Michael Schumacher: O longo despertar de um coma farmacológico
Suspender um coma induzido por medicamentos é um percurso delicado e incerto. Saiba aqui como ele acontece e por que o despertar do campeão do automobilismo Michael Schumacher será apenas o início de uma nova fase decisiva: a sua neuroreabilitação
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Por: Equipe Oásis
A última notícia é recentíssima e animadora: “Existem em certos momentos alguns pequenos sinais encorajantes. Mas ficou sempre claro que esta luta será longa e difícil”, declarou a 12 de março Sabine Kehem, a manager de Michael Schumacher.
Há quase três meses – era o dia 29 de dezembro 2013 – Michael acha-se aprisionado num limbo. No dia 30 de janeiro deste ano o jornal desportivo francês L’Équipe tranquilizava os fãs do corredor: Schumacher está fora de perigo e bate as pálpebras. Uma semana depois, no entanto, circulava da Rede a notícia da sua morte. Era falsa e foi logo desmentida pelo hospital de Grenoble, na França, onde o campeão está internado.
O único dado certo é que ele ainda se encontra em estado de coma farmacológico, e que o processo do despertar desse coma é um processo longo e delicado. Como ele acontece?
“Cada caso é um caso, mas – em média – para a interrupção da sedação são necessárias várias semanas. Quando ela acontece, tem início uma nova fase, a da neuroreabilitação, que pode durar de seis meses a um ano”, explica Luigi Beretta, especialista italiano em neurocirurgia.
O coma farmacológico é um recurso médico “stand-by” necessário à proteção do cérebro do paciente. A opção de manter “adormecido” um paciente vítima de um acidente ou de um outro evento com possíveis repercussões no cérebro – um enfarte ou um choque grave, por exemplo – não é fácil de ser compreendida por quem não possui formação médica. Seu objetivo na verdade é muito simples: manter o cérebro numa condição de consumo energético quase nulo, na qual a necessidade de energia requerida pelas células é mínima, limitada a poucas funções elementares. Esse coma é obtido com a administração de fármacos hipnóticos e barbitúricos, unidos a anestésicos opiáceos, em dosagens que variam muito de caso a caso. São esses fármacos que protegem o cérebro enquanto os médicos avaliam os possíveis danos já ocorridos e formulam um plano para a recuperação.
Quando a estabilidade intracraniana é alcançada, o objetivo dá um passo à frente: estuda-se a interrupção do coma induzido, a avaliação dos danos cerebrais e o processo de recuperação do paciente. Em termos técnicos, fala-se de uma progressiva diminuição da sedação, baseada na paulatina redução da dosagem dos fármacos. E existe um aspecto fundamental que deve ser sempre levado em conta: os fármacos se acumulam no organismo do paciente e só depois que qualquer traço deles desaparecer é que se pode proceder a uma avaliação neurológica confiável. O processo, portanto, exige tempo e paciência.
Um ano de espera
Schumacher será o mesmo de antes? Ainda é muito cedo para se dizer, porque o estado do paciente ao término de um coma farmacológico não é a fotografia final das suas condições de vida daquele momento em diante. Naquele momento apenas podem ser verificados os efeitos reais do trauma sofrido.
Uma vez cessado o efeito dos sedativos, os instrumentos de neuro-imagining permitem observar o cérebro em ação. Contemporaneamente, observa-se como o paciente responde aos estímulos e às técnicas de reabilitação.
A cautela dos médicos franceses em relação ao futuro de Schumacher é compreensível porque o seu quadro clínico não é ainda muito preciso e porque não todos os danos cerebrais são reversíveis e alcançáveis pelos recursos usados pela reabilitação.
É menos provável recuperar um dano cerebral quando a lesão é extensa e quando ela interessa áreas decisivas para o funcionamento do cérebro. Os mais problemáticos são os danos extensos que comprometem o tronco encefálico e o córtex cerebral, que são as áreas relacionadas à consciência e às relações com o mundo externo.
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