O medo é democrático. As fobias estão em toda a parte, mas podem ser curadas
Aviões, aranhas, serpentes, mas também telefones, belas mulheres, palhaços, sogras. As fobias mais estranhas e as terapias que ajudam a superá-las.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Por: Equipe Oasis
Imagine cruzar na rua com uma garota esplêndida: salto alto, curvas bem dosadas, lábios sensuais... em resumo, uma gata de parar o trânsito. Mas se você, em vez de se voltar para admirá-la, começa a tremer e a transpirar com suor frio, ao mesmo tempo em que uma sensação de náusea e de opressão lhe invade, então provavelmente você sofre de caliginefobia, um terror pelas belas mulheres. Talvez temperada com uma pitada de filematofobia, um medo doido de beijar e ser beijado. Mas se, em vez disso, o que lhe dá medo são os beijos da sua sogra, então talvez você sofra de penterafobia (uma aversão injustificada pela mãe da sua esposa).
Uma lista sem fim
O elenco das fobias mais insólitas poderia continuar ao infinito. Existem aqueles que não suportam a visão de um joelho – nem sequer dos seus próprios joelhos – (genufobia), quem treme, e não apenas de frio, quando cai a neve (quionofobia), e quem tem um tal pavor das sombras (erebofobia) que acaba decidindo viver na escuridão mais absoluta. Outros temem os ângulos e os cantos das casas e dos edifícios (gonofobia), sentem pânico diante de um prato de sopa de verduras (lachanofobia) ou quando chegam perto de um computador (os ciberfóbicos, que dificilmente lerão estas informações nesta revista digital). São distúrbios bastante insólitos, é verdade, mas existem, são sérios e podem bloquear o indivíduo. Além disso, podem atacar qualquer pessoa, sem distinção.
Fobias para todos os gostos
“O medo é democrático”, afirma Giorgio Nardone, psicólogo, psicoterapeuta e diretor do Centro de Terapia Estratégica de Arezzo, na Itália ( um instituto de pesquisa, treinamento e cura dessas patologias). “Em 20 anos de terapia cuidei de cerca 15 mil pacientes, dos quais 52% são mulheres e 48% homens). Não existe portanto uma diferença significativa quanto ao sexo dos pacientes, e nem quanto à sua classe social. Nem mesmo médicos e psicólogos, que quase diariamente cuidam de pessoas fóbicas, estão imunes e a salvo da síndrome”.
Os graus crescentes do sentimento de pânico:
Simples desgosto: contração dos músculos faciais; náusea; desejo de se afastar.
Medo: elevada produção de adrenalina; aumento da sudorese e do ritmo cardíaco; tremores; maior nível de atenção.
Fobia: taquicardia; sensação de contrição no peito; temor de desmaio; temor de morrer; afastamento fóbico.Em resumo, se para você fobia era uma coisa relacionada a aranhas e serpentes, chegou a hora de atualizar o glossário. Alguns pesquisadores tentaram produzir catálogos das fobias mais estranhas. Na Internet vários deles estão disponíveis e o número de verbetes coletados supera a casa dos mil. Infelizmente, mais que oferecer algum tipo de ajuda terapêutica a quem sofre desses distúrbios, esses catálogos servem mais para satisfazer a curiosidade dos leitores “sadios”.
Diante de um caso de fobia bizarra, alguns riem, outros fazem piada, outros ainda se irritam. Mas a verdade é que na maioria das vezes não existem motivos para risadas. As fobias são patologias que podem tornar muito dura a vida das pessoas acometidas. Embora algumas modalidades moderadas de fobia sejam aceitáveis e consideradas apenas “tiques” da pessoa, outras incomodam e não são aceitas ou toleradas.
