Por: Equipe Oásis
Vídeo e imagens: SpaceX Interplanetary Transport System
Fonte: www.luispellegrini.com.br
Elon Musk (*) é um homem de visão e tem um plano: um dia, não muito distante no tempo, a humanidade se instalará em mundos realmente muito distantes da nossa casa, a Terra. O porto mais próximo e mais viável é o planeta Marte. Não, não é coisa para o futuro longínquo. É para já, daqui a uns cinco anos, no máximo uma ou duas décadas. Certamente no arco das nossas vidas. E dessa forma nos tornaremos uma espécie “multiplanetária”. Para tanto, são necessários uma montanha de dinheiro (e Elon Musk a possui), muito boa sorte e uma nave espacial de enormes dimensões!
Há poucos dias, na noite de 27 de setembro, durante uma palestra pública no International Astronautical Congress (IAC) em Guadalajara, no México, Musk proferiu um discurso apaixonado e detalhado sobre a necessidade da colonização do espaço. “Trata-se de um passo histórico indispensável, porque mais cedo ou mais tarde, a qualquer momento, amanhã, acontecerá um evento de extinção sobre a Terra. Podemos permanecer sentados esperando, ou nos tornarmos uma espécie capaz de viajar no espaço”, disse ele.
E o primeiro passo é Marte, o nosso “poeirento vizinho vermelho: queremos tornar Marte um destino possível no decorrer da nossa vida”. O vídeo que mostramos logo abaixo ilustra o cenário a partir do qual será montada a visão de Musk: um foguete de 122 metros de comprimento.
Vídeo: SpaceX Interplanetary Transport System
A imagem abaixo ilustra as fases da viagem: no “ponto 4”, a capsula que, após se desligar completamente do foguete vetor, se aproxima de Marte. Musk prevê a reutilização de todos os componentes do sistema: o lançador será reutilizado cerca de mil vezes, os tanques de combustível cerca de 100 vezes, a cápsula cerca de doze vezes. Na viagem de regresso à Terra, ela seria alimentada por combustível propulsor produzido em Marte
No primeiro estágio, o lançador desenvolve um empuxo de 12 milhões de quilogramas: é como coligar e acender ao mesmo tempo, todos juntos, 400 aviões Airbus 380 (o gigante dos céus!)
A janela de lançamento otimal em direção a Marte se reapresenta a cada 26 meses, quando a terra e Marte estão vizinhos o bastante para permitir o início de uma viagem: a distância entre os dois planetas varia de 56 a 360 milhões de quilômetros.
Abastecer a astronave em várias fases é fundamental, em primeiro lugar por causa dos custos, pois obviamente é mais fácil e econômico elevar da Terra e colocar em órbita componentes leves. Musk, com efeito, quer colocar em órbita as “cisternas” que permitirão à pequena nave se reabastecer, como quem para num posto de gasolina e enche o tanque. E produzir diretamente em Marte o carburante necessário para a viagem de retorno. Para isso a melhor solução, escolhida pela SpaceX, é utilizar metano e oxigênio que podem ser facilmente produzidos em Marte. O propulsor a metano já existe, se chama Raptor (o seu primeiro teste de ascensão aconteceu há poucos dias).
Embora caro e difícil, o projeto não é inverossímil, pelo menos nas suas linhas gerais. SpaceX já utilizou o seu foguete Falcon para lançar objetos em órbita, e recuperou com sucesso seis desses lançadores – embora um teste feito na semana passada falhou, por causa de uma explosão na rampa de lançamento. O problema é que o Falcon é bem menor do que precisaria ser o “foguete para Marte”, e ainda precisa ser demonstrada a capacidade do SpaceX de transferir a experiências em dimensões maiores.
O elemento–chave do projeto que vem a seguir é a nave/cápsula que efetivamente transportará os homens e tudo aquilo que for necessário para a descida e a sobrevivência no planeta Marte.
No espaço, a pequena nave abrirá os seus grandes painéis solares, capazes de gerar 200 kilowatt de potência. Nessa configuração, e lançada a quase 100 mil km/h, ela se porá em rota para o seu destino numa viagem que poderá durar seis meses ou até mais.
Nas proximidades do Planeta Vermelho, a nave deverá se preparar para atravessar a sua atmosfera, fase na qual a sua parte externa se aquecerá até 1.700 graus centígrados, e usando os seus foguetes de pouso deverá manobrar para tocar com suavidade o solo.
E chegamos a Marte!
Musk imagina uma época em que milhares de naves partirão a cada 26 meses, cada uma com um carregamento de 100 até 200 pessoas e tudo aquilo que poderá servir, “desde equipamentos para fundir o ferro, mineral muito abundante em Marte, até fornos para assar pizza”.
Com 10 mil voos se poderia construir uma civilização autossuficiente em Marte em vinte anos. E se for possível produzir energia suficiente, existirá uma abundante oferta de água “porque existe uma enorme quantidade de gelo em nosso planeta vizinho”.
Assim sendo, ao final de todo um processo, se poderia refazer em Marte as condições existentes na Terra, lançando na sua atmosfera enormes quantidade de anidrido carbônico para aquecer o planeta e trazer a água de volta ao estado líquido. Ou seja, criando as condições de habitabilidade para o homem: “Se conseguíssemos aquecer Marte, existiria de novo uma atmosfera espessa e oceanos”.
Esta é a visão explicada por Musk. Uma visão de ficção científica, de altíssima tecnologia e pioneira. Mas, antes de nos deixarmos arrastar pelo entusiasmo, convém saber que existem incríveis desafios a serem enfrentados e vencidos, apenas para se chegar à rampa de lançamento dos foguetes. Além disso, SpaceX não construiu, até agora, um foguete tão grande (apenas acendeu com sucesso um dos seus possíveis propulsores).
Nenhum ser humano, só ou em companhia, enfrentou até hoje uma viagem assim, com todos os ricos a ela conectados, desde os riscos da loucura de solidão até ser literalmente cozido pelas radiações.
Musk explicou bastante bem como pretende manter e entreter os colonos marcianos durante a viagem, mas apenas acenou a respeito de como pretende evitar expô-los a uma quantidade de raios cósmicos sete vezes maior do que aquela à qual foram submetidos durante seis meses os astronautas da ISS – Estação Espacial Internacional.
Deve-se considerar também que, no momento, SpaceX não está navegando em águas muito tranquilas, desde que seu foguete Falcon 9 explodiu na rampa de lançamento há poucos dias.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que apenas 10 anos após sua fundação SpaceX começou a refornecer a ISS (desde 1912), a colocar em órbita satélites para telecomunicação e a fazer aterrissar os seus lançadores.
Por fim, como não falar de dinheiro? Se a implantação desse sonho representasse os mesmos gastos que nos levaram até a Lua, revela Musk, “fundar uma colônia autossuficiente em Marte custaria 10 bilhões de dólares por pessoa. Nós, em vez disso, queremos realizar a empreitada ao custo de 200 mil dólares por pessoa. Quase o valor médio de uma casa nos estados Unidos”.
O que dizem disso tudo os futurólogos e os cientistas de vanguarda? Balançam a cabeça. Mas afirmam que, mais cedo ou mais tarde, essa viagem se fará. Com toda a probabilidade.
(*) Elon Reeves Musk é um empreendedor e filantropo sul-africano, canadense e norte-americano. Tem como destaque a criação e participação em empresas como o Paypal, a SpaceX e Tesla Motors.
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