Estresse: Um inimigo que pode virar amigo
O estresse se tornou um inimigo da saúde pública. Mas uma nova pesquisa sugere que ele só faz mal quando a pessoa estressada acredita que... faz mal. A psicóloga Kelly McGonigal nos leva a encarar o estresse como uma coisa positiva, afirmando que o antídoto do estresse é aproximar-se dos outros
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Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Gustavo Rocha. Revisão: Maria Silveira
Psicóloga da Stanford University, EUA, Kelly McGonigal é uma das líderes de um novo movimento batizado de "science-help" (ajuda através da ciência). Através de livros, artigos, cursos e workshops ela procura ajudar as pessoas a compreender e a implementar as últimas descobertas cientificas no campo da psicologia, da neurociência e da medicina.
Vídeo:
Tradução integral da palestra de Kelly McGonigal:
"Tenho de confessar uma coisa mas, primeiro, gostaria que vocês confessassem uma coisinha para mim. Ano passado, quero que vocês levantem a mão, alguém entre vocês passou por momentos de estresse? Alguém?
E uma quantidade razoável de estresse?
Quem teve muitos momentos de estresse? Pois é. Eu também.
Mas não é isso que vou confessar. Preciso confessar que: eu sou uma psicóloga da saúde, e minha missão é ajudar as pessoas a serem mais felizes e mais saudáveis. Mas receio que algo que tenho ensinado nos últimos 10 anos está prejudicando mais do que ajudando e tem a ver com estresse. Por anos eu disse às pessoas que o estresse as deixa doentes. Ele aumento o risco de tudo, desde resfriado comum até doenças cardiovasculares. Basicamente, eu transformei o estresse no inimigo. Mas eu mudei minha opinião sobre o estresse. E hoje, quero mudar a de vocês.
Vou começar com o estudo que me fez repensar toda minha abordagem do estresse. Esse estudo acompanhou 30 mil adultos nos Estados Unidos por oito anos e eles começaram perguntando às pessoas, "Quanto estresse você teve ano passado?" Eles também perguntaram, "Você acredita que o estresse é prejudicial à sua saúde?" E usaram registros públicos de óbitos para descobrir quem havia morrido.
Ok. As más notícias primeiro. Pessoas que tiveram muitos momentos de estresse no ano anterior tiveram um aumento de 43% no risco de morte. Mas isso só foi verdade para as pessoas que também acreditavam que o estresse é prejudicial à sua saúde. Pessoas que tiveram muitos momentos de estresse mas não acreditavam que ele fosse prejudicial não estavam mais propensas a morrer. Na verdade, elas tiveram os menores riscos de morte do que qualquer outro no estudo, incluindo as pessoas que tiveram relativamente pouco estresse.
Agora, pesquisadores estimaram que durante os oito anos em que estavam acompanhando as mortes, 182 mil americanos morreram prematuramente, não de estresse, mas da crença de que o estresse é ruim para você. Isso dá mais de 20 mil mortes por ano. Agora, se essa estimativa estiver correta, Isso faz com que a crença de que o estresse é ruim para você seja a 15ª maior causa de mortes nos Estados Unidos no ano passado, matando mais que o câncer de pele, HIV/AIDS e homicídios.
Vocês veem por que esse estudo me assustou. Aqui, eu venho gastando meu tempo e energia dizendo às pessoas que o estresse é ruim para a sua saúde.
E esse estudo me fez pensar: Será que mudar como pensamos sobre o estresse pode nos tornar mais saudáveis? E aqui a ciência diz que sim. Quando mudamos nossa opinião sobre o estresse, podemos mudar nossa resposta corporal ao estresse.
E para explicar como isso funciona, quero que vocês todos finjam que estão participando de um estudo projetado para estressá-los. É chamado de teste do estresse social. Vocês chegam no laboratório, e alguém diz para vocês darem um discurso improvisado de cinco minutos sobre suas fraquezas pessoais a um painel de avaliadores especialistas sentados à sua frente e para ter certeza que vocês estão sob pressão, há luzes fortes e uma câmera bem na sua cara, Mais ou menos assim. E os avaliadores foram treinados para lhes dar um feedback não verbal desanimador assim.
Agora que vocês estão suficientemente desmoralizados, hora da parte dois: um teste de matemática. E sem o seu conhecimento, O avaliador foi treinado para perturbá-los durante o teste Agora vamos fazer isso todos juntos. Vai ser divertido. Para mim.
