Errar é humano. Perseverar no erro... também

Por que repetimos sempre os mesmos erros? Aqui estão os mecanismos psicológicos que tantas vezes nos fazem tropeçar na mesma decisão equivocada


Por que repetimos sempre os mesmos erros? Aqui estão os mecanismos psicológicos que tantas vezes nos fazem tropeçar na mesma decisão equivocada
Por que repetimos sempre os mesmos erros? Aqui estão os mecanismos psicológicos que tantas vezes nos fazem tropeçar na mesma decisão equivocada (Foto: Luis Pellegrini)


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Por: Luis Pellegrini

 

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Vocês veem essas rosquinhas recobertas de glacês e chocolates? Impossível resistir às suas cores, imediatamente associadas a sabores que conhecemos e apreciamos. Dá água na boca. Mas, depois de sermos mais uma vez vencidos pela tentação da gula, tudo que nos resta é um desagradável sentimento de culpa e remorso. Isso já nos aconteceu centenas, milhares de vezes, e apesar disso toda vez que a oportunidade aparece, caímos novamente na arapuca. Acontece com a comida-lixo oferecida nas hamburguerias, mas também com as compras de impulso nos shoppings, as escolhas no restaurante e inclusive... na escolha de um parceiro ou parceira de vida. Por que repetimos sempre os mesmos erros?

 

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É uma forma de consolação

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Um artigo recentemente publicado na revista The Atlantic analisa três mecanismos responsáveis pelo fenômeno, que é muito mais comum do que se pensa. O primeiro: quando erramos nos sentimos culpados, e quando nos sentimos culpados tendemos a ser mais indulgentes com nós mesmos. Assim, acabamos errando de novo: em uma série de experimentos descritos no Journal of Consumer Psychology, foi solicitado a algumas pessoas que recordassem todas as vezes em que foram capazes de resistir ou, ao contrário, cederam à tentação de realizar uma compra desnecessária.

Aos voluntários foi pedido, depois, calcular quanto gastaram para adquirir um objeto muito desejado: surpreendentemente, quem se lembrava das vezes em que já caíra em tentação se declarava também estar disposto a repetir a dose, gastando novamente aquela soma de dinheiro para comprar o mesmo objeto desnecessário! O fato de ter errado no passado não elimina o desejo de fazê-lo novamente.

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A auto-sabotagem é constante

O segundo mecanismo tem a ver com o modo como enfrentamos uma situação de erro. Depois de cometer um erro, o cérebro tende a se tornar mais lento no  momento de enfrentar novamente aquela escolha, como se estivesse avaliando as possibilidades à disposição e se perguntando o que deu errado  no passado. Trata-se de uma reflexão que concentra e focaliza todas as energias da mente na lembrança do erro, desviando a atenção da nova escolha que se deve fazer.

Por fim, no terceiro mecanismo, diversos estudos demonstraram que o cérebro tende a prestar atenção particular aos estímulos que no passado se mostraram agradáveis, até mesmo quando já não o são. Eis porque, por exemplo, é tão difícil resistir a um doce hipercalórico (ou ao namorado errado): se, em algum momento do passado, eles geraram dopamina – um neurotransmissor ligado ao prazer – no cérebro, teremos mais dificuldade para nos recordarmos da indigestão que vem a seguir na forma de um sentimento de culpa.

 

DICAS QUE AJUDAM A DESENVOLVER O AUTOCONTROLE


 

1 «Posso resistir a tudo, menos às tentações”, dizia Oscar Wilde. Mas a ciência descobriu que o autocontrole, ou seja a capacidade de refrear os impulsos (fome, sexo, agressividade, vontade de comprar, preguiça, etc), é fundamental. Não apenas por motivos religiosos, como ensinam várias religiões, mas também com objetivos muito mais terrenos, como gozar de uma boa saúde e  viver melhor. As vantagens do autodomínio são notáveis: quem exercita a força de vontade em um determinado campo (na dieta, por exemplo) torna-se mais determinado também em outros campos (para aprender a tocar piano, por exemplo). O autocontrole, portanto, pode ser treinado. Mas treinamento e educação não são tudo: as pesquisas descobriram que o autocontrole depende de várias outras causas insuspeitáveis. Elas vão desde o sexo... até as reservas de açúcares no organismo.

