Meu Rio. É a nossa cidade. Vamos consertá-la

Com frequência as pessoas se sentem excluídas da política, até mesmo no nível de suas próprias cidades. Mas a ativista urbana Alessandra Orofino acredita que isso possa mudar, utilizando-se uma mistura de tecnologia e conexões humanas. Compartilhando exemplos de sua cidade natal, o Rio de Janeiro, ela diz: "Cabe a nós decidir se queremos escolas ou estacionamentos, projetos de reciclagem ou canteiros de obras, carros ou ônibus, solidão ou solidariedade.

Com frequência as pessoas se sentem excluídas da política, até mesmo no nível de suas próprias cidades. Mas a ativista urbana Alessandra Orofino acredita que isso possa mudar, utilizando-se uma mistura de tecnologia e conexões humanas. Compartilhando exemplos de sua cidade natal, o Rio de Janeiro, ela diz: "Cabe a nós decidir se queremos escolas ou estacionamentos, projetos de reciclagem ou canteiros de obras, carros ou ônibus, solidão ou solidariedade.
Com frequência as pessoas se sentem excluídas da política, até mesmo no nível de suas próprias cidades. Mas a ativista urbana Alessandra Orofino acredita que isso possa mudar, utilizando-se uma mistura de tecnologia e conexões humanas. Compartilhando exemplos de sua cidade natal, o Rio de Janeiro, ela diz: "Cabe a nós decidir se queremos escolas ou estacionamentos, projetos de reciclagem ou canteiros de obras, carros ou ônibus, solidão ou solidariedade. (Foto: Gisele Federicce)


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Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro

 

 

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Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading

Tradução de Gustavo Rocha. Revisão de Túlio Leão 

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Ativista da mobilização política, Alessandra Orofino fundou no Rio de Janeiro a Meu Rio, hoje uma das mais vastas redes de mobilização de opinião pública daquela cidade (http://www.nossascidades.org/).

 

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A ativista Alessandra Orofino, criadora do movimento Meu Rio

 

Depois de trabalhar como pesquisadora de campo no Brasil e na Índia, entrevistando garotas vítimas de violência doméstica, Alessandra decidiu fundar a Meu Rio em 2011. A organização tem mostrado ser capaz de influenciar a política local “de baixo para cima”, ou seja, mobilizando a opinião pública para que se manifeste politicamente. Essa ação é exercida pondo-se em moto uma combinação de ações in loco e de plataformas on-line criadas a partir de um design personalizado para as diferentes formas de comunicação digital.

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 Alessandra Orofino é formada em economia e direitos humanos pela Columbia University. Ela acredita na político participativa e nas cidades como sendo o lugar ideal para uma reinvenção da democracia representativa. Meu Rio dispõe hoje de um quadro vasto de cerca 140 mil colaboradores.

Vídeo:

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Tradução integral da palestra de Alessandra Orofino no TED:

54% da população mundial mora nas nossas cidades. Em países em desenvolvimento, um terço de sua população vive em favelas. 75% do consumo global de energia acontece nas cidades, e 80% das emissões de gases que causam o aquecimento global vêm de nossas cidades. Então, coisas que vocês e eu podemos encarar como problemas globais, como mudanças climáticas, a crise energética ou a pobreza, são na verdade, em muitos aspectos, problemas urbanos. Eles não vão se resolver a não ser que as pessoas que vivem em cidades, como a maioria de nós, comecem de fato a fazer um trabalho melhor, porque neste momento, não estamos fazendo um trabalho muito bom. Isso fica muito claro quando observamos três aspectos da vida urbana: primeiro, a disposição de nossos cidadãos de se envolver com instituições democráticas; segundo, a habilidade de nossas cidades de realmente incluir todos os seus habitantes; e, por último, nossa própria habilidade de viver vidas felizes e realizadas.

Quando se trata de envolvimento, os dados são bem claros. A participação dos eleitores pelo mundo atingiu um máximo no final dos anos 80, e vem decaindo a um ritmo nunca antes visto. Se esses números já são ruins a nível nacional, a nível municipal, são desanimadores. Nos últimos dois anos, duas das democracias mais antigas e consolidadas do mundo, Estados Unidos e França, tiveram eleições municipais por todo o país. Na França, a participação dos eleitores atingiu um recorde mínimo. Quase 40% dos eleitores decidiram não aparecer. Nos Estados Unidos, os números foram ainda mais assustadores. Em algumas cidades americanas, a participação eleitoral chegou próxima de 5%! Vou deixá-los absorver por um segundo. Estamos falando de cidades democráticas, nas quais 95% das pessoas decidiram que não era importante eleger seus líderes. A cidade de Los Angeles, uma cidade de 4 milhões de pessoas, elegeu seu prefeito com pouco mais de 200 mil votos. Foi a participação mais baixa que a cidade já teve em 100 anos. Bem, aqui, na minha cidade do Rio, apesar do voto obrigatório, quase 30% do eleitorado escolheu ou anular seu voto ou ficar em casa e pagar uma multa nas últimas eleições municipais.

