Pucón: Aconchego e adrenalina aos pés dos Andes
Sob a proteção de um deus telúrico – o Vulcão Villarica –, a charmosa cidadezinha chilena é dona de uma magnética beleza e de encantos únicos. Pelas suas ruas, desfilam o passado e o futuro, a tradição e a modernidade, a tranquilidade e a animação. Uma passarela de emoções que seduz a todos
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Por Fabíola Musarra
Fotos: Jaime Borquez
Impossível ir a Pucón e não ficar totalmente fascinado por essa pequenina cidade de pouco mais de 20 mil habitantes, situada na região dos lagos andinos chilenos, bem aos pés da Cordilheira dos Andes e a 789 quilômetros ao sul da capital Santiago. Roteiro ainda não muito divulgado pelas agências de viagens tupiniquins, Pucón não é só sinônimo de um lugar bucólico onde impera o ar puro das montanhas e dos bosques de seus parques nacionais. É também refúgio para quem quer escapar da frenética agitação dos centros urbanos ou de points badalados.
Paradoxalmente, é o endereço certo para quem busca aventura, especialmente para quem curte a adrenalina dos esportes radicais. Pucón em mapudungún – o idioma falado pelos mapuches, tribo indígena que foi praticamente dizimada pela colonização espanhola –, deriva da palavra "puconun", que pode ser traduzida como a porta ou a entrada à Cordilheira dos Andes ou a um lugar com abundância de algo. Metaforicamente, é um lembrete aos turistas sobre a existência dos vários destinos que podem ser desvendados a partir da cidade.
Para nós, brasileiros, o acesso a Pucón é feito a partir de voo rumo ao aeroporto de Santiago, de onde é preciso embarcar para Temuco (atenção: a conexão não é imediata). De lá, segue-se por uma estreita rodovia construída sob a montanha até a cidade. No verão, a vegetação desse trajeto é pontilhada por diferentes tons de verde e amarelo e recoberta por copihues vermelhos e brancos, a flor nacional do Chile cujo nome significa pequenos copos, em mapudungún. Após quase duas horas na estrada, é possível avistar o Lago Villarica, um dos mais deslumbrantes postais de Pucón. Com uma extensão de 27,5 km de profundidade, ele, ao lado da natureza que o circunda, compõe um balneário de exuberante beleza, com suas exóticas "praias" de águas cristalinas e negras areias vulcânicas, além do Vulcão Villarica. Majestoso, ele merece alguns parágrafos à parte.
Flores de madeira
Ao entrar em Pucón, duas pequenas floriculturas despertam minha atenção. Expõem exóticas flores de diferentes tamanhos e cores, das mais vibrantes às mais suaves. Curiosa, vou conhecê-las. Descubro que são feitas de mimbre, uma madeira nativa da região. Assisto à confecção de um exemplar, um ritual hipnótico que não dura sequer cinco minutos entre o corte da madeira para o talo, a feitura das pétalas da flor e a sua coloração. Ainda perplexa pela rapidez do processo artesanal e perfeição de seu resultado, sou informada por um dos proprietários que a fabricação dessas pitorescas flores – única no mundo – é uma tradição mantida por algumas famílias de Pucón. São elas que transmitem as técnicas de confecção de geração a geração.
Continuo a explorar a cidade. De imediato, percebo que tudo ali acontece basicamente em duas de suas ruas: a O'Higgins e a Fresia. Na primeira estão as agências de viagens onde é possível comprar pacotes de um dia, meio ou mais para visitar as diferentes atrações da região. Ali ficam ainda as casas de câmbio, os supermercados, correios, postos telefônicos e de outros serviços públicos, além do centro de informações turísticas. Também é na O'Higgins que se concentra uma grande variedade de lojas, desde as de roupas de grife até as que comercializam condimentos, compotas caseiras, artesanatos indígenas e joias e objetos de decoração produzidos com lápis-lazúli. O Chile é um dos principais produtores mundiais dessa pedra azul-royal. No Antigo Egito, ela foi usada pela rainha Cleópatra como um amuleto para atrair a sorte no amor.
Tentadora, também, é a Rua Fresia, com suas danceterias e acolhedores barzinhos. Eles servem sucos naturais (framboesa e cherimoia são os mais populares), cervejas, piscos (assemelha-se a nossa caipirinha, porém, é bem mais forte) e, é claro, os insuperáveis vinhos chilenos, considerados como um dos melhores do mundo. Há ainda cafeterias e padarias, cujas vitrines exibem saborosos pães, empanadas e outros petiscos do gênero. Por essa rua também se espalham graciosos restaurantes com seus cardápios integrados por pratos típicos da gastronomia chilena. Eles oferecem desde mariscos com camarão, salmão e trutas (bastante abundantes na região) até grelhados de avestruz, codorna, coelho, javali, cervo e cordeiro, este último é um dos carros-chefes da culinária local. Em outras palavras, a Fresia é a passarela por onde desfila a moçada descolada, os seguidores de Baco e os amantes da gastronomia de primeira.
