Irena Sendler. O anjo do Gueto de Varsóvia
Ela era uma simples assistente social polonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Mas conseguiu resgatar mais de 2.500 crianças judias do Gueto de Varsóvia. Sem a sua corajosa intervenção, elas teriam sido trucidadas pela loucura nazista
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Por: Luis Pellegrini
“A razão pela qual resgatei todas aquelas crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem nos importarmos com a sua religião ou nacionalidade”, disse Irena Sendler ao receber um dos vários prêmios que recebeu no final de sua vida por sua coragem e qualidades humanitárias. Essa convicção norteou toda a sua existência.
Irena Sendler foi uma assistente social polonesa que salvou cerca de 2500 crianças judias das mãos dos nazistas transportando-as para fora do Gueto de Varsóvia e dando a elas uma identidade falsa.
Sua história dramática, que inclui episódios como a da sua captura e as torturas a que foi submetida, e de como ela conseguiu preservar as verdadeiras identidades das crianças em jarras de vidro enterradas sob uma macieira no seu quintal, só foram conhecidas pelo grande público nos últimos anos.
Irena, que era católica romana, nasceu em Otwock, nas proximidades de Varsóvia, em 15 de fevereiro de 1910. Seu pai era médico, diretor de um hospital. Irena lembrava dele como alguém possuidor de grande compaixão e que costumava ensinar: “Se você ver alguém se afogando, precisa tentar salvá-lo, mesmo que você não saiba nadar”.
Dentro de grandes sacos de lixo
Ela ocupava um cargo administrativo nos serviços sociais de Varsóvia quando, em 1940, a Alemanha nazista ocupou a Polônia. Cerca de meio milhão de judeus foram confinados no pequeno gueto da capital, no qual as condições de vida eram péssimas. Logo após o confinamento, os nazistas ordenaram a suspensão dos serviços sociais normais, tais como o abastecimento de comida, de medicamentos e de serviços médicos. Encarregada de levar adiante um serviço de prevenção contra o tifo e a tuberculose, Irena tinha permissão para circular livremente no interior do gueto. Foi assim que ela convenceu pais judeus a lhe entregar seus filhos para que os levasse e escondesse fora do gueto.
Para transportar as crianças, Irena as escondia dentro de grandes sacos de lixo, no fundo de caixas de ferramentas e inclusive dentro de esquifes. Um cachorro de grande porte estava sempre a seu lado quando conduzia o veículo. Fora ensinado a latir e a rosnar quando alguma das crianças escondidas gritava, ou quando uma patrulha nazista se aproximava para inspeções. Ao mesmo tempo, Irena recebia ajuda de um organização polonesa que foi formada durante a guerra para ajudar os judeus, a organização ZOB (Zydowska Organizacja Bojowa, em polonês – Organização de Proteção aos Judeus).
As crianças resgatadas recebiam novos nomes e documentos falsos, e eram colocadas junto a famílias polonesas ou escondidas em estabelecimentos religiosos cristãos tais como igrejas, conventos e mosteiros. Sendler escrevia seus nomes reais em folhas de papel que guardava, depois, em garrafas enterradas, com a intenção de recuperá-las depois.
A Gestapo finalmente prendeu Irena em 1943, e a torturou brutalmente. Suas pernas e pés foram quebrados com o uso de maças de madeira. Foi sentenciada à morte, mas momentos antes da execução da sentença ela foi solta por um policial alemão que aceitara propina da organização ZOB. Permaneceu escondida até o final da guerra e, quando isso aconteceu, sua primeira providência foi recuperar as garrafas enterrradas sob a macieira. Deu início então a um trabalho para tentar reunir as crianças às suas famílias, ou pelo menos àqueles parentes que tinham escapado ao genocídio. A maior parte das famílias tinha perecido, mas muitas crianças conseguiram reencontrar os seus, dispersos em várias localidades da Europa.
Você tem de estender-lhe uma mão
Em entrevista dada em 2008 ao jornal The Sun, pouco antes de morrer, aos 98 anos, Irena declarou, repetindo as palavras de seu pai: “Se alguém está se afogando, você tem de estender-lhe uma mão. Quando a guerra começou, todos na Polônia estavam se afogando num mar de sangue, e os que mais se afogavam eram os judeus. E entre os judeus, os que mais sofriam eram as crianças. Não pude deixar de dar-lhes minha mão”.
Irena se casou pouco antes da guerra, mas se divorciou logo depois. Casou-se uma segunda vez, agora com um ativista chamado Stefan Zgrzembski, com quem teve três filhos.
Passou seus últimos anos em Varsóvia, e quem cuidou dela até o fim foi Elzbieta Ficowska – uma das crianças judias que ela retirou do gueto. Elzbieta foi salva quando tinha apenas seis meses de idade, escondida dentro de uma caixa de ferramentas de carpinteiro.
Em 2005, Irena declarou ao jornal britânico The Daily Express que o maior ato de amor que ela testemunhou durante a guerra foi o das mãos judias quando lhe entregavam os seus filhos.
“A pergunta que todo pai ou mãe me faziam era sempre a mesma: ‘Você garante que ele sobreviverá?’ E eu, honestamente, era obrigada a responder que não podia garantir isso, já que nem sequer tinha certeza que sairia viva do gueto naquele dia. A única coisa certa era que as crianças morreriam se ficassem ali. Nos meus sonhos, até hoje, ainda ouço o seu pranto quando deixavam os familiares”.
Em 2006, Irena estava na lista dos candidatos ao Prêmio Nobel da Paz… Mas não foi a escolhida. Quem ganhou o prêmio foi Al Gore por sua campanha sobre o aquecimento global...
Em 2009 foi lançado o filme “O Coração Corajoso de Irena Sendler”. Para quem tiver tempo e quiser se emocionar, apresentamos a versão integral desse filme, com subtítulos em português. A intérprete de Irena Sendler, a atriz Anna Paquin, foi indicada ao Globo de Ouro 2010.
Título original: The Courageous Heart of Irena Sendler
Título traduzido: O Coração Corajoso de Irena Sendler
Gênero: Drama
Duração: 96min
Ano de Lançamento: 2009
Tamanho: 600 MB
Formato: RMBV
Direção: John Kent Harrison
Legendado em Português
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