Quando falamos de inclusão, nossas cidades também não são os melhores casos de sucesso e, novamente, não é necessário ir muito longe para achar prova disso. A cidade do Rio é incrivelmente desigual. Este é o Leblon. O Leblon é o bairro mais rico da cidade. E este é o Complexo do Alemão. É aqui que vivem mais de 70 mil dos habitantes mais pobres da cidade. O Leblon tem um IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, de 0,967. Maior do que o da Noruega, Suíça ou Suécia. O Complexo do Alemão tem um IDH de 0,711. Fica numa posição entre o IDH da Argélia e do Gabão. Então o Rio, como tantas cidades no Sul global, é um lugar onde pode-se ir do Norte Europeu até a África subsaariana num tempo de 30 minutos. Se você for de carro. Se pegar o transporte público, são cerca de duas horas.

 

O objetivo da organização Meu Rio é velar pela cidade

 

Por último, talvez o mais importante, as cidades, com a incrível riqueza de relações que elas permitem, poderiam ser o lugar ideal para que a felicidade humana prosperasse. Nós gostamos de estar perto de pessoas. Somos animais sociais. Em vez disso, países onde a urbanização já atingiu os máximos parecem ser exatamente os países nos quais as cidades já não nos fazem mais felizes. A população dos Estados Unidos já sofreu uma baixa geral em quocientes de felicidade nas últimas três décadas, e o principal motivo é este. O jeito americano de construir cidades fez com que espaços públicos de boa qualidade praticamente desaparecessem em muitas cidades americanas. Como resultado, eles observaram uma decadência nas relações entre as pessoas, nas coisas que nos fazem felizes. Muitos estudos mostram um aumento da solidão e uma queda da solidariedade, da honestidade e da participação social e cívica.

Como começamos a construir cidades que façam com que tenhamos importância? Cidades que valorizam seu patrimônio mais importante: a incrível diversidade das pessoas que ali moram? Cidades que nos façam felizes? Acredito que se quisermos mudar nossas cidades, temos que mudar de fato os processos de tomada de decisão que nos levaram aos resultados que temos hoje em dia. Precisamos de uma revolução da participação, e precisamos disso rápido. A ideia de que o voto é nosso único exercício como cidadãos não faz mais sentido. As pessoas estão cansadas de serem tratadas como indivíduos poderosos apenas a cada poucos anos, quando chega a hora de delegar esse poder para outra pessoa. Se os protestos que tomaram o Brasil em junho de 2013 nos ensinaram algo, foi que cada vez que tentamos exercer nosso poder fora do contexto eleitoral, somos reprimidos, humilhados ou presos. Isso precisa mudar, porque quando mudar, as pessoas não só vão se envolver novamente com as estruturas representativas, mas vão também complementar essas estruturas com tomadas de decisão diretas, efetivas e coletivas, tomadas de decisão do tipo que ataca a desigualdade pela sua própria natureza inclusiva, tomadas de decisão do tipo que pode transformar nossas cidades em lugares melhores para se viver.

Mas há um detalhe, obviamente: possibilitar a participação generalizada e redistribuir o poder pode ser um pesadelo logístico, e é aí que a tecnologia desempenha um papel incrivelmente útil, possibilitando que as pessoas se organizem, comuniquem-se e tomem decisões sem que precisem estar todas no mesmo lugar, ao mesmo tempo.

Infelizmente para nós, quando se trata de fomentar processos democráticos, nossos governos municipais não usaram todo o potencial da tecnologia. Até agora, a maioria dos governos municipais foram eficientes em usar a tecnologia para transformar os cidadãos em sensores humanos que dão às autoridades dados sobre a cidade: buracos, árvores caídas, lâmpadas quebradas. Eles também convidaram as pessoas, em menor escala, para melhorar os resultados de decisões que já estavam tomadas para elas, como minha mãe quando eu tinha oito anos e ela me dizia que eu tinha uma escolha: eu tinha que estar na cama às 20 horas, mas eu podia escolher meu pijama rosa ou meu pijama azul. Isso não é participação e, realmente, os governos não têm sido muito bons em usar a tecnologia para possibilitar a participação no que de fato interessa; a maneira como distribuímos nosso orçamento, a maneira como ocupamos nossa terra, e a maneira como gerenciamos nossos recursos naturais. Esses são os tipos de escolhas que podem realmente impactar problemas globais que se manifestam em nossas cidades.

