Mundo Jurássico. Dinossauros são uma droga que conduz à ciência
Steven Spielberg regressa como produtor de “Mundo Jurássico”, a aguardada sequência da série “Parque Jurássico”, já em cartaz nos cinemas. Colin Trevorrow dirige este épico de ação e aventura, mas também de muita ciência e ficção científica. Neste artigo, o autor, jornalista de ciência, procura separar o que são fatos e o que é fantasia nesse nova saga de monstros trazidos da pré-história.
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Por: Gerri Miller
Fotos: ILM/Universal Pictures and Amblin Entertainment
Há vinte anos, “Jurassic Park” (baseado no romance best-seller de Michael Crichton com o mesmo nome) galvanizou as plateias com sua história de dinossauros ressuscitados enlouquecidos, faturou mais de um bilhão de dólares em todo o mundo e deu origem a duas sequências não tão bem sucedidas. De qualquer modo, o sucesso da série já era de ótimo tamanho, mas os produtores ainda não estavam satisfeitos. Com razão. A última encarnação da saga, “Jurassic World”, galvaniza plateias em todo o mundo. Ela nos leva de volta à Ilha Nublar, onde vinte mil visitantes por dia chegam em revoada ao parque temático para ver um gigantesco mosassauro devorar um grande tubarão branco, enquanto as crianças cavalgam bebês tricerátops.
Mas, como toda novidade na nossa sociedade consumista, a dos dinossauros revividos graças à tecnologia humana logo se desgastou, e era preciso produzir algo ainda mais espetacular para recuperar os altos números do faturamento. E foi criado o “Mundo Jurássico”. Neste quarto filme da série o Dr. Wu (B. D. Wong) literalmente cria um monstro: um dinossauro híbrido com quase 13 metros de altura, guloso ao extremo e de temperamento muito irascível. Esse dino-frankenstein é batizado de Indominus rex e, como todos esperam e desejam, ele consegue escapar da sua jaula e entregar-se a carnificinas sem fim, para gáudio dos espectadores. Claro, o filme não seria completo sem alguma mensagem exemplar, e neste caso ela consiste em advertências contra a ambição desmedida das corporações capitalistas e as consequências de se brincar com a Mãe Natureza. Por fim, algum conteúdo de ciência verdadeira também faz parte da trama, por trás de toda a sua ficção científica.
Na onda do enorme sucesso que Mundo Jurássico está alcançando, o Museu de História Natural de Los Angeles, EUA, montou no dia 11 de junho um painel de discussões com um trio de importantes especialistas. Os três se empenharam para avaliar o que é ficção e o que é realidade no mundo dos dinossauros descrito na película. Discutiram também a plausibilidade – e a ética – de trazer de volta espécies extintas.
O mosassauro não era um dino, e sim um lagarto
Michael Habib é um paleontologista e bioquímico e professor assistente da Keck School of Medicine, na University of Southern California, e pesquisador associado do Instituto do Dinossauro, no Museu de História Natural, instituição que reconstrói a anatomia, fisiologia e a movimentação de animais extintos. Habib brande alguns ossos fósseis ao comentar certos detalhes do filme, começando pelo mosassauro, que na verdade não era um dinossauro e sim um gigantesco lagarto que vivia em meio aquático.
“O mosassauro do filme é grande demais. Os maiores deles não superavam o tamanho de uma orca, não de uma baleia. Mesmo que isso fosse possível, seriam necessários entre 50 e 60 anos de vida para que ele atingisse esse tamanho. Mas o parque existe há apenas vinte anos”, ele afirma. “A textura da pele está errada. Também o formato do rabo, que termina como uma âncora, quando na verdade deveria parecer a um rabo de lagarto. Quanto ao Tyrannosaurus rex, apesar de alguns detalhes anatômicos equivocados, o conjunto está bastante bem. As palmas das patas deveriam estar direcionadas para o meio, como no caso dos pássaros, e o formato do crânio está um tanto estranho. Mas acredito que a produção preferiu manter uma continuidade do visual do tiranossauro do primeiro filme”, presume Habib.
“Os velociraptors eram muito menores do que os do filme, e eram parentes próximos dos pássaros. Tinham plumas, e provavelmente não eram tão barulhentos”, continuou Habib. “Não temos informações sobre os sons que eles produziam ou a linguagem que usavam. Mas sabemos com certeza que os pássaros são bons comunicadores e muito sociais”.
Da mesma forma, quanto ao feroz Indominus rex, Habib disse: “Não é um dinossauro plausível, mas nem precisa ser um dinossauro plausível. Trata-se de um monstro doido criado pela engenharia genética que de repente aparece. Ele é visualmente espantoso e corpulento, e isso funciona no filme. Ele faz exatamente aquilo que querem que ele faça, ou seja, é apavorante”.
