Plantar árvores não basta. É preciso conservar as florestas
As florestas naturais capturam muito mais CO2 do que as artificiais. Um novo estudo não apenas confirma isso, mas demonstra que as florestas naturais (e por isso mesmo bem mais ricas em biodiversidade) funcionam melhor do que as monoculturas e as plantações dominadas por uma única espécie.
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Por: Luis Pellegrini
Quando falamos de meio ambiente e preservação do planeta, uma das noções sobre as quais a totalidade do mundo científico concorda é que as árvores são ótimos reservatórios naturais de CO2 (dióxido de carbono, também conhecido como anidrido carbónico, um dos principais gases que provocam o efeito estufa). As árvores são capazes de capturar CO2 da atmosfera e de conservá-lo no tronco e nas raízes. Assim sendo, as florestas constituem uma das nossas armas principais na luta contra a crise climática. Um novo estudo publicado na revista Environmental Research Letter não apenas confirma essa ideia, como demonstra que as florestas naturais, que são muito mais ricas em biodiversidade, funcionam melhor na captura do CO2 do quem as monoculturas e as plantações dominadas por uma única espécie.
Mapa da localização das florestas pluviais no mundo
Essa constatação torna ainda mais premente proteger as grandes florestas do nosso planeta: a começar por aquelas que mais estão em situação de risco a curto prazo, tais como as florestas do sudeste asiático, a Amazônia, as africanas, sobretudo as de Madagascar. Uma pesquisa publicada na revista Nature Climate Change trata exatamente da floresta pluvial de Madagascar, que poderá deixar de existir até o ano 2070.
Biodiversidade significa melhor qualidade de vida para todos
Partamos do primeiro estudo citado acima: uma equipe de pesquisadores da Columbia University calculou a capacidade de acumular CO2 de algumas florestas – sejam elas naturais ou artificiais, em particular plantações da madeira teak e de eucalipto da região dos Ghats, na Índia. Os resultados da investigação demonstram que as florestas naturais verdes perenes acumulam de 30 a 50% a mais de CO2 do que as florestas artificiais e as plantações agrícolas. Demonstram também que, em termos de performance, as florestas artificiais e as plantações podem ser comparadas às das florestas decíduas (uma variedade de florestas temperadas dominadas por arvores que perdem suas folhas a cada ano, e que são encontradas em áreas com verões quentes e úmidos e invernos frios). As florestas tropicais, quentes e úmidas, como é o caso da nossa Amazônia, são as mais eficientes para a captura do CO2.
É por isso que as notícias sobre a destruição das florestas tropicais de Madagascar são tão preocupantes. Em seu estudo, os pesquisadores do CUNY de Nova York calcularam o ritmo em que o desflorestamento da grande ilha africana está pondo a nu seus habitats naturais, e cruzaram esses dados com as previsões sobre o clima para as próximas décadas. Os resultados dizem que, nas condições atuais, a inteira floresta pluvial de Madagascar desaparecerá até o ano 2070, sendo substituída com toda probabilidade por um deserto inabitável.
A perda que isso representa seria incalculável, já que o Madagascar é um dos lugares com a maior concentração de biodiversidade do mundo, e entre 80% e 90% das espécies que nele habitam são endêmicas da ilha.
Áreas prioritários para o reflorestamento
Madagascar está longe de ser a única região do mundo que é objeto da atenção e da preocupação dos especialistas. Por exemplo, pesquisadores identificaram faixas de florestas tropicais perdidas como os melhores lugares para replantar árvores, na esperança de corrigir parte dos danos causados pelo desmatamento e limitar as mudanças climáticas.
Um estudo de quatro anos usou imagens de satélite de alta resolução para identificar mais de 100 milhões de hectares desnudados – do Sudão do Sul ao Brasil e Índia – que proporcionariam bons resultados se reflorestados.
“Globalmente, mais da metade das florestas tropicais do mundo desapareceu – a maior parte nos últimos 50 anos”, disse Robin Chazdon, professora da Universidade de Connecticut. “Essas florestas fornecem uma enorme quantidade de funcionamento e serviços ao nosso planeta e às pessoas que não são apreciadas”, disse ela à Thomson Reuters Foundation.
Os trópicos perderam 12 milhões de hectares de cobertura de árvores em 2018, a quarta maior perda anual desde que os registros começaram em 2001, de acordo com o serviço de monitoramento florestal Global Forest Watch.
A maior preocupação, segundo ele, foi o desaparecimento de 3,6 milhões de hectares de florestas tropicais antigas, uma área do tamanho da Bélgica, muito devido a incêndios, desmatamento de áreas de preservação localizadas em fazendas e mineração.
Ambientalistas dizem que proteger as florestas existentes e restaurar as danificadas impede inundações, armazena carbono, limita as mudanças climáticas e protege a biodiversidade. Os pesquisadores analisaram quais áreas da floresta tropical – se replantadas – produziriam os maiores benefícios para proteger a vida selvagem, refrear e adaptar-se às mudanças climáticas e aumentar a segurança da água. Outros fatores incluíram custo de restauração, risco de investimento e a probabilidade de florestas restauradas sobreviverem no futuro.
Estudos identificaram também os 15 principais países com os maiores hotspots de reflorestamento. A lista inclui Brasil, Indonésia, Índia, Madagascar, Colômbia, Filipinas, Vietnã, Mianmar e Tailândia. Os seis países com maior potencial de restauração bem-sucedida da floresta tropical são todos africanos: Ruanda, Uganda, Burundi, Togo, Sudão do Sul e Madagascar.
Mais de 70% dos hotspots foram encontrados em países que já assumiram compromissos de reflorestamento no âmbito do Desafio de Bonn, acordado pelas nações da Alemanha em 2011. Esse esforço exige que 350 milhões de hectares de terras degradadas em todo o mundo sejam restaurados até 2030. Alguns países, incluindo China, Índia, Malawi, Camarões e Costa do Marfim, já lançaram esforços de plantio de árvores em larga escala com algum sucesso. Mas os pesquisadores disseram que esses esforços geralmente obtêm resultados variados devido aos tipos de árvores utilizadas, qualidade da cobertura das plantações e seu valor para proteger as espécies nativas. Qualquer decisão sobre a mudança no uso da terra deve envolver completamente as comunidades locais, pois o reflorestamento deve complementar e não competir com a segurança alimentar e os direitos à terra, disse o estudo. “Restaurar florestas tropicais é fundamental para a saúde do planeta, agora e nas próximas gerações”, disse o principal autor Pedro Brancalion, da Universidade de São Paulo.
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