 

Alessandra Orofino no TED

 

A boa notícia, e eu tenho boas notícias para compartilhar, é que não precisamos esperar que os governos façam isso. Eu tenho razões para crer que é possível que os cidadãos construam suas próprias estruturas de participação. Há três anos, cofundei uma organização chamada Meu Rio. Nós facilitamos às pessoas da cidade do Rio que se organizem a respeito de causas e lugares com os quais elas se importam em sua própria cidade, e que tenham um impacto nessas causas e lugares diariamente. Nesses últimos três anos, Meu Rio cresceu para se tornar uma rede de 160 mil cidadãos do Rio. Cerca de 40% desses membros são jovens de 20 a 29 anos. Isso é um a cada 15 jovens dessa idade no Rio hoje em dia.

Entre nossos membros está essa adorável garotinha, Bia, à direita. Bia só tinha 11 anos quando iniciou uma campanha usando uma de nossas ferramentas para salvar sua escola pública da demolição. Sua escola está entre as melhores escolas públicas deste país, e seria demolida pelo governo estadual do Rio de Janeiro para construir, sem brincadeira, um estacionamento para a Copa do Mundo logo antes do evento. Bia iniciou uma campanha, e nós até acompanhamos sua escola dia e noite com monitoramento por webcam e depois de muitos meses, o governo mudou de ideia. A escola da Bia ficou onde estava.

Temos também a Jovita, uma mulher incrível, cuja filha desapareceu há cerca de 10 anos, e a partir de então, ela procura por sua filha. No processo, ela descobriu que primeiro, ela não estava sozinha. Só no ano passado, 2013, 6 mil pessoas desapareceram no Estado do Rio. Mas ela também descobriu que apesar disso, o Rio não tinha nenhum sistema centralizado de inteligência para resolver casos de pessoas desaparecidas. Em outras cidades brasileiras, esses sistemas já ajudaram a resolver até 80% dos casos de pessoas desaparecidas. Ela iniciou a campanha, e depois de o secretário de segurança ter recebido 16 mil e-mails de pessoas pedindo que ele fizesse isso, ele respondeu, e começou a construir uma unidade policial especializada nesses casos. Foi aberta ao público no final do mês passado, e Jovita estava lá dando entrevistas e ficando famosa.

 

'Estamos de olho', é um dos lemas da organização Meu Rio

 

E ainda temos também o Leandro. Leandro é um cara incrível em uma favela do Rio, e ele criou um projeto de reciclagem na favela. No final do ano passado, 16 de dezembro, ele recebeu uma ordem de despejo do governo estadual do Rio de Janeiro, determinando que ele saísse em duas semanas do lugar que ele usava havia dois anos. O plano era repassar o terreno para um desenvolvedor, que planejava transformá-lo num canteiro de obras. Leandro iniciou uma campanha usando uma de nossas ferramentas, a “panela de pressão”, a mesma que Bia e Jovita tinham usado, e o governo estadual mudou de ideia antes da véspera de Natal.

Essas histórias me deixam feliz, mas não só porque elas têm finais felizes. Elas me deixam feliz porque são inícios felizes. A comunidade de pais e professores na escola da Bia está procurando outras maneiras de melhorar ainda mais aquele espaço. Leandro tem planos ambiciosos de levar seu modelo a outras comunidades de baixa renda no Rio, e Jovita é voluntária na unidade policial que ela ajudou a criar. Bia, Jovita e Leandro são exemplos vivos de uma coisa que cidadãos e governos municipais por todo o mundo precisam saber: nós estamos prontos. Como cidadãos, estamos prontos para decidir sobre nossos destinos em comum, porque sabemos que a maneira como distribuímos o poder diz muito sobre como valorizamos todos, e porque sabemos que possibilitar e participar da política local é um sinal de que realmente nos importamos com nossas relações uns com os outros, e estamos prontos para fazer isso em cidades pelo mundo a fora, e agora mesmo. Com a Rede Nossas Cidades, a equipe Meu Rio espera compartilhar o que aprendemos com outras pessoas que queiram criar iniciativas similares em suas próprias cidades. Já começamos em São Paulo, com resultados incríveis, e queremos levar esse modelo para cidades pelo mundo através de uma rede de organizações centradas nos cidadãos e conduzidas por eles que possa nos inspirar, nos desafiar, e nos lembrar de exigir participação real em nossas vidas urbanas.

Só depende de nós decidir se queremos escolas ou estacionamentos, projetos de reciclagem voltados à comunidade ou canteiros de obras, solidão ou solidariedade, carros ou ônibus, e é nossa responsabilidade fazer isso agora, para nós mesmos, para nossas famílias, para as pessoas que fazem nossas vidas valerem a pena e para a incrível criatividade, beleza e maravilha que fazem de nossas cidades, apesar de todos os seus problemas, a maior invenção do nosso tempo.

Obrigada. Obrigada.

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