Bem pertinho dessa rua fica a praça principal da cidade. Com avenidas internas limpas, bem cuidadas e repletas de flores e árvores, é uma boa opção para quem quer descansar, meditar, ficar zen, dar uma caminhada e até mesmo correr.
A arquitetura é de estilo andino
Tanto na praça como nas ruas que partem dela, noto o esmero com que foram construídos os bancos, as lixeiras e as placas de identificação dos nomes das ruas: todos apresentam um design rústico e foram caprichosamente esculpidos em madeira, um dos pontos fortes da economia da região ao lado do turismo.
A arquitetura das construções de Pucón é outro detalhe que se sobressai. São casas, lojas e edificações projetadas num peculiar estilo arquitetônico andino, que combina pedras, basalto vulcânico e vigas de madeira aparente. Resguardadas as diferenças, inclusive de população e de tamanho, as charmosas construções da cidade me fazem lembrar o município serrano de Campos de Jordão, no interior de São Paulo. Pucón, no inverno, transforma-se em uma glamourosa estação de esqui e snowboard. Já no verão a cidade despe-se de sua elegância e adquire um ar mais alegre e despojado. É quando o balneário é invadido por centenas de turistas do mundo todo. Eles ali chegam para desfrutar as serenas águas e "praias" do Lago Villarica, praticar iatismo, pesca, rafting e outros esportes. Ou simplesmente, apenas contemplar seus encantos, vivenciando um dolce far niente.
Opções de lazer, aliás, é o que não faltam em Pucón. As agências de turismo locais oferecem inúmeros passeios. A Sol y Nieve, uma das mais antigas e respeitadas da região, por exemplo, disponibiliza inúmeras pacotes, desde os que se propõem a fazer caminhadas e trilhas, andar de mountain-bike até se aventurar em um radical rafting e na ascensão ao cume do Vulcão Villarica. Distante 35 quilômetros a noroeste de Pucón, o Parque Nacional Huerquehue também possui trilhas de diferentes graus de dificuldade. De suas elevações – algumas atingem 2 mil metros de altura –, pode-se ver o Lago Caburgua, uma reserva formada há milênios pelo degelo dos Andes. Um pouco abaixo do Huerquehue fica o Parque Tinquilco, com chalés à beira do lago. Ele é ideal para quem busca um recanto de paz e o silêncio necessário a uma boa pescaria.
Já para quem gosta de fazer o coração pulsar a mil, a dica é o Rio Trancura (pedra triturada, em mapudungún), onde se pode fazer um eletrizante rafting. Com águas cristalinas mas nem sempre muito tranquilas, o rio apresenta corredeiras de níveis de dificuldade 3 e 4 (o nível máximo é 5, então dá para entender do que estou falando). Para quem não tem medo de altura e gosta de emoções fortes, a pedida é a tirolesa do Bosque Aventura. São 1.200 metros de pura adrenalina distribuídos por dez cabos de aço que circundam uma espécie de "ilha". No percurso chega-se a atingir 40 quilômetros de velocidade. E, a exemplo dos cabos, os nervos também têm de ser de aço.
Um vulcão que se chama Casa do Demônio
Aos pés do Vulcão Villarica, situado no parque nacional de mesmo nome, encontram-se as covas vulcânicas. São resultado de uma erupção ocorrida em 1787, quando lavas líquidas escorreram por um canal preexistente, atingindo desde a sua base até o topo de suas paredes. Quando as lavas esfriaram, o local havia se transformado em um pitoresco túnel. O túnel exibe diferentes formações vulcânicas. Algumas delas parecem ter sido cobertas por chocolate, enquanto outras se assemelham a cânions. O maior e mais importantes deles, porém, fica no lado de fora.