Ok. Quero que vocês contem de trás para frente de 996 em incrementos de 7. Vocês vão fazer isso em voz alta o mais rápido que puderem, começando em 996. Vai! Plateia: (Contando) Mais rápido. Por favor, mais rápido. Vocês estão muito lentos. Parem. Parem, parem, parem. Ele ali cometeu um erro. Vamos ter que começar tudo de novo. (Risos) Vocês não são muito bons nisso, né? Ok, vocês entenderam a ideia. Agora, se vocês estivessem mesmo nesse estudo, vocês provavelmente ficariam um pouco estressados. Seu coração estaria batendo forte, vocês estariam respirando mais rápido, talvez suando muito. E normalmente, nós interpretamos essas mudanças físicas como ansiedade ou sinais de que não estamos lidando muito bem com a pressão.
Mas, e se encararmos em vez disso como sinais de que seu corpo está fortalecido, está se preparando para enfrentar os desafios? Agora isso foi exatamente o que foi dito aos participantes em um estudo feito pela universidade de Harvard. Antes de irem para o teste do estresse social, eles aprenderam a repensar sua resposta ao estresse como útil. Aquele coração batendo forte está te preparando para a ação. Se você está respirando mais rápido, não tem problema. Está levando mais oxigênio ao seu cérebro. E os participantes que aprenderam a encarar a resposta ao estresse como útil para sua performance, bem, eles estavam menos estressados, menos ansiosos, mais confiantes, mas a descoberta mais fascinante para mim foi como sua resposta física ao estresse mudou. Em uma resposta típica ao estresse, sua taxa cardíaca sobe, e seus vasos sanguíneos contraem assim. E essa é uma das razões pelas quais o estresse crônico às vezes está associado a doenças cardiovasculares. Não é muito saudável ficar nesse estado o tempo todo. Mas no estudo, quando os participantes encararam sua resposta ao estresse como útil, seus vasos sanguíneos permaneceram relaxados assim. Seu coração ainda batia forte, mas esse é um perfil cardiovascular muito mais saudável. Parece mesmo muito com o que acontece nos momentos de alegria e coragem. Durante uma vida de experiências estressantes, essa mudança biológica poderia ser a diferença entre um ataque cardíaco induzido pelo estresse com 50 anos e viver bem até os 90. E é bem isso que a nova ciência do estresse revela,que a maneira como pensamos sobre o estresse importa.
Então, meu objetivo como psicóloga da saúde mudou. Não quero mais lhe livrar do seu estresse. Quero torná-lo melhor no estresse. E nós acabamos de ter uma pequena intervenção. Se você levantou sua mão e disse que você teve muito estresse ano passado, nós poderíamos ter salvado sua vida, porque espero que da próxima vez que seu coração estiver batendo forte de estresse, vocês vão se lembrar dessa palestra e vão pensar consigo, isso é meu corpo me ajudando a me levantar para esse desafio. E quando você encara o estresse desse jeito, seu corpo acredita em você, e sua resposta ao estresse se torna mais saudável.
Agora eu disse que tive mais de uma década de demonização do estresse para me redimir, portanto vamos ter mais uma intervenção. Quero contar-lhes sobre um dos aspectos mais subestimados da resposta ao estresse, e a ideia é essa: Estresse te torna sociável.
Para entender esse lado do estresse, precisamos falar de um hormônio, a oxitocina. Eu sei que a oxitocina já teve o máximo de fama que um hormônio pode conseguir. Ela tem até mesmo seu próprio apelido carinhoso, o hormônio do abraço, porque é liberada quando abraçamos alguém. Mas essa é só uma pequena parte do que envolve a oxitocina. Oxitocina é um neuro-hormônio. Ela ajusta os instintos sociais de seu cérebro. Te dá uma tendência a fazer coisas que fortalecem relacionamentos próximos. Oxitocina faz você precisar de contato físico com seus amigos e família. Realça sua empatia. Te deixa até mais disposto a ajudar e apoiar as pessoas com quem você se importa. Algumas pessoas até já sugeriram que deveríamos inalar oxitocina para nos tornarmos mais compassivos e gentis. Mas aqui está o que a maioria das pessoas não entende sobre a oxitocina. É um hormônio do estresse. Sua glândula pituitária bombeia essa coisa como parte da resposta ao estresse. É tanto uma parte da sua resposta ao estresse como é a adrenalina que faz seu coração bater mais forte. E quando a oxitocina é liberada na resposta ao estresse está motivando-o a procurar apoio. Sua resposta biológica ao estresse está incentivando-o a contar a alguém como você se sente em vez de guardar isso para você. Sua resposta ao estresse quer garantir que você note quando alguém na sua vida está tendo dificuldades para que você possa oferecer apoio. Quando a vida fica difícil, sua resposta ao estresse quer que você esteja ao redor de pessoas que se importam com você.
