O Japão que você deve conhecer
Viajar ao pas do sol nascente mais do que olhar para fora , sobretudo, abrir um novo campo de viso. Para dentro
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Neta de japoneses, a cantora Fernanda Takai, líder da banda Pato Fu, visitou o país dos ancestrais pela primeira vez em 2005. Depois voltou e até gravou algumas canções inspirada na cultura de lá. Mais recentemente, eu me deparei com uma recomendação de viagem feita por ela, quando lia páginas de algum caderno de turismo. Dizia Fernanda que o Japão é um destino que oferece ao viajante uma nova perspectiva. Outro modo de olhar o mundo. E foi exatamente isso o que eu senti nas duas vezes em que visitei a terra do sol nascente: a primeira em 2008 e a mais recente em agosto do ano passado. Visitar o Japão é muito mais do que simplesmente sair em busca de imagens que possam ser capturadas e guardadas em álbuns de recordações – o que o Japão, país das máquinas fotográficas baratas e potentes, também oferece em grande abundância. A lembrança mais forte que qualquer pessoa pode trazer do Japão é a abertura de um novo campo de visão. Não para o mundo exterior, mas sim para dentro.
Nos últimos dias, desde o terremoto, seguido de tsunami, que devastou a região nordeste do país, milhares de imagens correram o mundo. Cenas de uma destruição impiedosa, mas que trouxeram uma certeza: a de que o Japão saberá se reerguer. Kobe é hoje uma cidade mais bela e mais segura do que antes do terremoto de 1995. E um dos assuntos mais comentados no mundo depois da catástrofe da semana passado foi a impressionante demonstração de civilidade do povo japonês. Nas cidades atingidas, não houve altas de preços nem crises agudas de desabastecimento. Isso porque cada cidadão acatou as cotas de consumo determinadas pelas autoridades públicas. O Japão é um país onde ninguém tenta levar vantagem sobre o seu vizinho. A chamada Lei de Gérson jamais seria entendida por lá.
Ordem, disciplina e senso de coletividade são conceitos que saltam aos olhos logo na chegada. Afinal, de que maneira 130 milhões de pessoas poderiam ocupar um espaço territorial tão pequeno? Numa viagem de Shinkansen, o trem-bala japonês, de Tóquio a Osaka, o que mais impressiona o viajante que olha a paisagem pela janela é a ausência de espaços não aproveitados para a agricultura. Cada pedaço de terra é também uma pequena lavoura de arroz – e o Japão é um país ancorado na pequena propriedade, o que faz com que a ideia de igualdade permeie toda a sociedade. As diferenças salariais nas empresas, entre o operário e o dono da companhia, são as menores do mundo. E presidentes de empresas também varrem as calçadas diante de suas casas.
Para quem chega ao Japão contaminado por todos os vícios da cultura ocidental, como o individualismo cego, o egoísmo e a competição exacerbada, a sensação que se tem é a de um desembarque em outro planeta. Um ambiente onde a harmonia impera. E onde a gentileza é absolutamente espontânea e genuína. No trem-bala, quem entre para recolher os bilhetes ou mesmo o lixo dos vagões, antes pede licença com um sorriso e se curva para os passageiros. Curvar-se, aliás, é um gesto quase obrigatório. Nos restaurantes, os alimentos são servidos como pequenas obras de arte – em alguns casos, os sushis são oferecidos em pequenas gavetas, de miniaturas de armários em porcelana. Nos táxis, os motoristas dirigem com luvas e há sempre um pano branco, sempre alvo, para os clientes se sentarem. Em qualquer loja, a saudação “Irashaimassê” (seja bem-vindo) é obrigatória. Tanto no comércio popular como nas butiques mais caras do mundo, de grifes como Louis Vuitton, Prada e Hermès, na Avenida Ginza, em Tóquio.
No Japão, tudo é arte. Cada gesto, cada atitude, cada trabalho. E é também a expressão da alma de um indivíduo. Algo marcante no Japão é o cuidado com a natureza e com os espaços verdes, bem mais abundantes do que se supõe. Podar uma árvore é uma expressão artística. E se o Brasil é o pulmão do mundo, o Japão é o seu jardim. Cozinhar um prato é também uma arte refinada. E não é por obra do acaso que os japoneses têm hoje o maior número de restaurantes três estrelas (a nota máxima) do Guia Michelin. Tudo isso se traduz na palavra “makoto”, um estado de conexão material-espiritual, em que o ser humano, destituído de ego, se dedica de corpo e alma ao que produz.
Uma viagem ao Japão nos transporta para outro estágio civilizatório. Mas também para um mundo de ricas paisagens naturais e rara beleza. Kyoto tem alguns dos templos budistas mais belos do mundo e é patrimônio da Humanidade. O Kinkakuji, o Templo do Pavilhão Dourado, é uma das construções mais harmônicas já feitas pelo homem. E Hiroshima, num momento em que o fantasma nuclear volta a rondar o planeta, é também uma visita obrigatória. Tocar o sino da paz bem ali ao lado de onde caiu a bomba atômica, onde crianças hoje brincam, produz uma sensação que não cabe em palavras. Crianças, diga-se de passagem, apaixonadas pelo futebol brasileiro.
Afora isso, o Japão é também um país totalmente pictórico, repleto de cores vibrantes, onde os jovens parecem personagens saídos dos mangás. Hayao Miyazaki, o Walt Disney japonês, criador de clássicos como “A Viagem de Chihiro”, encontrou matéria-prima farta nas ruas de Tóquio e Osaka. E esse mundo também cativou a cantora Fernanda Takai. Uma de suas bandas preferidas é a Pizzicato Five (confira esse vídeo no YouTube, vale a pena). Viaje ao outro lado do mundo. O Japão surpreende, comove e transforma quem estiver disposto a se abrir para uma nova perspectiva.
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