O átomo é verde?

Fukushima pe nossas barbas de molho



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Governos de vários países desenvolvidos como os europeus e os Estados Unidos, tentam criar uma imagem “verde” da energia nuclear, afirmando que ela é pouco poluidora do meio ambiente e pobre em emissões de anidrido carbônico, o CO2. Mas será o átomo realmente uma fonte de energia elétrica a “CO2 zero”? Isso não é verdade. Suas emissões são muito inferiores às do petróleo, mas não são “zero” e nem sequer estão entre as mais baixas possíveis.

EM SÍNTESE

1) A energia nuclear não é a “zero emissões de CO2” como afirmam alguns.

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2) O seu impacto em termos de CO2 varia muito em função das tecnologias utilizadas.

3) A energia solar poderia ter um impacto muito inferior, com os devidos investimentos.

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4) A energia eólica tem comprovadamente um impacto inferior, mas seu o rendimento é escasso e as suas instalações são muito invasivas.

A maior parte da energia elétrica consumida no mundo é produzida a partir de fontes fósseis: sobretudo carvão e, depois, petróleo e gás. A combustão de carvão e petróleo é a principal causa do aumento dos gases de efeito-estufa na atmosfera e, entre esses, particularmente, o anidrido carbônico, o CO2. Uma pergunta quente que se discute na atualidade é: Será esta a principal causa produtora das atuais mudanças climáticas globais? Tudo leva a crer que sim. Diferente de há poucos anos, é muito difícil hoje encontrar algum cientista disposto a negar o efeito deletério das atividades humanas no clima da Terra.

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Uma questão de aritmética. Como se calcula o quanto polui uma atividade humana? Analisando cada fase isolada dessa atividade, desde quando ela era apenas um projeto até quando deixará de existir. Por exemplo, é correto pensar que uma central termoelétrica movida a carvão emite a maior parte das substancias poluidoras na atmosfera durante o seu funcionamento, até a fase da chaminé, mesmo que esta seja dotada de filtros e sistemas de depuração. É preciso, no entanto, pesquisar também a respeito de como foram construídos os filtros e depuradores, a quantidade de energia gasta para construí-los e o tipo de energia usada (sempre o carvão? A gasolina? O gás?). Quanto poluíram os navios e os caminhões usados para transportá-los ao seu destino, a partir do local de fabricação (China, Alemanha, Austrália, etc)? E depois, filtros e depuradores necessitam de manutenção e trocas, de sistemas de controle (aparelhos e computadores) e certamente produzem poeiras e fungos que, “capturados” graças a tecnologias específicas, devem ser neutralizados. Para isso são necessários contendores de segurança, roupas anti-contaminação para os trabalhadores, custosos processos de vitrificação (exatamente como se faz para alguns dejetos radioativos).

A soma das partes. A próprias rodovias que são percorridas para transportar os equipamentos, os edifícios das centrais elétricas, as caldeiras de vapor, as turbinas e alternadores, o cabeamento, as traves e demais estruturas em aço, as porcas e parafusos, etc, devem ser levadas em consideração. Tudo foi transportado e tudo foi construído a partir de matérias primas extraídas de cavernas (o cimento), de minas (o ferro, o cobre), de poços petrolíferos (plásticos, óleos, solventes). Até mesmo o carvão das caldeiras da central elétrica foi extraído, beneficiado e transportado. Quando, ao final, a central for desmontada e reduzida a fragmentos, cada um deles será transformado em alguma outra coisa. Coloquemos tudo isso junto e obteremos um verdadeiro rio de energias gastas em elaborações que, com suas emissões, nunca deixaram de ter um impacto sobre o meio ambiente.

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Nada é de graça. Tudo tem um preço. Para calcular o preço de um sistema complexo, como é o da produção de eletricidade, são necessários instrumentos também complexos. Um deles é o Life Cycle Assesment (LCA, “análise do ciclo de vida”), graças ao qual os pesquisadores conseguem fracionar o setor em cada um dos eventos isolados que o compõem, e a avaliá-los em termos do seu impacto ambiental graças a uma “matemática” que possibilita converter cada processo em “emissões de CO2 equivalente (CO2eq)”. Essa é uma medida “relativa”, que confronta outros gases de efeito estufa (vapor de água, metano, protóxido de azoto, ozônio e gases fluorados) com uma igual massa de CO2.

Sol, água e vento. Quanto às formas alternativas de produção de energia, as mais promissoras são as que utilizam a luz e o calor do sol, a força das águas e a dos ventos. A solar, energia “limpa” por excelência, oferece à primeira vista custos ambientais relativamente baixos. Mas, como ela é baseada em tecnologias sofisticadas e inovadoras, em constante processo de evolução, será necessário também um aprofundamento da análise do seu impacto ambiental em todas as suas fases.

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Entre os sistemas mais vantajosos, em termos gerais, permanece o hidrelétrico, no qual países como o Brasil, fartamente atravessado por rios de grande porte, disparam com larga vantagem.

Finalmente, quanto à energia eólica, existem ainda muitas questões em aberto, a começar do ruído e do impacto paisagístico que os grandes conjuntos de torres eólicas produzem. O setor eólico, por outro lado, apresenta um sério problema de eficiência global: para se obter uma potência equivalente à de uma central qualquer que produza 1000 MW, numa zona adequadamente ventosa, são necessárias 600 torres eólicas de 5 MW (e não 200, para compensar a intermitência dos ventos), altas uma centena de metros, com hélices de 80 metros de diâmetro e dispostas a 200 metros uma da outra. Assim sendo, embora oferecendo perspectivas animadoras, todas essas fontes de energia alternativa necessitam ainda de muito investimento e pesquisa.

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