Muitos dinossauros eram coloridos e tinham plumas
David Krentz, designer de personagens cinematográficos especializado em dinossauros que trabalhou em projetos como “Caminhando com os dinossauros 3-D”, é o criador dos efeitos especiais de “Mundo Jurássico”. Krentz explica que “graças às novas tecnologias, agora podemos nos aproximar muito mais dos animais criados por computador. Há 20 anos isso não possível, pois quando chegávamos muito perto o olhar deles parecia falso e a pele parecia feita de borracha. Agora, há uma maior resolução, um melhor controle muscular”.
Por outro lado, sabe-se agora que muitos dinossauros eram coloridos e partes dos seus corpos eram recobertas por protoplumas, um pouco como certos pássaros modernos. “Mas você não verá nada disso em “Mundo Jurássico” por causa dos filmes anteriores da série. Era necessário manter uma continuidade do aspecto desses animais.
Por outro lado, quando o projeto de “Mundo Jurássico” foi desenvolvido, era preciso manter sempre em mente que se tratava de um filme de horror. O paleontólogo Jack Horner, consultor científico da película, queria dinossauros que exibissem suas plumagens, “dançando”, no ato de seus ritos de corte. Mas Steven Spielberg, o produtor, argumentou que “dinossauros emplumados em technicolor, não são apavorantes”.
Foi dentro dessa mentalidade que surgiu o megamonstro Indominus rex, a estrela do show. Trata-se de um OGM (organismo geneticamente modificado), uma combinação do Dna de vários dinossauros com material genético de criaturas como sépias e rãs, que lhe proporcionam a capacidade de se camuflar. É mais do que um híbrido, explica Michael Habid. “Um híbrido é o produto do cruzamento de duas espécies distintas. O que eles fazem no filme é criar um transgênico: o produto da inserção de genes de diferentes animais no embrião de um outro animal”. Mas embora possa ser cogitado na teoria, a criação de um monstro como o Indomitus com base na genética seria praticamente impossível.
Trazer um animal do reino dos mortos
Como explica Hill, “o Dna tem uma meia-vida, a cada 521 anos, a metade dele decai, tornando as partes restantes inutilizáveis. Esse fato coloca um limite muito concreto quando se trata de trazer um animal de volta do reino dos mortos. Para os dinossauros, é impossível. Embora já tenhamos trazido de volta animais mais recentes. Por exemplo, implantamos Dna de uma espécie extinta de antílope ibex nas células de um parente próximo. Sete embriões foram obtidos e um animal completou o processo de gestação e nasceu. Mas ele viveu apenas alguns minutos. Tinha má-formação dos pulmões. Mas, de qualquer forma, conseguimos trazer de volta um animal extinto por um curto período de tempo”.
O genoma de um mamute lanoso foi inteiramente sequenciado. Mas se esse animal poderá ressurgir através de um parente próximo, o elefante, isso ainda é coisa a ser provada. “Isso talvez seja possível com o mamute”, diz Habib. “Mas será que alguém irá enfrentar os custos dessa proeza? Milhões de dólares seriam gastos para se produzir um animal que provavelmente morreria em 15 minutos”.
Habib também se preocupa com os aspectos éticos da de-extinção. “Ainda sabemos muito pouco sobre como os genes se comunicam para manter o animal vivo. Aquele ibex viveu dez minutos e morreu de forma dolorosa.” Mas esse cientista não vê problema na reativação de traços que foram extintos há muito tempo. “É possível encontrar genes escondidos de traços não-ativos em parentes ainda vivos de animais extintos, e ativá-los novamente. Por exemplo, traços de dentes, garras, caudas longas nos pássaros, e, dessa forma, ter um vislumbre da aparência do seu ancestral. Fazer surgir dentes ou caudas em galinhas não causaria sofrimento ao animal.”
“Essas questões éticas devem realmente ser tema de discussão”, completa Hill. “Mas, como no caso dos voos espaciais, existe um monte de coisas que fazemos em nome da exploração, apenas para ver o que acontece. Pense nas coisas que poderemos aprender sobre genética no processo de tentarmos trazer um animal de volta da escuridão da noite. Podemos aprender um bocado, mas, claro, teremos de ser cuidadosos”.
Embora os expertos acreditem que os dinossauros não ressuscitarão tão cedo, todos parecem concordar que as boas histórias de ficção científica incendeiam as imaginações e fazem com que as pessoas falem e se interessem por ciência. “Acho que este filme despertará o interesse de milhões de pessoas pela ciência, da mesma forma que o primeira filme da série fez”, diz Kyle. “Graças a Parque Jurássico, surgiu um grande número de novos paleontologistas. Dinossauros são uma droga que conduz à ciência”.
Trailer do filme:
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