O porto perfumado. Hong Kong em um vídeo psicodélico
Quando a visitei, Hong Kong me presenteou com duas sensações igualmente intensas e totalmente opostas: a de experimentar uma grande liberdade, e a de viver aprisionado. Faça um voo rápido sobre uma das mais densamente povoadas cidades do mundo, levado por um vídeo um tanto atordoante, porém belíssimo.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Por: Luis Pellegrini
Vídeo: Kirill Neiezhmakov
Fonte: www.luispellegrini.com.br
As emoções que vivi durante minha visita a essa ex-colônia britânica, hoje totalmente integrada à nação chinesa, começaram já na descida do avião. Para aterrissar no aeroporto da cidade – uma estreita faixa de concreto edificada sobre uma zona aterrada do mar, o Boeing da Alitalia que me carregava teve de percorrer primeiro todo um trajeto a baixíssima quota sobre uma grande avenida, com edifícios altíssimos que desfilavam à direita e à esquerda. Dava até para ver as pessoas acenando das janelas dos apartamentos!
Do aeroporto, todos que viajavam comigo foram para o hotel, menos eu. Minha mala não chegou. Foi parar em Tóquio, próximo parada do voo da companhia italiana. Preenchidos os papeis e cumpridas as formalidades, um funcionário pôs na minha mão um bilhete de cem dólares a título de indenização, e disse que entregariam minha mala no hotel no dia seguinte, quando o mesmo avião pararia em Hong no roteiro da volta.
E foi assim que eu saí do aeroporto a pé, vestindo uma camiseta, calça jeans e um par de sandálias – era pleno verão. Um relógio no pulso, óculos pendurados sobre o nariz, e na cintura uma pochete contendo o passaporte, a passagem e a carteira subitamente engordada com os cem dólares.
Como descrever a alegria que se apoderou de mim quando me vi descendo os degraus que levam para fora do aeroporto sem carregar absolutamente nada nas mãos? Nem um pacotinho, nem uma revista, nada. Livre e solto como nunca estivera antes em uma viagem. E lá fora, diante dos meus olhos, estava a imensa metrópole chinesa, uma das cidades mais densamente povoadas do mundo.
Sardinha em lata
Como alegria dura pouco, no dia seguinte, pulei daquela sensação de total liberdade e desprendimento para uma outra, oposta: a de ser uma sardinha em lata. Em Hong Kong você não caminha. É simplesmente levado para lá e para cá por uma onda formada por dezenas, centenas de milhares de pessoas em movimento pelas ruas.
Fui até o escritório da Alitalia, no 8o andar de um arranha-céu comercial situado em Kowloon, no coração da cidade. A porta do elevador se abriu, e diante de mim estava um longo e largo corredor forrado com um carpete verde, como se fosse grama. Encostados nas paredes, à direita e à esquerda do corredor, dezenas de meninos e meninas, escolares, permaneciam tranquilamente em silêncio, lendo, mexendo em notebooks ou celulares, fazendo seus deveres escolares.
“Isto aqui deve ser uma escola”, pensei. Mas no escritório da Alitalia um funcionário italiano esclareceu: “São crianças que moram nas redondezas. Vão à escola pela manhã. Almoçam lá, e em seguida vêm direto para cá. Estão em todos os andares. Só voltam para suas casas no final do expediente. Os corredores dos prédios comerciais são os únicos lugares onde elas podem estudar em tranquilidade. Essas crianças moram em cubículos, os irmãos mais velhos ocupam todos os espaços, as televisões permanecem ligadas, e não sobra nada para os menores... Mas aqui eles não perturbam minimamente. Falam baixo, são muito bem educados, não perturbam ninguém”. Tudo bonitinho, tudo bem organizado. Mesmo assim um arrepio percorreu-me a espinha quando novamente atravessei aquele corredor: Que tipo de adulto se tornará uma criança que passou a maior parte da vida num corredor de prédio comercial? Sentada horas a fio num gramado de matéria plástica? Que viver verá.
O porto perfumado
O nome Hong Kong significa “porto perfumado” (Xianggang). Mérito das fábricas de incenso que, no passado, estavam espalhadas por todo o seu território. Em 1842, depois da primeira guerra do ópio entre a China e o Reino Unido, a cidade e o seu porto – já na época muito importante para o tráfico do ópio – tornou-se uma colônia inglesa. Hoje reintegrada à China, Hong Kong é conhecida pela profusão de arranha-céus, por ser um dos principais centros financeiros do mundo, e um entreposto comercial com poucos rivais. Apesar de se encontrar na China comunista.
Em 1997, com efeito, a soberania da cidade-Estado passou do Reino Unido para a China. Mas o enclave permaneceu, como era desejo dos seus habitantes, uma região com estatuto autônomo (e permanecerá assim até o ano 2047). Por causa disso fala-se de “um país, dois sistemas”, com uma moeda toda sua – o dólar de Hong Kong -, um sistema de leis ainda baseado na Common Law inglesa e um sistema escolar de modelo britânico. E inclusive um governador independente que, como estabelece a Constituição (Hong Kong Basic Law), é eleito por um restrito círculo de pessoas, um comitê eleitoral composto por cerca de mil membros. Mas isso deverá durar pouco. Os acordos anglo-chineses, com efeito, planejaram inclusive o futuro da ex-colônia: em 2017 está prevista a introdução do sufrágio universal, que será um passo fundamental para a democratização.
O vídeo abaixo reproduz uma certa sensação de nervosa velocidade que se experimenta em Hong Kong. O autor, Kirill Neiezhmakov, é um fotógrafo ucraniano que passou meses em Hong Kong para realizar este trabalho em timelapse e hyperlapse. Os ingredientes são imagens muito sugestivas, uma boa dose de elementos psicodélicos e uma trilha sonora vibrante. O resultado é um mix entre o conhecido cenário noturno da cidade e alguns recantos mais escondidos, porém deslumbrantes da metrópole chinesa.
Video: Hong Kong em timelapse e em hyperlapse, por Kirill Neiezhmakov
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247