De uma ponte altíssima, pode-se observar a enorme fenda talhada pela erupção do Villarica. Tanto Pucón como Villarica situam-se no sopé do vulcão homônimo. Escalar suas encostas até atingir o pico de 2.849 metros de altura é uma aventura e tanto. Com fumarolas visíveis em dias de sol, lavas cujas temperaturas ultrapassam a 1.250°C e recoberto por 40 quilômetros quadrados de neve o ano todo, o Villarica é tido como o mais perigoso vulcão ativo da América do Sul. Teve 60 erupções. A pior delas foi em 1971, quando lançou 30 milhões de metros cúbidos de lavas. Elas devastaram estradas, campos e florestas, abrindo ainda uma fissura de 4 quilômetros de largura. Já sua última erupção ocorreu em 1984, quando desenhou no solo alguns novos atrativos turísticos. Vistas do alto, as marcas parecem o leito de um imenso rio seco.
O Vulcão Villarica é tão perigoso que as cidades situadas em suas proximidades são consideradas área de risco e contam com um rápido e eficiente sistema de evacuação, capaz de alertar e retirar os seus habitantes em cerca de 50 minutos. Em mapudungún, o nome do vulcão é "rucapillán" e pode ser traduzido como a casa do demônio. Apesar do perigo explícito, a subida à cratera de 200 metros de diâmetro do Villarica é um desafio tentador. De carro, sobe-se por uma encosta tortuosa até atingir aproximadamente 1,2 quilômetros de altitude. Em seguida, toma-se um teleférico de 300 metros de extensão. A partir daí começa a escalada sobre a neve. Só para percorrer a distância restante até a cratera – menos de 1,4 quilômetros – demora-se de cinco a sete horas, já que a escalada não é feita em linha reta, mas em ziguezague. Por duas vezes tentei escalar sem sucesso o imponente vulcão, cheguei inclusive a entrar na fila do teleférico. A rápida mudança do tempo, porém, não deixou.
Embora frustrada, me senti emocionada por estar pisando em um vulcão ativo. Lembrei, então, que os mapuches são politeístas. Adoram o Sol, a Lua, as forças da natureza. Para eles, o Villarica é um deus impulsivo e poderoso. Como os indígenas chilenos, percebi rapidamente o quanto esse mítico deus é temperamental. O seu péssimo humor dos últimos dias fez com que sequer quisesse ouvir falar de visitas. Decidi respeitar o seu desejo e ir embora, mas não antes de lançar um olhar de despedida e de, bem baixinho, lhe sussurrar uma prece: "Quem sabe da próxima vez, ó intempestivo deus da natureza, você me convide a entrar".
Águas termais, hotéis & cruzeiro
Texto e fotos: Jaime Borquez
Pucón hoje tem aproximadamente 22 mil habitantes, mas na temporada de esqui esse número aumenta cerca de 30%, enquanto no verão triplica com os turistas que ali lotam os hotéis, pousadas e apartamentos para alugar. É bom lembrar que onde há vulcão em atividade existe sempre lugares com águas termais. Pucón não é uma exceção. Em seus arredores situam-se dezenas de centros termais. Se você deseja conhecer um deles, a dica é o Parque Termal Menetue, que fica na orla da Lagoa Ancupulli e tem instalações bem ao estilo patagônico. Ele está catalogado como o centro termal mais exclusivo de Pucón e possui um SPA de alta tecnologia, que o converte no mais moderno do Chile. Tem cinco piscinas cobertas ao ar livre, além de uma exclusiva para adultos, com ambiente climatizado. Também conta com serviços de sauna, banhos de vapor, jacuzzi, ducha escocesa e variadas opções de terapias e massagens para seu relax. O seu restaurante, o Fusión, combina com arte a gastronomia mapuche, a patagônica e carnes exóticas. E se gostou e deseja ficar, há aconchegantes cabanas equipadas com quitinetes, aquecedor a lenha e tevê a cabo. Informações: www.menetue.com
Já quem procura por um hotel mais central, a dica é o Hotel Boutique Patagonia Pucón. Focado na sustentabilidade, ele fusiona o estilo country e a modernidade. Fica em pleno centro de Pucon, a poucos passos da rua que concentra os mais típicos restaurantes e muito perto do cassino e da praia. Seu desenho integra detalhes de construção típica da montanha, como a pedra e a madeira, próprios da etnia mapuche, que povoa a parte norte da Patagônia Chilena. O café da manhã no bufê artesanal conta com uma gama de produtos típicos da região lacustre, delicadamente preparados pelas comunidades de Pucón, de raízes nativas. O hotel dispõe de 16 amplas e confortáveis habitações. Todas são equipadas com fechaduras eletrônicas, calefação central, caixa forte, wi-fi, TV full HD e frigobar. Seu ponto alto, porém, fica por conta da atenção personalizada que oferece aos hóspedes. Mais detalhes: www.hotelpatagoniapucon.cl
