Não desista nunca, jamais: O poder da determinação e da perseverança

Na escuridão total da noite, queimada por águas-vivas, engasgando com a água do mar, cantando para si mesma, tendo alucinações... Diana Nyad simplesmente continuou nadando. E foi assim que ela finalmente realizou o seu sonho de vida como atleta: nadar mais de 185 quilômetros, de Cuba à Flórida, em condições extremas, aos 60 anos. Ouça a sua história

Na escuridão total da noite, queimada por águas-vivas, engasgando com a água do mar, cantando para si mesma, tendo alucinações... Diana Nyad simplesmente continuou nadando. E foi assim que ela finalmente realizou o seu sonho de vida como atleta: nadar mais de 185 quilômetros, de Cuba à Flórida, em condições extremas, aos 60 anos. Ouça a sua história
Na escuridão total da noite, queimada por águas-vivas, engasgando com a água do mar, cantando para si mesma, tendo alucinações... Diana Nyad simplesmente continuou nadando. E foi assim que ela finalmente realizou o seu sonho de vida como atleta: nadar mais de 185 quilômetros, de Cuba à Flórida, em condições extremas, aos 60 anos. Ouça a sua história (Foto: Gisele Federicce)


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Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Aline Pereira. Revisão: Nadja Nathan

Durante dez anos, de 1969 a 1979, a jornalista e atleta norte-americana Diana Nyad era conhecida como a mais importante nadadora de longa distância do mundo. Entre seus feitos estava aquela que era, na época, a mais longa travessia a nado da história desse esporte: os 165 quilômetros de distância entre Bimini, nas Bahamas, e a Flórida (EUA).

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Aos 60 anos, ela decidiu fazer a nado uma distância ainda maior: os 177 quilômetros que separam Cuba da Flórida. Tinha tentado isso antes, quando estava ao redor dos 20 anos e idade, mas um forte ataque de medusas quase a matou e ela teve de desistir. Essa nova tentativa foi bem sucedida. Em dezembro último, Diana falou no TED sobre esse grande feito esportivo. Mais que descrição de uma façanha, ela nos proporciona um extraordinário relato de força de vontade, de determinação e de superação.

Vídeo da palestra de Diana Nyad no TED:

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Tradução integral da palestra de Diana Nyad:

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É a quinta vez que me encontro nesta costa, a costa cubana, olhando para o horizonte distante, acreditando, de novo, que vou conseguir cruzar essa vasta e perigosa extensão de oceano. Não só já tentei quatro vezes, mas os melhores nadadores do mundo vêm tentando desde 1950, e o objetivo ainda não foi alcançado.

A equipe está muito orgulhoso de nossas quatro tentativas. É uma expedição de cerca de 30 pessoas. Bonnie é a minha melhor amiga e treinadora, a pessoa que me faz continuar acreditando, quando a minha determinação vacila depois de muitas e muitas horas e dias no mar. Os especialistas em tubarões são os melhores do mundo — há predadores enormes lá embaixo. A água-viva-caixa, o veneno mais mortal em todo o oceano, habita essas águas, e eu já quase morri por causa delas em uma de minhas tentativas. As condições do mar, além da distância de mais de 185 quilômetros, do mar aberto — as correntezas, os redemoinhos oceânicos, e a própria Corrente do Golfo, a mais imprevisível de todas do planeta.

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E por falar nisso, acho divertido quando jornalistas e outras pessoas me perguntam, antes desses desafios: "Você vai acompanhada por algum barco ou assistente, ou qualquer coisa assim?" E eu penso: "O que eles imaginam? Que eu use meus poderes celestiais de navegação e carregue um facão na boca, que pegue os peixes, descame-os vivos e os coma, e que carregue uma usina de dessalinização nas costas, para ter água potável?"(Risos)

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Sim, eu tenho uma equipe. (Risos) Minha equipe é muito experiente, é corajosa, e cheia de inovações e descobertas científicas, como é o caso em expedições desta categoria.

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Nós estivemos em uma jornada. E o debate já vem acontecendo desde os gregos: "Não é disso que se trata? Não teria a vida a ver com a jornada mais do que com o destino?" Nós estamos nessa jornada há algum tempo, e a verdade é que tem sido emocionante. Nós ainda não alcançamos a outra costa, mas mantemos nosso sentimento de orgulho e compromisso, nossa dedicação inabalável. Quando fiz 60 anos, o sonho ainda estava vivo. Desde que tentei durante os meus vinte anos, eu vinha sonhando com isso, imaginando isso. A extensão de água mais famosa do mundo, hoje, eu imagino: de Cuba à Flórida. Um desejo profundo. Entranhado em minha alma. Quando fiz 60 anos, o motivo nem era tanto a façanha atlética, ou um egotismo, "Eu quero ser a primeira". Isso faz parte, e é inegável, mas era mais profundo: "Quantos anos de vida eu ainda tenho?"Convenhamos, estamos todos em uma rua de mão única, não estamos? E o que vamos fazer? O que vamos fazer, seguindo adiante, para que não tenhamos arrependimentos ao olhar pra trás? Durante meus treinos, este ano todo, eu tinha uma frase do presidente Teddy Roosevelt na minha cabeça. Ela diz algo assim: "Deixa estar, continue sentado em sua poltrona confortável e seja o crítico, o observador, enquanto a pessoa valente entra na arena e briga, e se ensanguenta e se suja e fracassa inúmeras vezes, mas ainda assim não se amedronta ou intimida e vive a vida corajosamente."

