O recuo da morte. A imortalidade bate à nossa porta
Cirurgião e urologista francês, Laurent Alexandre fala aqui das incríveis mudanças que estão acontecendo e as que irão acontecer na vida humana graças aos progressos da ciência e da biotecnologia. Para ele, o sonho da imortalidade está cada vez mais perto de se tornar realidade.
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Vídeo: TEDx Paris
Dono de uma mente curiosa e inquieta, Laurent Alexandre não limitou seus estudos à medicina, especializando-se na área da urologia. É também formado em ciências gerais, em genética e informática. Hiperativo, pioneiro da Internet, maratonista, é o fundador do site Doctissimo.fr. Autor em 2011 de um ensaio intitulado “A morte da morte”, ele se mostra cada vez mais interessado na revolução tecnológica que acontece em nossos dias, e nos efeitos que ela produzirá para a pessoa e a sociedade humanas.
Esta palestra, pronunciada no TED Paris, é a primeira da organização a superar a casa de um milhão de visitantes no site oficial do TEDx.
Vídeo: O recuo da morte
Tradução integral da palestra de Laurent Alexandre no TEDx Paris:
Bom dia. Hoje eu falarei do último tabu: nossa morte. Quando morremos?
Veem? É a evolução da nossa esperança de vida há 250 anos. Ela já triplicou. Passou de 25 anos, em 1750, para mais de 80 anos. Atualmente, nossa esperança de vida aumenta três meses a cada ano. Isto significa que quando ficamos um ano mais velho nos aproximamos apenas nove meses de nossa morte!
Até onde poderá ir este recuo da morte? É um titulo individual, para o nosso futuro pessoal, e a título coletivo, uma questão absolutamente essencial.
Há quatro cenários: a flecha verde, é o cenário dos pessimistas, os que acreditam em certos ecologistas. É um decréscimo da esperança de vida, devido à poluição, aos OGM (organismos geneticamente modificados), ao aquecimento climático.
Temos um segundo cenário, a flecha branca, é uma parada da tecnologia, que terá chegado a um ponto máximo, que terá atingido um limite. O cenário azul, é um cenário de avanço lento de nossa esperança de vida que chega a até 120-130 anos. E depois há um quarto cenário, a flecha vermelha. É um cenário de explosão tecnológica, com um aumento muito rápido de nossa esperança de vida a partir do século 21.
O ser vivo é extraordinariamente complexo. Nossas células, nossos tecidos, nossos órgãos, são extraordinariamente complexos. Não faz muito tempo, analisar, compreender e manipular nosso funcionamento biológico era considerada uma tarefa irrealizável.
Mas, hoje em dia, a realidade tecnológica está mudando. Aquilo a que chamamos tecnologia NBIC nos permitirá lutar contra a morte, o envelhecimento e as doenças, graças à medicina preventiva que tem um poder que era inimaginável há algumas décadas.
As tecnologias NBIC: N é para nanotecnologia, são tecnologias que permitem agir em bilionésimo de um metro. B, as biotecnologias; I, a informática; C, as tecnologias cognitivas, quer dizer, as ciências do cérebro, das quais se fala tanto, e a inteligência artificial.
Graças às tecnologias NBIC, a ficção científica do passado será a medicina-realidade. Poderemos reparar nossos órgãos em escalas cada vez menores. Modelar, modificar nosso DNA, reparar nossas células, criar órgãos artificiais inteiros, fazer implantes eletrônicos, desenvolver a cirurgia robótica, ser curado pelos nanomotores, graças a nanosensores e a nanoimplantes.
No cerne de nossos tecidos, no interior de nossas células. E naturalmente, um ponto essencial, graças à modelagem. A modelagem, quer dizer, a análise e a decodificação do ser vivo graças a computadores poderosos.
A lei de Moore é a base dessa revolução tecnológica. Gordon Moore foi o fundador, o co-fundador da Intel, os microprocessadores, e desde os anos 60 ele previu que a potência dos computadores dobraria a cada 18 meses. Isto nunca foi desmentido. Um único chip, como aquele que veem, e que cabe na palma da mão, realiza um trilhão de operações por segundo. Os maiores servidores de computador efetuam 15 trilhões de operações por segundo.
O patamar de trilhões de operações por segundo será alcançado em 2018. É o que chamamos de hexaflop. Essas potências computacionais absolutamente colossais tornam possível o que era inimaginável há algumas décadas: compreender e modelar o ser vivo.
Convém notar que cada um de nós possui um trilhão de células, que são pequenas fábricas com maquinário biológico do tamanho de poucos nanômetros. A revolução das nanotecnologias possibilita atuar justamente naquela escala de um bilionésimo de metro. Seremos capazes de decodificar e reparar nosso DNA, regenerar nossas células e tecidos, aumentar nossas capacidades, poderemos reprogramar nossos órgãos.
E depois, o professor Lledo nos falou bastante sobre isto, começamos a interfaciar nossas células com componentes eletrônicos, inclusive com os nossos neurônios.
