onde está o Will, há uma solução”. Se fizerem a campanha Melhor Maneira em sua cidade, terão de encontrar um Will, porque ele é realmente uma das chaves deste sucesso na cidade de Albuquerque.
Também precisarão de um grande parceiro. O nosso é o St. Martin’s Hospitality Center. Estão em nossa comunidade há mais de 30 anos. Oferecem aconselhamento, comida, abrigo, e, se não oferecerem, conhecem alguém em nossa cidade que oferece. Mas fazem muito mais para mim como prefeito. Oferecem agilidade. Eu preciso de duas semanas, talvez dois meses, às vezes, para contratar um funcionário na cidade de Albuquerque. Vocês podem imaginar minha velha Dodge, meu ser humano superfantástico, Will, um grande parceiro sem fins lucrativos. Dirigem para a esquina, onde há um mendigo, e dizem: “Gostaria de trabalhar?” O mendigo diz: “Sim”, e Will diz: “Ótimo! Voltarei daqui a seis semanas para te pegar”.
Não daria certo. É realmente importante ter agilidade em nosso programa. Eles cuidam da papelada, do seguro, e preparam todos os outros formulários que não posso preparar rapidamente.
Pagamos a nossos mendigos US$ 9 por hora. Nós os alimentamos no local de trabalho. No fim do dia, nossa velha caminhonete os leva de volta a St. Martin’s, e eles ficam em contato com os serviços de aconselhamento.
Até agora, com o programa piloto, alguns dias por semana, um ser humano fantástico e uma caminhonete Dodge, limpamos 400 quarteirões na cidade de Albuquerque. Recolhemos mais de 53 mil kg de lixo e ervas daninhas. Não sei se já pesaram essas plantas, mas elas não pesam muito, então podem imaginar o volume de material que recolhemos.
Minha cidade tem 6 mil funcionários, e ninguém melhor do que meu sólido departamento de lixo. Enviamos nossos caminhões no fim do dia, que ajudam os mendigos a colocar no caminhão o material que recolheram durante o dia, e o levamos ao aterro sanitário. Tenho sorte de ter funcionários dispostos a trabalhar lado a lado com nossos mendigos. Eles erguem nossa cidade enquanto erguemos a vida deles. Como qualquer outra coisa, precisamos de recursos. Mas a boa notícia é que não demora muito. Começamos com uma velha caminhonete, um ser humano superfantástico, um grande parceiro local e US$ 50 mil.
Mas também precisamos da confiança da comunidade. Felizmente, havíamos construído isso nos anos anteriores ao Melhor Maneira. Temos um programa chamado “Albuquerque Heading Home”, um modelo de “Housing First”, onde alojamos os sem-teto crônicos. Quando digo à minha comunidade que queremos fazer de modo diferente, digo que há uma forma inteligente para fazer a coisa certa. Temos alojado 650 sem-teto, vulneráveis em termos de saúde, que, sinceramente, têm mais chance de morrer nas ruas de nossa cidade. Investimos em nossa universidade, que faz o estudo. Poderíamos avisar os contribuintes que poupamos 31,6% sobre o custo de deixar alguém lutar pela sobrevivência nas ruas. Temos poupado mais de US$ 5 milhões enquanto alojamos 650 pessoas.
Tivemos a confiança da comunidade, mas tivemos que ter também um pouco mais de uma conversa franca como comunidade, pois tivemos que fazer pessoas entenderem que, ao entregar US$ 5 pela janela, pode-se, na verdade, estar reduzindo a oportunidade de ajudar uma pessoa necessitada, e este é o motivo: aqueles US$ 5 podem servir para comprar fast food hoje. Muitas vezes, é usado para comprar drogas e álcool. Se entregassem aqueles mesmos US$ 5 a um de nossos abrigos, poderiam alimentar sete pessoas hoje. E se entregassem a um de nossos bancos de alimentos ou despensas locais, poderíamos realmente alimentar 20 pessoas com esse dinheiro.