É claro que eu quero fazer esta travessia. É o objetivo, e, correndo o risco de parecer superficial, digo que este ano o destino foi ainda mais doce do que a jornada. (Risos) (Aplausos) Mas a jornada em si valeu muito a pena. A esta altura, no verão passado, todo mundo — cientistas, cientistas esportivos, especialistas em resistência física, neurologistas, minha própria equipe, Bonnie — disse que era impossível. "Simplesmente não é viável", Bonnie me disse. "Mas se você vai fazer a jornada, eu vou acompanhá-la até o final, eu estarei lá."

E agora nós estamos lá. Olhando o horizonte, um momento surreal antes da primeira braçada, de pé nas rochas de Marina Hemingway, a bandeira cubana voando ao alto, a minha equipe em seus barcos, acenando: "Estamos aqui; estamos aqui te apoiando."Bonnie e eu nos olhamos e dissemos: "Este ano o mantra é - e eu o usei durante o treinamento: 'Descubra uma maneira. Dê um jeito. Você tem um sonho, e você tem obstáculos à sua frente, todos nós temos. Ninguém passa por essa vida sem desilusões, sem crises, e se você acredita e tem fé, se pode levantar de novo quando cair, se você acredita em perseverança como uma grande virtude humana, você achará uma maneira". E ela agarrou os meus ombros e disse: "Vamos achar nosso caminho para a Flórida."

E assim nós fizemos, e as próximas 53 horas foram uma experiência de vida intensa e inesquecível. Os momentos bons foram maravilhosos, o deslumbramento... Eu não sou uma pessoa religiosa, mas estar no azul-celeste da Corrente do Golfo, como se, ao respirar, você pudesse ver milhas e milhas e milhas além e sentir a majestade do planeta azul em que vivemos... Isso inspira reverência. Eu tenho uma lista de umas 85 músicas que uso principalmente no meio da noite, e naquela noite, porque não usamos luz nenhuma — luzes atraem águas-vivas, tubarões, atraem pequenos peixes que atraem tubarões — nós avançamos na escuridão. Você nunca viu escuridão mais negra. Não dá para ver um palmo na frente do nariz e as pessoas no barco, Bonnie e o resto da equipe, eles só escutam o som das minhas braçadas na água e sabem onde estou, porque não se enxerga absolutamente nada. E eu estou lá, viajando nas minhas músicas. (Risos) Eu uso uma touca de borracha bem apertada para bloquear o som de fora. Eu estou de óculos e virando a cabeça 50 vezes por minuto, e estou cantando, ♪ Imagine que o paraíso não existe ♪ ♪ doo doo doo doo ♪ ♪ É fácil se você tentar ♪ ♪ doo doo doo doo ♪ E eu posso cantar esta música mil vezes seguidas. (Risos) O que não deixa de ser um talento em si mesmo.(Risos) (Aplausos) E cada vez que eu termino ♪ Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único ♪ Duzentas e vinte e duas. ♪ Imagine que o paraíso não existe ♪Quando, pela milésima vez, eu termino de cantar "Imagine", do John Lennon, eu nadei nove horas e 45 minutes, exatamente.

Mas aí acontecem as crises. Como era de se esperar. Começa o vômito... ... a água do mar... você não está bem. Você está usando uma máscara de proteção contra água-viva. É difícil nadar com ela. Ela causa feridas dentro da sua boca, mas os tentáculos não te tocam. A hipotermia chega. A temperatura da água é de quase 29 graus, mas ainda assim você está perdendo peso e queimando calorias, e quando você se aproxima do barco, sem poder tocá-lo, sem poder subir nele, mas Bonnie e nossa equipe me alimentam, e ela me pergunta como eu estou, se estou bem. Eu estou tendo visões do Taj Mahal. Estou em um estado muito diferente, pensando: "Uau! Eu nunca pensei que fosse encontrar o Taj Mahal aqui. É lindo! Quanto tempo levaram para construí-lo? É tão... tão... Uau!" (Risos) Nós temos uma regra capital. Eles nunca me dizem o quanto falta para chegar porque nós não sabemos o quanto falta. O que vai acontecer com você entre um ponto e outro? O que vai acontecer com o clima e com as correntes do mar e, Deus te livre, se for queimado,quando pensava que não era possível com toda aquela proteção? Mas Bonnie decidiu, no início do terceiro dia, que eu estava sofrendo e que estava por um fio, e ela disse: "Chegue aqui". Eu me aproximei do barco e ela disse: "Olhe, olhe lá". E eu vi luzes, porque o dia é mais fácil do que a noite, e eu pensei que o dia estava amanhecendo. Eu vi uma faixa de luz branca no horizonte, e disse: "Vai amanhecer logo." E ela respondeu: "Não, aquelas são as luzes de Key West." Mais 15 horas, o que para a maioria dos nadadores seria muito tempo. (Risos) (Aplausos) Vocês não fazem ideia de quantos treinos de 15 horas eu já fiz.

