Por: Luis Pellegrini
A empresa sueca Gavagai AB, instituição especializada em tecnologia da linguagem e que é um braço do Instituto Sueco de Ciência da Computação, domina 40 línguas humanas distintas com seu programa de análise de linguagem. Agora, os pesquisadores do KTH Royal Institute of technology estão se unindo com a Gavagai AB para decifrar a linguagem dos golfinhos. O projeto está focado tanto em testes para a expansão do sistema quanto decifrar o pensamento desses cetáceos.
A equipe irá monitorar golfinhos nariz-de- garrafa em um parque de vida selvagem e usar a tecnologia de inteligência artificial para a análise de linguagem desenvolvida pela empresa Gavagai para decodificar a grande variedade de sons que os golfinhos emitem para se comunicar. A ideia é compilar um dicionário da linguagem dos golfinhos. Os membros da equipe estão confiantes de que serão capazes de fazer isso graças não apenas às capacidades de inteligência artificial do sistema Gavagai AB, mas também à disponibilidade, hoje, de muito mais dados a respeito dos golfinhos e do seus sistema de comunicação, bem como da existência de maiores recursos computacionais e de novos métodos de gravação e análise de sons.
“Esperamos ser capazes de entender a ‘fala dos golfinhos com a ajuda da tecnologia de inteligência artificial”, disse o professor adjunto do KTH, Jussi Karlgren, co-fundador da Gavagai, em entrevista. Sabemos que os golfinhos têm um sistema complexo de comunicação, mas ainda não sabemos do que estão falando.
Aplicações das descobertas
A tecnologia da Gavagai já dominou 40 línguas, mas seus sistemas ainda se concentram em análise textual. Isso inclui monitoramento e comparação de vários conceitos, bem como fornecer muitos insights dentro de uma gama de possíveis respostas emocionais.
Ao que tudo indica, os golfinhos – cujo cérebro tem praticamente as mesmas dimensões do cérebro humano – usam os mesmos processos linguísticos dos humanos para se comunicar. Eles se comunicam usando “palavras” organizadas em frases. Eles também colocam pausas na própria fala para dar tempo a um outro golfinho de falar. Por causa desses estratégias, a inteligência artificial pode encontrar ligações entre os sons, da mesma forma que isso acontece na linguagem humana.
Cada golfinho parece ter um “nome”
Já se sabe que os golfinhos nariz-de-garrafa, na África, usam silvos e assobios modulados em variadas frequências para se identificarem perante os outros indivíduos da mesma espécie. Cada conjunto desses sons que eles emitem corresponderia a um “nome” individual. A comunicação através desses sons é constante nas sociedades dos golfinhos. Eles usam sons para procurar comida e também para a navegação, bem como para tecer “conversas” familiares ou em rituais de acasalamento.
Compreender a linguagem dos golfinhos pode parecer uma meta científica estranha, mas na verdade ela faz muito sentido. Claro, os zoólogos e etologistas seriam os primeiros a se beneficiar da descoberta, mas logo a seguir vêm as empresas de comunicação e marketing. Mega empresas como a Amazon.com e a Alphabet já estão usando as tecnologias da inteligência artificial para responder às solicitações dos clientes e solucionar problemas mais rapidamente e sem serem obrigadas a criar uma nova programação.
Não será difícil imaginar outras aplicações para tais descobertas. Algumas delas são bastante controvertidas, como, por exemplo, o fato de que a Marinha dos Estados Unidos usa mamíferos marinhos, inclusive golfinhos, treinando-os em seu Espaço de San Diego, na Califórnia, e no Centro de Sistemas de Guerra Naval do Pacífico (SPAWAR). Esses animais, após treinamento, aprenderam por exemplo a colocar e a encontrar minas submarinas explosivas. Uma outra aplicação reside na ideia de como se comunicar com formas alienígenas inteligentes.
Um dos problemas ligados à descoberta de vida extraterrestre – coisa que parece cada dia mais próxima graças aos enormes avanços da tecnologia espacial – é que precisaremos encontrar maneiras de se comunicar. Uma vez que os sistemas Gavagai já dominaram dezenas de línguas humanas, passar para outras formas de vida parece ser um próximo passo.
Vídeo: Teaching a dolphin to speak English – The Girl Who Talked to Dolphins