As pessoas dizem: “Albuquerque tem 600 mil pessoas. Não funcionaria para nós, pelo nosso tamanho”. Discordo. Se há um mendigo em um quarteirão da cidade, vocês podem fazer isso. Se moram em uma cidade com 8,5 milhões de pessoas, podem fazer isso. Não importa o que fizerem. Não é o trabalho que eles fazem, é a dignidade do trabalho. Poderiam fazer qualquer coisa. Creio que qualquer cidade poderia fazer isso. As pessoas dizem para mim: “Prefeito, isso é simplista demais. Não pode funcionar assim”.
Mas digo a vocês, amigos: quando vão a uma esquina e conversam com um mendigo com dignidade e respeito, talvez pela primeira vez em anos, talvez na vida deles, dizem a eles que acreditam neles, que esta é a cidade deles tanto quanto é a de vocês, que realmente precisam da ajuda deles para tornar nosso lugar melhor, e entendem que essa não é a resposta para todos os problemas deles, mas, pelo menos, é um começo, uma coisa maravilhosa acontece. Quando eles saem ao local de trabalho e começam a trabalhar juntos, começamos a ver coisas incríveis. Eles veem o trabalho em equipe, a diferença que podem fazer. No final do dia, ao retornarem a St. Martin’s na velha caminhonete, será bem mais provável que eles se inscrevam para quaisquer serviços: abuso químico, aconselhamento de saúde mental, o que for.
Até agora, com nosso programa piloto, oferecemos cerca de 1,7 mil dias de trabalho, colocamos 216 pessoas em contato com oportunidades de emprego permanentes. Vinte pessoas realmente se qualificaram para nosso modelo “Housing First”,”Heading Home”, e foram alojadas. Mais de 150 pessoas foram associadas a serviços de saúde mental e abuso químico por meio do programa “Há uma Melhor Maneira”.
Este sou eu há duas semanas, em St. Martin’s, em nossa pesquisa de campo, que fazemos a cada dois anos. Estou entrevistando um senhor sem-teto, como fazemos, colhendo as informações dele, descobrindo sua origem, como chegou lá, o que podemos fazer para ajudá-lo. Notem que ele segura a mesma placa que outro homem segurava em 2015, a mesma placa que eu trouxe aqui hoje.
Vocês têm que se perguntar: está fazendo mesmo diferença? Claro que sim! Albuquerque é agora um dos líderes nacionais no combate a algumas das questões sociais mais resistentes e persistentes que temos. Junto com o Albuquerque Heading Home, o programa Melhor Maneira, Albuquerque reduziu a falta de moradia em nossa cidade em 80% no ano passado. Desde que assumi a prefeitura, conseguimos reduzir a população dos sem-teto de nossa cidade em 40%. Pelo “Housing and Urban Development”, chegamos à funcional zero, o que significa que acabamos com a antiga falta de moradia em Albuquerque de forma intencional.
Fico feliz em dizer que outras cidades estejam aprendendo com isso. Outros prefeitos nos contataram. Chicago, Seattle, Denver, Dallas estão começando agora a implementar programas em que trazem a dignidade do trabalho para a equação. Mal posso esperar para aprender com eles, e ver como vai ficar a experiência e o projeto piloto deles, para começar a fazer um enfoque coletivo nacional pela dignidade do trabalho. Quero fazer um elogio a eles, prefeitos, comunidades, organizações, pelo trabalho que estão fazendo.
Quem será o próximo? Vocês e suas cidades estão prontos para tomar uma ação? Estão prontos para pensar diferente sobre essas questões sociais persistentes? Estão prontos para erguer sua comunidade por meio da dignidade do trabalho, e tornar sua cidade extremamente melhor de muitas maneiras? Se estão prontos, meus amigos, prometo a vocês que há uma melhor maneira.
Obrigado.
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