Hubble faz 26 anos. E nos dá de presente uma bolha espacial

Neste domingo, 24 de abril, o telescópio espacial Hubble apagará 26 velinhas. Para festejar, seus criadores escolheram a imagem tira-fôlego de uma nebulosa esférica situada a 8 mil anos luz

Neste domingo, 24 de abril, o telescópio espacial Hubble apagará 26 velinhas. Para festejar, seus criadores escolheram a imagem tira-fôlego de uma nebulosa esférica situada a 8 mil anos luz
Neste domingo, 24 de abril, o telescópio espacial Hubble apagará 26 velinhas. Para festejar, seus criadores escolheram a imagem tira-fôlego de uma nebulosa esférica situada a 8 mil anos luz (Foto: Luis Pellegrini)


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A Nebulosa Bolha (NGC 7653), imagem escolhida pelas agências NASA e ESA para comemorar o 26o aniversário do telescópio espacial HUbble.

Por: Luis Pellegrini

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Fotos: NASA/ ESA/ Hubble Heritage Team

Parece uma desmesurada bolha de sabão. Em vez disso é uma nebulosa esférica com um raio de cerca 10 anos luz, situada a 8 mil anos luz da Terra, na direção da constelação de Cassiopea. Esta é a imagem escolhida pelas agências NASA e ESA para comemorar, como já é tradição, o aniversário do Hubble.

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Com efeito, neste domingo, 24 de abril, o telescópio espacial festejará os seus 26 anos de bons serviços em órbita ao redor do planeta. A imagem que celebra esse aniversário é da Nebulosa Bolha (NGC 7653) feita com técnica composta a partir de 4 imagens diversas obtidas pela Wide Field Camera 3, equipamento que está a bordo do Hubble.

O envoltório arredondado dessa nebulosa é plasmado pelo vento solar proveniente de uma estrela que se encontra no interior da esfera, a estrela SAO 20575 (visível à esquerda, na parte central da foto. Sua massa é de 10 a 20 vezes maior do que a do Sol. A pressão do fluxo emanado pelo astro empurra os gases e a poeira estelar, conferindo a eles uma forma quase perfeitamente esférica. A bolha se expande à velocidade de 100 mil quilômetros horários, mas não o fará eternamente. A nuvem que a circunda, visível no alto e à esquerda da imagem, opõe-se ao seu crescimento, pois sua densidade se opõe à força do vento estelar.

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Hubble já tinha fotografado no passado a Nebulosa Bolha, mas jamais de forma tão detalhada.

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O Space Shuttle Discovery sobe aos céus em 24 de abril de 1990. A bordo está o Telescópio Espacial Hubble.

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Hubble, um olho escancarado para o cosmos

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Há 26 anos, no dia 24 de abril 1990, o telescópio espacial mais longevo e mais produtivo jamais criado pela tecnologia partia para a sua órbita terrestre. Desde então, ele imortalizou em imagens extraordinárias galáxias recém nascidas e estrelas em colapso, estudou planetas próximos e sistemas solares remotos. Contribuiu para o descobrimento da energia escura e revelou a verdadeira idade do universo.

Agora, depois de 1,2 milhões de observações e mais de 4,8 bilhões de quilômetros percorridos em órbita, o telescópio espacial Hubble festeja 26 anos de serviços. Um quarto de século constelado de sucessos, mas também de polêmicas, reparações tecnológicas em órbita e obstáculos superados.

 

Técnicos inspecionam o espelho principal do telescópio Hubble alguns dias antes do lançamento.

 

Por que um telescópio espacial?

O lançamento do Hubble em uma órbita terrestre foi saudado como a solução para um problema que desde sempre afligia os astrônomos: o da distorção atmosférica, a interferência das turbulências da atmosfera terrestre que perturba a visão a partir dos observatórios situados na superfície do planeta (o mesmo motivo pelo qual, quando olhamos para as estrelas, elas parecem pulsar).

Os modernos telescópios terrestres superaram em boa medida esse problema graças a espelhos adaptativos que, produzindo uma deformação controlada, compensam as turbulências atmosféricas, restituindo uma imagem nítida de fontes luminosas distantes.