Fobias aceitáveis, e outras menos
É difícil confessar a amigos e a conhecidos que se tem medo de objetos e situações aparentemente tão “inócuos”. Arrisca-se a ser tomado por um doido. Ou de ser considerado um débil ou uma pessoa cheia de caprichos.Tente pensar em permanecer bloqueado dentro de um elevador, parado entre dois andares muito altos. É fácil imaginar um ataque de claustrofobia nessas circunstâncias. Mas o que pensar de um colega que sente um medo tremendo de escadas e degraus (batmofobia)? Ou se um outro amigo, depois de várias tentativas inúteis e crises de pânico, lhe implorasse para dar um telefonema em seu lugar porque ele tem pavor só de pensar em discar o número do telefone?
Com efeito, como você reagiria se, num dia ventoso, soubesse que um parente faltou ao encontro e preferiu ficar trancado em casa por sentir um medo irracional de rajadas de vento (anemofobia)? Ou um temor incontrolável de sombras (esciofobia), que o obriga a trancar-se num quarto escuro, evitando dessa forma todo contato com o mundo exterior?
E que dizer dos que sofrem de ciberfobia (medo de computadores), patologia que para eles reduz enormemente o leque de possibilidades de trabalho e emprego?
AS DEZ FOBIAS MAIS ESTRANHAS
Eufobia: medo das boas notícias
Itifalofobia: medo da ereção do pênis
Curlofobia: medo de palhaços
Estaurofobia: medo de cruzes
Autodisomofobia: medo de pessoas que cheiram mal
Levofobia: medo de coisas que se encontram à esquerda do corpo
Ostraconofobia: medo de ostras e mariscos
Rabdofobia: medo das varetas de radiestesia
Hexakosioihexekontahexafobia: medo do número 666
Panfobia: medo de tudo
Uma doença como qualquer outra
No entanto, quem sofre de um desse distúrbios bizarros não padece menos de claustrofóbido “normal”, ou de um ainda mais “popular” aracnofóbico (o que tem medo de aranhas). Taquicardia, náusea, vertigem, tremores, medo de desmaiar, morrer ou perder o controle de si mesmo, pânico e sentimento de aperto no peito são sintomas frequentes e comuns nos fóbicos, independentemente dos medos que os atormentam. É comum a todos eles a tentativa de afastar de todas as maneiras possíveis os objetos e as situações que temem (aquilo que os terapeutas chamam de “evitamento fóbico”).
É também comum à maior parte dos fóbicos uma certa relutância para procurar um especialista, sobretudo no caso de fóbicos atacados por distúrbios mais bizarros, que procuram esconder seus temores pelo tempo mais longo possível. A tal ponto que patologias desse tipo escapam inclusive às estatísticas médicas oficiais.
Como nascem as fobias?
Os especialistas divergem quanto a origem das fobias. Há os que pensam que a responsabilidade é em grande parte genética. Com efeito, examinando o DNA de um grupo de pessoas que sofriam de ataques de pânico, fobias e outros distúrbios de ansiedade, o cientista espanhol Xavier Estivill notou que 97% deles apresentava uma duplicação do material genético presente em um cromossomo particular, o de número 15. É possível, portanto, hipnotiza Estivill, que os genes estejam de algum modo envolvidos na origem desses medos incontroláveis.
Hipótese relacional - Uma hipótese mais relacional diz que as fobias são “aprendidas”, com o passar dos anos, através da relação com os pais e outros educadores. “Quem vem de uma família híper protetora corre com mais frequência apresentar, ao longo da vida, distúrbios similares. Quando encontram obstáculos maiores do que aqueles que estão acostumados a enfrentar, tais pessoas não encontram instrumentos para superá-los”, explica Nardone.
Hipótese psicoanalítica – Mais centrada no indivíduo, é baseada nas teorias de Sigmund Freud. Ao observar o caso do menino Hans, de 5 anos, aterrorizado pela ideia de ser mordido ou pisado por um cavalo, o pai da psicanálise lançou a hipótese de que as fobias são tentativas de “desviar” a atenção de alguma ansiedade interior para algum objeto externo e mais facilmente controlável. Para Freud, o que amedrontava Hans era, na verdade, uma forte submissão à figura demasiado autoritária do pai.