Então, aqui vamos nós. E, de alguma forma, sem decidir, parei de contar minhas braçadas, sem cantar ou citar Stephen Hawking, sobre os parâmetros do universo. Eu comecei a pensar no meu sonho, no porquê e como dele. Como eu já disse, quando fiz 60 anos, o motivo não era tanto "Você consegue?" Esta é a estratégia do dia a dia. É a disciplina, a preparação, e há muito orgulho nisso. Mas eu decidi pensar, enquanto seguia adiante, na frase que normalmente é "Alcançando as estrelas", e que, no meu caso, é "Alcançando o horizonte". E quando você busca o horizonte, como eu já provei, talvez não o alcance, mas que maneira incrível de fortalecer o caráter e o espírito você estabelece. Que alicerce você constrói ao tentar alcançar aquele horizonte.

E, agora que a costa se aproxima, uma pequena parte de mim está triste. A jornada épica está chegando ao fim.

Tantas pessoas agora me perguntam: "Qual o próximo desafio? Nós adoramos este!Aquele rastreador no computador... Quando vai ser o próximo? Nós mal podemos esperar para acompanhar o próximo!" Eles estiveram lá apenas 53 horas; eu estive lá por muitos anos. Não haverá outra jornada épica no mar.
Mas a questão é, e a questão sempre foi, que todos os dias da nossa vida são épicos. E eu te digo que quando pisei naquela areia, cambaleando naquela praia, eu tinha ensaiado muitas vezes, de forma arrogante e egocêntrica, o que eu diria naquele momento. Quando Bonnie achou que a minha garganta estava inchada ela trouxe a equipe de médicos para me examinar e disse que eu estava começando a ter dificuldade para respirar. Mais umas 12, 24 horas na água salgada, tudo isso — e nesta hora, em um momento de alucinação, eu pensei ter ouvido a palavra traqueotomia. (Risos) Bonnie disse para o médico: "Eu não estou preocupada com ela não respirar. Se ela não puder falar quando chegar lá, vai ficar uma fera." (Risos)

Mas a verdade é que todos aqueles discursos que eu ensaiei para manter a motivação durante os treinos não serviram para nada. Foi um momento muito real, com a multidão à volta, com a minha equipe. Nós conseguimos. Não eu, nós conseguimos. E nunca iremos esquecer a experiência. Ela fará parte de nós para sempre.
Três coisas que eu consegui dizer quando cheguei foi, primeiro: "Não desista nunca, jamais". Eu vivo isso. Qual foi a frase de hoje, de Sócrates? "Ser é fazer". Eu não digo: "Não desista", só da boca para fora. Eu não desisti; houve ação por trás destas palavras.

A segunda foi: "Você pode lutar pelos seus sonhos com qualquer idade. Nunca é tarde demais." Tendo feito, aos 64 anos, aquilo que ninguém, de qualquer idade ou sexo, conseguiu fazer antes, eu não tenho nenhuma dúvida de que hoje estou no auge da minha ida. (Aplausos) Sim. Obrigada.

A terceira coisa que eu disse naquela praia foi: "Este pode parecer o desafio mais solitário do mundo, e de certo modo é mesmo, mas, em muitos sentidos, nos mais importantes, é um esforço de equipe, e se vocês acham que eu sou fera, precisam conhecer a Bonnie".(Risos)

Bonnie, cadê você? Onde você está? Lá está ela, Bonnie Stoll. (Aplausos) Minha companheira.

A frase de David Thoreau diz: "Quando você realiza o seu sonho, o que importa não é tanto o que você alcança, mas a pessoa que se tornou ao fazê-lo". Sim, eu estou aqui diante de vocês hoje. Nos três meses desde que a travessia terminou, eu fui ao show da Oprah e estive com o Presidente Obama, no Salão Oval. Fui convidada para fazer palestras para grupos prestigiados como este de vocês. Eu assinei um contrato maravilhoso para um livro.Todas estas coisas são legais; eu não desfaço delas. Tenho orgulho de tudo isso, mas a verdade é que eu ando com a cabeça erguida, porque sou uma pessoa ousada, corajosa, e continuarei sendo, até o fim dos meus dias.

Muito obrigada, e aproveitem a conferência.
Obrigada. Obrigada. Obrigada. (Aplausos) Obrigada. Obrigada. Obrigada. Obrigada. Achem uma maneira! (Aplausos)

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