Mas não existe meio, para os observadores situados na superfície de nosso planeta, de indagar a respeito do comprimento de ondas – como as ultravioletas, raios gama e raios X – bloqueadas ou absorvidas pela atmosfera.

A solução mais eficaz seria ir para além da barreira da atmosfera. Ou seja, expedir um telescópio espacial a 569 quilômetros da superfície terrestre. O Hubble tem uma acuidade de direcionamento tão refinada que conseguiria atingir com um raio laser uma moeda colocada a 320 quilômetros de distância!

 

Astronautas trabalham em órbita durante uma das missões de manutenção do Hubble.

 

Do sonho à realidade

Assim que o Congresso norte-americano decidiu a favor da dotação dos fundos necessários, em 1977, teve início os trabalhos de construção do espelho principal do telescópio, de 2,4 metros de diâmetro. Ao mesmo tempo deu-se início ao treinamento dos astronautas com vistas às missões de reparação do telescópio, que tem 13,3 metros de comprimento (como um grande ônibus) e pesa pouco mais de 12 toneladas, o equivalente a dois elefantes africanos.

O esforço foi imenso, e antes mesmo de entrar em funcionamento o Hubble exigiu o envio de equipes técnicas até o ponto orbital onde estava para efetuar reparos e correções. Mas tudo valeu largamente a pena: os resultados alcançados pelo telescópio são, até hoje, inigualáveis. A cada 97 minutos, Hubble completa uma órbita ao redor da Terra. Ele se desloca à velocidade de cerca 8 quilômetros por segundo (suficiente para atravessar todo o território do Brasil de norte a sul em 10 minutos!)

Futuro incerto

Apesar do sucesso obtido e da incrível quantidade de dados que acrescentou à ciência espacial, o futuro do Hubble não é seguro. As possíveis missões pensadas para estender-lhe o período de vida – missões robóticas de salvamento ou um sistema ótico corretivo com custo superior a 80 milhões de dólares – são com certeza inabordáveis nestes tempos de grandes cortes no orçamento e na balança aeroespacial. Assim sendo, a solução mais racional na qual se pensa é a de fazer descer o telescópio, numa queda controlada, dentro de alguns anos, quando ele não terá mais condições de funcionar corretamente.    

Enquanto isso, na Terra vão de vento em popa os trabalhos de construção do seu herdeiro, o James Webb Telescope, um telescópio espacial muito mais potente do Hubble e do Kepler, que deverá também se dedicar à busca de planetas similares à Terra. Ele fará isso orbitando a uma distância de 1,5 milhão de quilômetros da Terra, e trabalhando no campo da observação infravermelha. Seu lançamento, por enquanto, está previsto para o ano 2018.

Galeria:

Fogos de artifício celestes. Esta é a foto que foi escolhida para celebrar o 25O aniversário do telescópio espacial. Ela retrata o aglomerado de estrelas Westerlund 2, uma região de formação de corpos celestes a cerca de 20 mil anos-luz da Terra na constelação da Carena. A câmera La Wide Field Camera 3 conseguiu ultrapassar o véu de poeira que obscura esse berçário estelar, mostrando com precisão o núcleo de estrelas jovens centrais. Esse aglomerado é relativamente jovem (tem apenas 2 milhões de anos) e contem algumas das estrelas mais brilhantes, quentes e maciças jamais observadas.


Pilares da criação. Uma das imagens mais icônicas desde sempre, que mostra pilares de gases e poeiras cósmicas elevando-se a partir de uma região de formação estelar na Nebulosa Aquila (M16), a 6500 anos luz de nós.

 

Nebulosa da Borboleta. As “asas” abertas da NGC 6302, a 3800 anos luz da Terra, na constelação de Escorpião. A foto, tirada a 27 de julho 2009, retrata os violentos jatos de gás liberados da explosão de uma estrela cinco mais maior que o Sol. O disco equatorial central, denso de gases e poeira, que esconde a estrela, deu origem a uma estrutura bipolar que recorda, na forma, uma ampulheta.