Oportunistas amedrontados – Por fim, para alguns estudiosos as fobias poderiam ser entendidas como tentativas inconscientes de se obter dos outros pequenas “vantagens”. Por exemplo, se temos medo de dirigir um carro, haverá quase sempre alguém disposto ou obrigado a fazer isso por nós, livrando-nos do estresse das filas e dos estacionamentos.
Armas de sobrevivência
Não importa qual seja a sua origem, o medo é um peso que carregamos desde sempre. Nossos antepassados pré-históricos provavelmente sofriam de ceraunofobia, ou seja, um medo incontrolável de relâmpagos. Foi exatamente esse instinto primitivo – quase um sistema de alarme que alerta os sentidos e prepara o corpo a reagir – que ensinou aos antigos a se defender deles. “O medo é a melhor arma de sobrevivência de que dispomos”, continua Nardone, “o problema é se a reatividade sobre além de um certo nível, chegando a nos bloquear”. Nenhuma surpresa, portanto, se entre os estímulos fóbicos mais comuns estejam o sangue, a altitude e os animais (ou seja, os mesmos medos que atormentavam nossos antepassados). Em particular, entre os animais mais temidos, encontramos as serpentes. Fato bem estranho, visto que atualmente é muito mais fácil morrer num acidente de carro do que por picada de cobra. Tudo leva a crer que na nossa memória evolutiva permaneçam traços dos perigos que ameaçavam nossos antigos predecessores.
Evolução do medo
No topo da lista das zoofobias hoje mais difundidas, está o medo aos pombos e a outros pássaros e animais que voam: sinal de que as fobias mudam com o tempo, como acontece com a moda. Muito difundidas também as patofobias, temores desmotivados de ser atingido por alguma doença incurável. Segundo recente pesquisa levada a efeito em países europeus desenvolvidos, esses doentes imaginários, que se submetem a exames diagnósticos contínuos e invasivos, constituem entre 6 e 7% da população do Velho Continente. Só na Itália, são mais de 2 milhões de pessoas que, além de viver um forte desconforto pessoal, agravam a balança dos serviços sanitários estatais.
Claro, uma fobia do tipo da lutrafobia (medo de lontras) não é particularmente séria para quem vive num meio urbano: basta evitar rios e parques naturais e o problema desaparece. Mas a questão é que atrás deste e de outros medos tão específicos esconde-se com frequência um desconforto pessoal mais sério. Por que, então, não tentar resolvê-lo? Abordagens terapêuticas não faltam.
A psicoterapia cognitivo-comportamental, por exemplo, propõe uma progressiva “dessensibilização” do estímulo fóbico que leva o paciente a progressivamente enfrentar o objeto do seu medo. Começa-se com a tomada de consciência da situação temida e pouco a pouco a pessoa se aproxima dela até chegar a vive-la por completo, mas agora não mais em uma situação de pânico.
Uma outra possível estrada é a terapia breve estratégica de Giorgio Nardone, que combate as fobias através de “rituais para espantar o medo” que têm se mostrado eficazes. Eles são prescritos ao paciente com uma linguagem hipnótica. Exemplo: A um garoto aterrorizado pela ideia de que poderia bater a cara contra os espelhos, o terapeuta o aconselhou se proteger com um capacete de motocross. Tomado por essa nova tarefa de manter a cabeça protegida pelo capacete, o rapaz retomou, quase sem o perceber, os hábitos de outrora que tinham sido abandonados por causa do seu distúrbio. Dentro de pouco tempo ele perdeu o terror de espelhos e abandonou o uso do capacete. Nesse caso, a fobia foi vencida mudando o foco da atenção da tentativa de controlar o medo para a execução de uma tarefa que requer uma certa atenção.