Mas para quem deseja uma estadia em grande estilo, a opção é o Villarrica Park Lake, um hotel que faz parte da famosa rede internacional The Luxury Collection, o que já é um argumento suficiente para assegurar que o lugar é, simplesmente, o melhor da região. Ele fica na estrada entre a cidade de Villarrica e Pucón, debruçado na orla do lago Villarrica, paisagem que entra majestosamente pelas janelas de todas as habitações. O requinte da gastronomia internacional e regional se mostra aos hóspedes no Restaurante Águas Verdes, onde peixes, frutos do mar e carnes chilenas estão sempre presentes. Destaque especial para o Entrecôte de Cordeiro de Lonquimay, cidade próxima de Pucón, famosa pela criação de ovelhas. E se desejar ter maior relax, o hotel oferece um SPA com serviços de cosmetologia, cabeleireiro, massagens, tratamentos com pedras quentes e, pasmem, chocolate, café e produtos exclusivos, trazidos do Mar Morto. Informações: www.villarricaparklake.com
Travessia à Argentina
Como já foi dito, Pucón significa "entrada para a Cordilheira", na língua mapuche, porta de entrada para uma das zonas mais ricas em águas termais e reservas ecológicas do país. E é justamente por uma de suas entradas para a cordilheira que se faz um dos mais exclusivos passeios da região: a travessia até a cidade argentina de San Martin de Los Andes. Durante muito tempo, o chamado Cruce dos Lagos Andinos foi um dos programas turísticos mais vendidos no Brasil. De uns tempos para cá, esse passeio novamente passou a ser bastante concorrido. Afinal, cruzar a imponente Cordilheira dos Andes entre o Chile e Argentina é uma aventura emocionante, na qual se misturam natureza, paisagens deslumbrantes e o plus de estar em dois países numa mesma viagem. É por essas e muitas outras razões é o programa Travessia Navegando Chile Argentina, está se transformando em top one desta e certamente de muitas outras futuras temporadas.
A travessia começa em Pucón, onde há três noites de estadia, com tempo mais do que suficiente para aproveitar as variadas opções de turismo que a cidadezinha chilena oferece. A saída para Argentina se inicia cruzando a cordilheira andina por Hua-Hum, margeando os lagos Villarrica, Calafquén, Panguipully e a reserva de Huilo Huilo, com sua bela cachoeira.
Assim se chega até Puerto Fuy, de onde se embarca na balsa que navega por hora e meia até chegar a Puerto Pirihueico. Depois dos trâmites de imigração, o destino é a alfândega argentina, onde também é necessário preencher os documentos de entrada no país. Em seguida, é a hora de embarcar na moderna lancha Patagônia 1, com capacidade para 115 passageiros. Pode-se viajar na parte coberta ou sair ao exterior, tendo 365 graus de paisagem andina.
A segunda parte do programa inclui a passagem pelos lagos Nonthué e Lacar, além de uma pequena caminhada na Ilha Santa Teresita. Após duas horas, chega-se na cidade argentina de San Martin de los Andes. A travessia completa dura perto de dez horas e, quando o clima complica, o trajeto se faz tranquilamente por Mamuil Malal, também permeado por belas paisagens, sempre circundadas por lagos, rios e pelas nevadas montanhas andinas.
No dia seguinte há tempo suficiente para conhecer a encantadora San Martin de los Andes e fazer compras. À tarde se inicia a excursão aos Sete Lagos, que percorre os Andes do lado argentino até chegar a Villa La Angostura. Ali há uma parada para o café e os chocolates e a viagem continua até San Carlos de Bariloche, onde se tem dois dias para fazer os passeios como Circuito Chico, Cerro Campanário, Ilha Victoria. Ou simplesmente se preferir ir a um bom restaurante e saborear um gostoso bife chorizo acompanhado por um vinho Malbec. Nada poderia ser mais argentino do que isso!
A viagem chega ao final, mas quem desejar pode retornar ao Chile ou optar pela extensão deste programa, incluindo as cidades argentinas de Bariloche e Buenos Aires, com volta ao Brasil pela capital portenha. Uma volta muito tentadora! A Travessia navegando Chile e Argentina é uma excelente alternativa para conhecer e admirar os encantos que ocultam os vales da mítica Cordilheira dos Andes, e as cidades de Pucón e San Martín de los Andes, um passeio dois em um. E para quem já fez o programa Lagos Andinos, entre Puerto Montt e Bariloche, há aqui uma nova oportunidade de admirar a beleza da natureza sob um novo ponto de vista, por uma região quase desconhecida do Cone Sul. www.inoutpatagonia.cl
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