Europa. A luta contra o terrorismo ainda não começou
"De tanto se preocuparem com o que se passa lá longe, na Síria e no Iraque, os europeus não prestam atenção ao que se prepara portas adentro. Nem sempre há jihadistas, como Salah Abdeslam, no nosso bairro, mas, quando há, é preciso reconhecê-los a tempo", diz o jornalista italiano Alberto Negri.
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Por: Alberto Negri. Fonte: Giornale Il Sole, Milão
A vaga de atentados que ensanguentou Bruxelas foi uma prova da falha dos serviços secretos belgas, mas também dos europeus, atingidos na sua capital, onde se encontra, também, a sede da NATO. Era de prever que os jihadistas europeus tentassem algum tipo de vingança (após a prisão de Salah Abdeslam a 18 de março) e não é de excluir que outras células terroristas possam estar preparadas para atuar. Depois de tantas reuniões onde se falou de cooperação entre serviços europeus. os fatos demonstram tragicamente que nem sequer os belgas e os franceses conseguem cooperar.
Isto é evidenciado pela exemplar história de Salah Abdeslam, e do seu esquadrão da morte. Acabou por ser preso a dois passos da rua onde, há meses, havia brigas e detenções, ou seja, em Molenbeek, uma comuna de Bruxelas que o protegeu eficazmente, qual cidadela jihadista impenetrável.
Salah viveu ao nosso lado vários meses, passando fronteiras com total impunidade. A 9 de setembro de 2015, entrou com Mohamed Belkaid (um dos presumíveis coordenadores do atentado de Paris, abatido a 15 de março) vindo da Hungria, passando por barreiras anti-imigrantes e por polícias austríacas, incapazes de verificar corretamente uma simples identidade: deixaram-no passar, acompanhado de outro candidato a mártir.
Raízes no Oriente Médio
A Europa tem de estar consciente de que o terrorismo está entre nós, que vítimas e criminosos vivem lado a lado, que não se trata de episódios isolados, que tudo isso tem suas raízes nas guerras do Médio Oriente. Na Europa, fazemos a guerra ao Isis (Estado Islâmico) de forma vaga e desorganizada e contentamo-nos que, de tempos a tempos, um ou outro raid aéreo mate um líder terrorista na Síria ou na Líbia. Isso transmite a reconfortante sensação de que as tecnologias ocidentais são implacavelmente precisas.
Ora, nada é mais falso. O que na realidade acontece entre Raka (feudo do Ísis na Síria) e Mosul (segunda maior cidade do Iraque nas mãos do grupo desde 2014), o que chega à Europa vindo do Médio Oriente encontra-se envolto em mistério e consegue quase sempre surpreender os serviços secretos.
Agora vamos começar a perceber que a Europa está em guerra. Apesar de as potências europeias já o estarem há vários anos, temos de pensar no Afeganistão, no Iraque e na Líbia: é preciso refletir lucidamente sobre estes conflitos e perguntar se a famosa "guerra ao terrorismo" liderada pelos norte-americanos desde os atentados do 11 de setembro de 2011 reforçou, ou não. a nossa segurança. A resposta é um evidente não. Primeiro foi a Al-Qaeda, depois o Isis e provavelmente vamos assistir em breve ao nascimento de outras organizações.
Prevenção por fazer
O contraterrorismo, como bem sabemos na Itália, começa antes da tragédia, antes da explosão dos kamikazes. Começa pela prevenção, por investigações discretas e exaustivas que, às vezes, duram anos, por uma vigilância constante, pelo conhecimento dos locais de reunião dos suspeitos e pela junção de indícios. Trata-se de explorar as fronteiras entre o mundo visível e o submundo. Isso foi feito? Não!
Se o terrorismo, vemos agora, alcança uma eficácia tão diabólica em solo europeu é porque, muitas vezes, estamos preocupados com o que se passa além-fronteiras e pensamos que conseguimos resolver tudo com drones ou ataques aéreos. Trata-se de uma escolha de risco que nos leva a negligenciar o que se passa no seio da Europa, no complexo tecido social dos arredores das cidades, sobretudo no Norte. Pode parecer um paradoxo, mas a luta contra o terrorismo, a mesma que travámos utilizando os serviços secretos, na realidade ainda mal começou.
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