Por que esta revolução tecnológica não lhes é familiar? Nós não a vimos chegar? Por duas razões: a primeira, é que ainda estamos numa fase subterrânea: houve poucos resultados visíveis para o grande público do que foi produzido nos laboratórios. Durante uns 20 anos aprendemos a decifrar o ser vivo, especialmente o nosso genoma, desenvolvemos progressivamente os tijolos principais que permitem reparar, manipular o ser vivo, mas a fase de democratização destas tecnologias e de suas ferramentas. A democratização do reparo do ser vivo deverá acontecer a partir de 2015, e é a razão pela qual não estão familiarizados com estes avanços.
A segunda razão, é que os próprios cientistas não anteciparam nada. O grande Jacques Monod, o fundador da biologia molecular moderna, escreveu em 1970 – é um Prêmio Nobel muito respeitado entre os biólogos – “O tamanho do DNA sem dúvida, nos impede para sempre de modificar o genoma, i.e., os cromossomos.” Seis anos mais tarde, em 1976, começaram as primeiras manipulações genéticas. Mais recentemente, em 1990, 12 anos atrás, o consenso mundial entre os geneticistas era o de que jamais poderíamos sequenciar, analisar a totalidade de nosso DNA, a totalidade de nossos cromossomos. Os mais pessimistas julgavam que seriam necessários de 3 a 5 séculos. Na verdade, este programa terminou em 2003. Hoje, as coisas estão mudando. A revolução NBIC emerge das sombras, e chegam as primeiras conquistas visíveis para o grande público: o sequenciamento do DNA.
Um geneticista, em sua vida inteira, sequenciava alguns milhares dos três bilhões de bases químicas do DNA. Hoje, um sequenciador como aquele, em 4 horas sequencia um genoma inteiro. São dezenas de bilhões de pares de bases do DNA!
Em 13 anos, o custo do sequenciamento do DNA passou de 3 bilhões de dólares - e naquela época tinha sido realizado apenas por uma única pessoa - para mil dólares, e em breve baixará para cem dólares. Os custos caíram em 50% a cada 5 meses; foram divididos por 3 milhões em novembro. Trata-se realmente de um tsunami tecnológico: todos nós seremos sequenciados. Isto permitirá desenvolver uma medicina personalizada, guiada pelas nossas características genéticas o que é especialmente importante em oncologia, visto que, infelizmente, um em cada quatro de nós terá câncer.
Estas tendências não foram previstas. Pegaram de surpresa os próprios especialistas. Se eu dissesse no ano 2000, que poderíamos ter, como eu o tenho, neste pendrive todo o nosso genoma, seria considerado um utopista. Como um autor de ficção científica. Talvez desacreditado pela comunidade científica, entretanto é uma realidade.
As ondas de inovações tecnológicas agora vão se acelerar. Três grandes ondas estão vindo: primeiro, a revolução da eletrônica médica; depois dos implantes cocleares, nos anos 90, para tratar de crianças surdas, os implantes no cérebro para tratar da doença de Parkinson, para tratar os distúrbios obsessivos, e os distúrbios alimentares graves. No momento a depressão e, a título experimental, o Alzheimer, estão vindo. Estão sendo desenvolvidos: as primeiras retinas artificiais para tratar os cegos; o primeiro coração artificial que deverá ser implantado no próximo ano. A robótica cirúrgica se desenvolve, e podemos pensar que em 2030, os cirurgiões serão especialistas em biomecânica e em informática e não tocarão mais nos pacientes.
Ainda mais espetacular: a bioengenharia, ao nível do DNA manipulando o DNA para reprogramar nossas células, ao nível celular, a regeneração dos tecidos por células-tronco – Fabrice fala disso sempre, e ao nível dos tecidos, a engenharia tissular, que visa fabricar órgãos inteiros. E dentro de alguns meses, o primeiro órgão criado totalmente de modo artificial (uma laringe)será implantado em um paciente que nunca teve laringe. Enfim, a nanomedicina está chegando.
O primeiro congresso internacional de nanomedicina, ou seja, a medicina na escala de bilionésimo de um metro, realizou-se em 2012. E começamos a ter implantes de tamanhos cada vez menores que gradativamente poderão agir no interior de nossas células e tecidos.
Eis as três ondas de inovações das quais poderão se beneficiar por volta de 2020.
Poderemos surfar de uma onda tecnológica para a próxima.
Com a tecnologia que sai dos laboratórios e da qual vocês vão se beneficiar em 2020, podemos ter várias décadas a mais gozando de boa saúde.
Por volta de 2050, vamos nos beneficiar de outras ondas tecnológicas, talvez ainda mais espetaculares que aquelas que hoje saem dos laboratórios.
E com isto poderemos ganhar mais uma década. De salto em salto, é possível que nos beneficiemos de uma expectativa de vida que atualmente nem mesmo podemos imaginar.
E você, pensa como certos especialistas que o homem será imortal a curto prazo? Minha convicção pessoal é que alguns de vocês aqui presentes viverão mil anos. Eu lhes agradeço.
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