Morte clínica. A incrível atividade cerebral dos que morreram e voltaram à vida

Forte sensação de estar morto, lembrança de atravessar um túnel ou ver uma luz enorme, sensação de ter deixado seu corpo e conseguido observá-lo como se estivessem fora dele. São apenas algumas das inexplicáveis experiências vividas por quase todos os que tiveram morte clínica e foram ressuscitados.

Walk into the light
Walk into the light (Foto: Luis Pellegrini)


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Por Yves Miserey

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Às vezes, pessoas que sobreviveram a uma parada cardíaca se lembram daquele episódio em que sua vida quase parou, como um momento extraordinário. Eles fizeram o que chamamos de experiência de morte iminente (EMI). De acordo com as pesquisas, entre 10 % e 20 % daqueles que sofreram um infarto, por exemplo, conhecerem este tipo de evento. Alguns diabéticos durante um coma hipoglicêmico, e doentes de Parkinson ou Alzheimer que vivenciaram uma EMI, também relataram sensações parecidas.

Os relatos são diferentes mas, curiosamente, encontramos sempre os mesmos cenários. Alguns tiveram a impressão muito forte de que estavam mortos, outros têm a lembrança de terem atravessado um túnel totalmente escuro ou visto uma luz enorme. Alguns relatam terem visto parentes mortos, enquanto outros tiveram a sensação de terem deixado seu corpo e conseguido observá-lo como se estivessem fora dele. Praticamente todos se lembram de terem percebido e sentido as coisas de modo muito mais vivaz e alegre do que na vida cotidiana normal, com uma sensação de total serenidade e paz. Alguns crentes veem nisso uma prova da imortalidade da alma. Os céticos duvidam, mas ainda não têm uma explicação.

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Experiência com ratos produz descoberta

Nos últimos anos, os depoimentos sobre experiências de morte iminente se acumulam e os cientistas já não podem ignorá-los. Pesquisas para tentar entender como o fenômeno ocorre no interior do cérebro estão apenas começando. Para conseguirmos isso será preciso, um dia, instalar eletrodos no cérebro de vários moribundos. Ainda não chegamos lá.

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Por enquanto, uma experiência de laboratório realizada com ratos lança uma nova luz sobre a questão. De fato, ela mostra que durante alguns segundos após a parada cardíaca (a morte clínica) o cérebro passa por uma atividade mais intensa em alguns aspectos do que no estado de vigília. Sendo assim, os autores do estudo publicado esta semana na PNAS (revista americana de ciências) questionam se essa atividade cerebral post mortem poderia estar na origem de experiências de morte iminente.

Entre o momento que o coração para e deixa de fornecer oxigênio ao cérebro e que o cérebro para de funcionar (morte cerebral), passam cerca de trinta segundos. Sem surpresa, durante esse período, muito curto, a equipe liderada por Jimo Borjigin, da Universidade do Michigan, registrou, a partir de eletroencefalogramas de nove ratos que estavam morrendo, uma desaceleração da atividade elétrica do cérebro.

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Como monges meditando

Mas, ao mesmo tempo, eles observaram um aumento de frequências cerebrais bem específicas: as oscilações gama, associadas a um alto grau de consciência que foram detectadas e medidas, por exemplo, em religiosas em oração ou em monges budistas em meditação. As oscilações gama também estão presentes em momentos marcados por uma acuidade e uma sensibilidade visual melhorada. Eles contam com essas coincidências para traçar paralelos com as experiências de morte iminente.

Os ratos, equipados com eletrodos em diferentes partes do cérebro, foram anestesiados antes de ser envenenados, sendo sua atividade cerebral gravada antes da anestesia e do sacrifício.

«O estudo é extremamente interessante e o método rigoroso, diz Steven Laureys, da Universidade de Liège, na Bélgica, especialista reconhecido em estados de coma, que se interessa bastante por EMI. Isso mostra que a atividade cerebral gravada logo após a morte não é caótica e que existe uma perfeita conectividade entre as diferentes partes do cérebro.» Ele admite de bom grado que é difícil traduzir estas observações de animais para os seres humanos mas observa que, agora, os cientistas reconhecem, ao contrário do que pensava Descartes, que os animais também têm uma forma de consciência análoga à consciência humana.

 

 

Experiências de morte iminente interessam aos cientistas

O que fica evidente é que as experiências de morte iminente (EMI) em curso não são mais rejeitadas pela pesquisa científica. Dois exemplos:

- A equipe liderada por Steven Laureys, da Universidade de Liège, está em processo de coleta máxima de depoimentos de pessoas que vivenciaram uma EMI. «Dois alunos de doutorado estão totalmente engajados nessa tarefa. Eles podem ser contatados diretamente por e-mail», diz Steven Laureys, no endereço: https://www.ulg.ac.be/cms/c_566156/fr/steven-laureys

- Uma equipe liderada por Sam Parnia, um dos principais especialistas em EMI, lançou em 2008, um programa para analisar os depoimentos de pacientes, para saber se eles tiveram uma percepção extra-corporal em relação à realidade, durante sua experiência de morte iminente. Vinte hospitais estão associados a este programa chamado «Awareness during resuscitation» (Estado de consciência durante a reanimação). Os primeiros resultados devem ser publicados até o final de 2015.

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