Ok, então como conhecer esse lado do estresse vai torná-los mais saudáveis? Bem, a oxitocina não age somente no seu cérebro. Ela também age no seu corpo, e um dos seus principais papeis no seu corpo é proteger seu sistema cardiovascular dos efeitos do estresse. É um anti-inflamatório natural. Também ajuda seus vasos sanguíneos a ficarem relaxados durante o estresse. Mas meu efeito favorito no corpo é mesmo no coração. Seu coração tem receptores para esse hormônio, e a oxitocina ajuda as células cardíacas a se regenerarem e se curarem de qualquer dano causado pelo estresse. Esse hormônio do estresse fortalece seu coração. A coisa legal é que todos esse benefícios físicos da oxitocina aumentam com contato social e o apoio social, então quando você procura pelos outros sob estresse, seja para procurar ajuda ou para ajudar outra pessoa, você libera mais desse hormônio, sua resposta ao estresse se torna mais saudável, e você se recupera mesmo mais rápido do estresse. E acho isso incrível, que sua resposta ao estresse tem um mecanismo embutido para a resiliência ao estresse, e esse mecanismo é a conexão humana.
Gostaria de finalizar contando-lhes sobre mais um estudo. E prestem atenção, porque esse estudo também pode salvar uma vida. Esse estudo acompanhou cerca de 1000 adultos nos Estados Unidos, em idades de 34 a 93, e eles começaram o estudo perguntando, "Quanto estresse você teve ano passado?" Eles também perguntaram, "Quanto tempo você passou ajudando amigos, vizinhos, pessoas em sua comunidade?" E então eles usaram registros públicos nos próximos cinco anos para descobrir quem tinha morrido.
Ok, as más notícias primeiro: Para cada grande experiência de vida estressante, como dificuldade financeira ou crise familiar, isso aumentava o risco de morte em 30%. Mas -- e espero que vocês estejam esperando um "mas" agora -- mas isso não era verdade para todos. Pessoas que passaram tempo cuidando de outros não apresentaram nenhum aumento em mortes relacionado ao estresse. Zero. Importar-se cria resiliência. E assim, vemos novamente que os efeitos prejudiciais do estresse em sua saúde não são inevitáveis. Como pensamos e como agimos pode transformar nossa experiência do estresse. Quando você escolhe encarar sua resposta ao estresse como útil, você cria a biologia da coragem. E quando você escolhe conectar-se com outros sob estresse, você pode criar resiliência. Agora, eu não pediria necessariamente por mais experiências estressantes na minha vida, mas essa ciência me deu uma apreciação inteiramente nova do estresse. O estresse nos dá acesso aos nossos corações. O coração compassivo que encontra alegria e significado quando se conecta com outros, e sim, seu coração físico batendo forte, trabalhando duro para lhe dar força e energia, e quando você escolhe encarar o estresse desse jeito, você não está somente melhorando no estresse, você está mesmo afirmando algo profundo. Você está dizendo que pode confiar em si mesmo para lidar com as mudanças da vida. E está se lembrando de que você não precisa enfrentá-las sozinho.
Obrigada.
Chris Anderson: Isso é muito incrível, o que você nos disse. Para mim é incrível que uma crença sobre o estresse possa fazer tanta diferença na expectativa de vida de uma pessoa. Como isso se estenderia para o conselho, como, se alguém tiver que escolher um estilo de vida entre, digamos, um trabalho estressante e um não estressante, faz diferença o caminho escolhido? É igualmente sábio escolher o trabalho estressante desde que você acredite que você pode lidar com ele, de algum modo?
Kelly McGonigal: Pois é, e uma coisa que sabemos com certeza é que buscar significado é melhor para sua saúde do que tentar evitar o desconforto. E assim eu diria que o melhor jeito mesmo de tomar decisões, é seguir o que quer que dê significado à sua vida e então acreditar em si mesmo para lidar com o estresse que virá.
CA: Muito Obrigado, Kelly. Foi muito bom. KM: Obrigada.
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