Haka Maori. Um grito de guerra em forma de dança
Essas manifestações têm sempre um fundo ritualístico e envolvem, além da dança, a música, sobretudo de percussão, e palavras normalmente organizadas com estrutura poética. Os versos de uma haka muitas vezes descrevem aventuras e epopeias de ancestrais e eventos da história da tribo
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Na Nova Zelândia, a haka é uma demonstração feroz do orgulho, da força e unidade de uma tribo. As ações incluem pisadas violentas com os pés, mostrar a língua e estirá-la na máxima extensão possível, dar tapas rítmicos no corpo para acompanhar um canto executado a plena voz, quando não aos gritos
Por: Luis Pellegrini
Haka é coisa de macho cheio de testosterona. Até mesmo quando é praticada por mulheres. Quem já viu o time All Blacks da Nova Zelândia entrar em campo antes de uma partida de rugby, certamente terá notado o ritual assustador de gritos, gestos e caretas praticado pelos jogadores. Eles estão executando uma haka, um tipo de dança de guerra muito antiga, inventada pela tribo dos maori, e tradicionalmente utilizada sobretudo nos campos de batalha, diante das hostes inimigas. Mas nem sempre: as hakas também são praticadas em várias outras ocasiões, entre elas quando os grupos tribais se reúnem para celebrar alguma coisa em paz.
Essas manifestações têm sempre um fundo ritualístico e envolvem, além da dança, a música, sobretudo de percussão, e palavras normalmente organizadas com estrutura poética. Os versos de uma haka muitas vezes descrevem aventuras e epopeias de ancestrais e eventos da história da tribo.
Hoje, hakas ainda são utilizadas durante as cerimônias maori e em muitas celebrações para homenagear convidados de honra e demonstrar a importância da ocasião. Também são usados para desafiar os adversários no campo dos esportes. A prática tornou-se uma verdadeira proclamação da alma guerreira da Nova Zelândia, com todos os seus atributos de honra, glória, coragem, dignidade, força física e poder espiritual.
Como o samba no Brasil
Profundamente enraizada na alma dos maori, a haka faz parte do próprio núcleo cultural desses indígenas. Ela reflete uma história muito rica em lendas, mitologia e folclore. Como o samba para o Brasil, pode-se dizer que a Nova Zelândia se formou e se desenvolveu imersa em haka desde os primeiros encontros entre os maoris e os primeiros exploradores, missionários e colonizadores europeus. Rapidamente essa prática tornou-se um modo de afirmação da identidade maori e um motor da sua sobrevivência.
A tradição mais recente sugere que a haka é uma atividade masculina, de domínio exclusivo dos homens, mas as lendas contam uma versão diferente. De fato, a análise da história e do conteúdo da haka mais famosa, a “Ka mate”, demonstra que ela de fato discorre sobre o poder da sensualidade feminina. Trata-se de uma relação interessante e curiosa do ponto de vista da psicologia individual e social profunda: Para os maori, o poder viril surge da sensualidade feminina...
Para a tradicão maori, a haka é na verdade uma manifestação divina. Ela surgiu em primeiro lugar na dimensão onde vivem e atuam os deuses, e de lá foi trazida para a dimensão dos humanos. Segundo a lenda, a primeira vez que a haka foi praticada no nosso mundo aconteceu quando o chefe indígena Tinirau quis revanche pela morte de uma baleia. Ele enviou então um grupo de mulheres caçadoras para encontrar o responsável pela morte do animal, um velho tohunga, que na língua maori significa “um homem muito sábio”. Seu nome era Kae, mas as mulheres não o conheciam. Sabiam apenas que ele tinha dentes tortos e sobrepostos. Quando as mulheres chegaram ao vilarejo de Kae, elas realizaram a haka, com o intento de forçar o sorriso dos homens e, dessa forma, descobrir a identidade de Kae. Graças ao estratagema, Kae não resistiu ao charme e sorriu, mostrando os dentes. Foi então capturado e levado para o vilarejo de Tinirau, onde foi morto.
Os exploradores Europeus Abel Tasman e James Cook, foram os primeiros a observar os Maoris e relatar suas práticas culturais. Esses primeiros contatos foram caracterizadas por mal-entendidos e equívocos que levaram a muita violência e mortes.
No início de uma haka, o líder que conduz o ritual grita para os companheiros um refrão de incitamento. As palavras são utilizadas não apenas para estimular os guerreiros à luta, mas também para recordar o comportamento correto que deve ser mantido durante a mesma. Quanto mais agressiva, feroz e brutal, mais a haka irá incentivar o grupo e intimidar o adversário.
Os dois vídeos abaixo são exemplos típicos de haka. O segundo deles, no entanto, vai muito além de uma simples manifestação de um espírito guerreiro. Mostra um inteiro batalhão de soldados da Nova Zelândia (misto das várias etnias que compõem a população do país) executando uma haka em homenagem a um companheiro morto em combate. Impossível não se emocionar diante da força do evento, que se revela prova cabal do forte espírito tribal que permeia aquela população.
O Vídeo 1 mostra a haka “Ka Mate”, com suas palavras em língua maori:
Video 2: Haka em homenagem a companheiro morto em combate
Este vídeo mostra os soldados de um batalhão de infantaria do Exército da Nova Zelândia realizando uma “Haka” em reconhecimento à vida e aos feitos de um companheiro que morreu em combate e que deverá ser sepultado. É uma despedida emocionante realizada pelos seus irmãos de farda antes que o cortejo entre no cemitério.
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