Por: Equipe Oásis
Fonte: Site www.luispellegrini.com.br
Um sistema de redes neurais desenvolvido por cientistas da Universidade de Stanford, na Califórnia, seria capaz de supor a orientação sexual de uma pessoa a partir simplesmente de uma fotografia dela. O estudo, em via de publicação no Journal of Personality and Social Psychology, levantou uma agitada vaga de perplexidade, bem como de dúvidas a respeito do aspecto ético de pesquisas do gênero, que tratam da existência ou não de conotações biológicas ligadas à orientação sexual. Suscitou também acaloradas discussões a respeito do risco que a inteligência artificial possa ser usada para violar a nossa privacidade ou servir de base para a manutenção de formas de discriminação sexual.
Redes neurais profundas
Os pesquisadores, Michal Kosinski e Yilun Wang, foram os principais responsáveis pelo desenvolvimento de um sistema definido como redes neurais profundas – um complexo modelo matemático capaz de construir esquemas recorrentes de um esquema inicialmente desordenado de dados – mais de 35 mil fotos de homens e outras tantas mulheres, extraídas de um popular site de encontros norte-americano que torna públicos os perfis dos seus usuários.
O modelo identificou uma série de parâmetros recorrentes – que podem ser traduzidos, por exemplo, pelo tamanho do nariz, a amplitude da testa ou a largura do maxilar – que depois foram utilizados para presumir a orientação sexual dos candidatos (com uma única distinção, gay ou hétero, sem levar em conta a imensa gama de nuances possíveis entre essas duas categorias.
A inteligência artificial acertou sua presunção em 81% dos casos para os homens e em 74% dos casos para as mulheres. Quando ao sistema foram fornecidas mais fotografias da mesma pessoa, a exatidão subiu a 91% para os homens e a 83% para as mulheres.
O estudo, no entanto, segundo especialistas, apresenta vários aspectos critiváveis, a partir sobretudo de questões metodológicas. Por exemplo, não foram consideradas fotos de pessoas não-brancas, nem foi levada em consideração a possibilidade de os examinados seres transgêneros ou bissexuais. A finalidade do arquivo de partida – um site de encontros – poderia ter induzido os inscritos a escolher flagrantes particularmente reveladores das suas próprias preferências sexuais.
Além disso, as modalidades com que foram propostas as fotos à rede neural fazem com que o sistema seja bastante eficiente enquanto for usado em laboratório. No mundo real, onde a sexualidade humana possui uma miríade de nuances, ele não seria igualmente eficaz.
Cenários inquietantes
Para além das questões mais “técnicas”, muitas perguntas permanecem em aberto: o fato de que as redes neurais possam ter sucesso nesse gênero de distinção significa que existem conotações biológicas ou anatômicas relacionadas às preferências sexuais? E se uma máquina pode chegar ao ponto de supor quem nos agrada ou desagrada, como excluir a possibilidade de que alguém, amanhã, não queira apropriar-se desses dados e usá-los com finalidades políticas, ou de discriminação racial, por exemplo? Existirão outros programas de computador capazes de indagar, a partir de uma foto, outras esferas íntimas de nossas vidas, tais como as preferências políticas, ou o quociente de inteligência?
O quadro que se descortina possui, sem dúvida, aspecto preocupantes, mas – concluem os próprios pesquisadores – vale a pena refletirmos a respeito, antes que tais instrumentos caiam em mãos erradas.
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