Combater as fobias sociais – Diverso é o método psiquiátrico que prevê, para alguns tipos de fobias sociais – distúrbios que levam o paciente a se fechar em si mesmo evitando o contato com os outros – o tratamento com fármacos antidepressivos como a paroxetina.
Esses fármacos reduzem os sintomas externos do distúrbio, mas não combatem as suas causas na raiz. Além disso, apresentam risco de criar dependência.
10 fobias que você talvez não conheça
As fobias são medos que em geral provocam verdadeiros sentimentos de angústia nos que sofrem delas. Mas elas não dizem respeito apenas a insetos e doenças. Do amor aos palitos chineses, são muitíssimas as causas que podem gerar um grande medo destituído de razão de ser. Confira abaixo a lista de dez fobias surpreendentes:
1 Decidofobia. É o medo de tomar decisões. O primeiro a fazer referência a ela foi o filósofo Walter Kaufmann, em um livro de sua autoria publicado em 1973. Segundo Kaufmann, os decidófobos sempre deixam as decisões a cargo de uma autoridade externa, tal como um pai ou mãe, um partido político, uma igreja.
2 Nomofobia. Deriva do termo inglês no-mobile. É o medo de permanecer desconectado da rede de telefonia celular (“fora de campo”). Trata-se de uma fobia muito recente, e é muito difusa. Segundo um estudo britânico, em maior ou menor medida sofrem dessa fobia 58% dos homens e 48% das mulheres!
3 Filofobia. É o medo de apaixonar-se e de amar. Os psicólogos a interpretam como uma espécie de mecanismo dedefesa: não amo para não sofrer. O caso mais famoso é o de Elizabeth I, rainha da Inglaterra, filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, que foi decapitada por ordem do esposo. Segundo os historiadores, a sua recusa de se casar e constituir uma família deve-se às várias tragédias ocorridas com seus antepassados.
4 Anuptafobia. O medo de permanecer solteiro. Não são todos a gostar da liberdade amorosa: os anuptafóbicos têm medo dela. Para eles, a ideia de permanecer solteiro não agrada. Segundo estudo levado a cabo pela Universidade de Toronto, Canadá, “o medo de ficar solteiro” está sempre associado às renúncias amorosas e leva quem sofre dessa fobia a aceitar parceiros menos atraentes e a manter relações pouco ou nada satisfatórias. Para eles, qualquer ligação é melhor do que permanecer sozinho.
5 Deipnofobia. O medo sem motivo das conversas durante as refeições. Ele pode ser incluído no rol das fobias sociais. Segundo especialistas da psicologia cognitiva, cerca de 13% da população nos países mais desenvolvidos viveram algum episódio de fobia social em algum momento da vida.
6 Bolsenofobia. O medo injustificado dos comunistas. Essa fobia foi particularmente difusa nos tempos da Guerra fria, entre o final dos ano 1940 e a metade dos anos 1950, sobretudo nos Estados Unidos, onde aconteceu uma verdadeira caça às bruxas na forma de ações anti-comunistas decretadas por comissões parlamentares comandadas pelo senador Joseph McCarthy (origem do termo mccartismo).
7 Barofobia. Medo da força de gravidade, com consequente temor de ser esmagado. Manifesta-se sobretudo quando se usa um elevador.
8 Eufobia. É o medo de receber boas notícias. O prefixo “eu” de origem grega significa bem (ou bom).
9 Siderodromofobia. Medo de viajar em trem. Pode determinar ataques de pânico e manifestações de ansiedade análogas às da claustrofobia (medo de permanecer em lugares fechados). É muito mais difusa do que se imagina e atacou inclusive o psicólogo Sigmund Freud.
10 Consecotaleofobia. Se existisse um prêmio para a fobia mais estranha, esta aqui seria uma séria candidata: é o medo dos palitos chineses, aqueles usadas como talheres durante as refeições. Sobretudo quando se descobre que ela é difusa sobretudo no... Extremo Oriente.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247