 

Uma colossal lente cósmica. Abell 2218, um gigantesco aglomerado de galáxias situado a 2 milhões de anos luz da terra, é tão imenso que é capaz de aumentar e distorcer, com a sua gravidade, a luz das galáxias mais distantes. O fenômeno, conhecido em astronomia como “lente gravitacional”, é visível nos arcos luminosos retratados na imagem, a luz de galáxias situadas de 5 a 10 vezes mais distantes do que o próprio aglomerado. Em 2004 a lente gravitacional de Abell 2218 foi utilizada para observar uma galáxia distante 13,4 bilhões de anos luz!

 

 

Ecos de luz. Os resíduos da explosão da estrela V838 Monocerotis, a cerca de 20 mil anos luz do Sol. Em 2002, o astro explodiu de forma muito violenta, e durante algumas semanas ele permaneceu cerca de 600 mil vezes mais vrilhante do que o Sol. A foto, realizada a 28 de outubro daquele ano, mostra o eco luminoso da explosão propagando-se por uma área equivalente a 6 anos luz, iluminando a poeira estelar que lhe estava próxima.

 

 

Galáxia Sombrero. Uma das galáxias mais fotogênicas jamais encontradas, conhecida também como o nome de Messier 104, ela se mostra com um perfil muito alongado em seu plano equatorial. Na imagem, tirada entre maio e junho 2003, é bem visível o núcleo luminoso central coalhado de estrelas, circundado por um disco de poeira estelar escura.

 

 

O Olho de Deus. O azul da Nebulosa Hélix (NGC 7293) nesta foto tirada em 2004. As camadas concêntricas visíveis na imagem são estratos de gás condensado, expulso a partirt de uma estrela central. A imagem é de muito interesse porque mostra que o material expulso no meio interestelar já possui uma forma própria de condensação, e pode se transformar na semente de uma nova formação planetária.

 

Um girino numa lagoa negra. A forma distorcida da galáxia espiral UGC 10214, a 420 milhões de anos luz, na Constelação do Dragão. As forças gravitacionais resultantes da integração com ma galáxia vizinha criaram uma “cauda” de material estelar com o comprimento de 280 mil anos luz.

 

Uma espiral barrada. A NGC 1300 é considerada o protótipo das galáxias a espiral barrada,  nas quais os braços estão conectados por uma barra central que contém também o núcleo. Hubble a fotografou pela primeira vez em 2005, evidenciando em alta resolução o seu disco, as estrelas supergigantes azuis e vermelhas e os aglomerados estelares presente no seu interior, bem como várias outras galáxias presentes ao fundo.

 

Rosa espacial.  As galáxias interativas Arp 273 parecem desenhar no cosmos o contorno de uma flor. A forma distorcida da maior das duas, nesta foto de 2011, mostra os sinais da distorção gravitacional causada pela companheira de menor tamanho. Pensa-se que a galáxia menor tenha atravessado por completo a maior.

 

Focinho escancarado. O aglomerado de estrelas jovens NGC 602, que lança brilhos azulados na Pequena Nuvem de Magalhães, é um laboratório de formação estelar situado a 200 mil anos luz da terra. A energia irradiada pelas estrelas jovens esculpiu os gases e as poeiras presentes no interior da Nebulosa, dando origem a uma forma que parece o focinho escancarado de um dragão.

 

Meteorologia marciana. Esta foto de 1999 retrata o planeta Marte dois anos depois da descida da sonda Mars Pathfinder, a primeira a colocar uma sonda (rover) na superfície do Planeta Vermelho. A foto revela a presença de uma grande tempestade ciclônica de gelo de água vizinha à calota polar norte do planeta.

 

Planeta anão. Esta fotografia faz parte do conjunto mais bem detalhado de imagens de Plutão capturadas pelo Hubble. A foto é de fevereiro 2010. Embora Plutão seja um dos corpos celestes mais amados, devido às suas dimensões pequenas e a distância a que se encontra de nós, é muito difícil a obtenção de imagens nítidas.

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