Por: Luis Pellegrini
Fonte: Site luispellegrini.com.br
O gelo ártico está progressivamente se tornando verde. Se a causa do fenômeno é sabida – o florescimento do fitoplâncton sob a calota polar – como isso fosse possível era ainda um mistério. Essas algas microscópicas precisam de luz para fazer a fotossíntese, e sob a banquisa a obscuridade era tão grande a ponto de praticamente impedir o processo de crescimento do plâncton.
Há pouco, um grupo de pesquisadores chefiados pelo cientista Chris Horvat, da Universidade de Harvard, resolveu o enigma. As mudanças climáticas tornaram a tal ponto fina a camada do gelo marinho, multiplicando o número de piscinas superficiais de água derretida, que aquilo que no passado era uma barreira capaz de refletir a luz solar agora funciona como uma superfície absorvente da luz e do calor.
Essas poças de água escura atraem o calor do Sol, favorecendo o derretimento das placas de gelo que estão logo abaixo. Dessa forma, os raios solares conseguem chegar a profundidades muito maiores, permitindo assim o crescimento e o florescimento do plâncton.
Regressão da camada de gelo
Os modelos matemáticos dos cientistas revelam que se até 20 anos atrás apenas cerca de 3% do gelo ártico era fino o bastante para consentir o florescimento de grandes colônias de fitoplâncton situadas abaixo deles, em 2015 mais de 30% do pack ártico favorecia a proliferação desses imensos bancos de algas durante os meses de verão. Desde então, a espessura dos gelos áticos diminui cada vez mais. O fenômeno poderá ter sérios efeitos na cadeia alimentar marinha e sobre os animais que se nutrem desses microorganismos.
Enquanto o mundo científico preocupado se reúne para estudar a questão, os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos, Putin e Trump, manifestam regozijo: Acham que o aquecimento global é oportunidade excelente para ganhos na economia e na política, já que “permitirá o acesso a novas importantes fontes de riquezas naturais”.
O presidente russo Vladimir Putin compareceu a um fórum de pesquisadores ambientalistas que acaba de ser realizado em Arkhangelsk, uma cidade do norte da Rússia, logo após ter visitado a Terra de Francisco José, um arquipélago ártico em território russo.
Para espanto dos participantes do encontro, Putin afirmou que as mudanças climáticas não são causadas por atividades humanas, que não existe a possibilidade de controlá-las, que sob alguns aspectos elas são benéficas, e que a Rússia só tem a ganhar com elas. Perguntado sobre os países e zonas da Terra que já sofrem o impacto negativo dessas mudanças, Putin respondeu que “esses países devem aprender a se adaptar às novas problemáticas”.
“Não existem dúvidas de que o aquecimento do planeta já começara em 1930, quando não haviam elemento antropológicos para cria-lo, tais como as nossas emissões de anidrido carbônico”, sublinhou Putin. “Ninguém pode parar o que está acontecendo. Isso é impossível, porque está ligado a ciclos naturais que interessam o planeta como um todo. Tudo que podemos fazer é nos adaptar”, completou.
Na sua intervenção, Putin contou que “um explorador austríaco dotado de extraordinária memória fotográfica visitou a terra de Francisco José em 1930. Vinte anos depois, fotografias tomadas por uma sucessiva exploração por italianos que visitou o mesmo local foram mostradas ao explorador austríaco. Ele teria ficado surpreso pela escassez de icebergs em relação a quando ele visita a região.”
Após a fala do presidente, os cientistas do conclave comentaram que ninguém entre eles tinha a menor ideia de quem fosse o explorador austríaco em questão, e nem de uma subsequente missão de italianos…
O único explorador austríaco que sabidamente descobriu e mapeou grande parte do arquipélago de Francisco José foi Julius von Payer, que lá esteve entre 1872 e 1874. A única missão italiana conhecida foi a de 1899, patrocinada pelo príncipe Luigi Amedeo, que era ele mesmo um explorador…
Rússia e Estados Unidos mais irmanados do que nunca
Não é a primeira vez que Putin se manifesta a respeito do aquecimento global. Numa ocasião anterior, ele sustentou que um aumento da temperatura média da Terra de dois ou três graus seria uma “boa coisa para os russos”, de um lado “porque eles não mais teriam necessidades de usar pesados capotes de peles, e de outro porque poderiam explorar as imensas reservas de recursos naturais sob os gelos do Polo Norte.”
Ao mesmo tempo, do outro lado do mundo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump põe em discussão os acordos de Paris (COP21) sobre as mudanças climáticas, e cancela as políticas ambientais de Barack Obama.
Na última quinta-feira, 30 de abril, enquanto o seu homólogo finlandês Saulii Niinisto conclamava o mundo a tomar consciência das mudanças climáticas e da grave ameaça que elas representam para o Ártico, Putin sustentava que “essas mudanças climáticas em curso trarão condições mais favoráveis para a utilização da região com finalidades econômicas”.
Quais serão as consequências para o planeta, agora que os dois homens mais poderosos do mundo, Putin e Trump, consideram a questão do aquecimento global como um problema secundário, e inclusive benéfico para a humanidade?
Vídeo Nasa – Massive Plankton Growth under Arctic Sea Ice
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