 

2 Lobos frontais, os freios do cérebro. As áreas que regulam o autocontrole são as dos lobos cerebrais frontais (marcados em azul, na imagem), sobretudo o lobo direito. Quando essas áreas são lesadas, as pessoas se tornam incapazes de controlar as emoções e perdem os freios inibidores. Essas regiões frontais são também a sede da memória operativa: um registro mental no qual mantemos as informações pelo tempo necessário à execução de uma tarefa. Quando a memória operativa é muito empenhada na execução de uma tarefa (por exemplo, a preparação para um exame vestibular), o autocontrole é mais difícil e nos tornamos mais vulneráveis às tentações, dos acessos de ira até a compulsão de comer sem parar. Os lobos frontais chegam à maturidade ao redor dos vinte anos e se tornam menos eficientes com a idade: isso pode explicar porque os adolescentes são menos disciplinados que os adultos e porque os velhos tantas vezes se exprimem sem censura.

 

3 Aprendizado na infância. O autocontrole começa a ser construído já nas primeiras fases da vida. Walter Mischel, psicólogo da Columbia University (EUA), estudou a capacidade de autocontrole de 650 crianças de 4 anos. Ele pedia a elas que resistissem à tentação de comer um doce colocado bem à frente, enquanto ele se ausentava da sala durante alguns minutos, com a promessa de que, ao retornar, os que tivessem resistido receberiam em prêmio 2 doces. Com o passar dos anos verificou-se que as crianças que tinham conseguido esperar e recebido a recompensa (cerca de 65% do total) tinham alcançado notas mais altas no exame vestibular para a universidade, empregos mais bem pagos, casamentos exitosos e um melhor estado geral de saúde.

 

4  Força de vontade e coração forte. As pessoas que têm, por sua própria natureza, uma frequência cardíaca alta, em geral são mais habilidosas para resistir às tentações do que as demais. E não apenas: Suzanne Segerstrom, psicóloga e pesquisadora da Universidade do Kentucky (EUA( observou que as pessoas mais controladas manifestam um aumento provisório da frequência cardíaca nos momentos em que sua força de vontade é posta à prova. Essa modificação dos batimentos cardíacos reflete o esforço desenvolvido no sentido de ignorar aquilo que desejamos, concentrando-se, em vez disso, naquilo que acreditamos ser melhor para nós.

 


5 A inteligência ajuda a se distrair. As crianças com um quociente intelectivo mais alto, sobretudo quanto as habilidades verbais, são menos impulsivas do que a média; mas o contrário não é valido. A psicóloga Ozlem Ayduk da Universidade da Califórnia comprovou que as crianças com melhor autocontrole são mais eficientes também quando se trata de regular a própria atenção. Elas conseguem realizar truques intencionais para se distrair e não pensar no “prêmio” imediato. Afastando o objeto do prazer dos seus pensamentos, conseguem resistir às tentações. 
Também os chimpanzés usam estratégias similares de autocontrole: eles renunciam à comida por até mais de vinte minutos, na esperança de receber uma outra que apreciam mais. Na espera, procuram se distrair e não pensar, mantendo-se ocupados em alguma brincadeira.

 

6 Os homens são mais impulsivos. A capacidade de resistir às tentações apresenta diferenças notáveis entre homens e mulheres. Os homens parecem menos capazes de controlar seus impulsos do que as mulheres, e este é um fato que se torna evidente desde os 4 anos de idade. Isso é devido em boa parte às expectativas sociais: espera-se que as meninas sejam mais obedientes do que os meninos. É verdade também, que os homens têm uma probabilidade muito mais alta de não saber controlar a própria agressividade e de fazer uso de drogas. Culpa dos hormônios masculinos? Não exatamente: no período pré-menstrual as mulheres costumam diminuir suas capacidades de autocontrole.

 


7 Açúcar, energia para resistir. O autocontrole tende a se exaurir se for ativado durante um tempo excessivo. Isso foi descoberto pelo psicólogo Roy Baumeister: ele propôs a voluntários um teste que consistia em vários enigmas insolúveis, para verificar quanto tempo resistiam na tentativa de encontrar alguma solução. Pouco antes, porém, alguns tinham sido submetidos a um esforço de vontade. Foram eles os primeiros a renunciar a encontrar uma solução para os problemas. Significa que resistir a uma tentação pode esvaziar nossas energias, enfraquecendo a força de vontade. «Treinar a força de vontade é como treinar um músculo”, diz Baumeister «e é necessário esperar algum tempo antes de recuperar as energias gastas”. Os níveis de glucose no sangue parecem ser um indicador confiável da capacidade de autocontrole: se uma pessoa está empenhada em um esforço de vontade, o seu nível de glicose cai.

 

8 Escolha as suas batalhas. Os grande esforços de vontade podem exaurir todos os nossos potenciais. É sábio não pretender em excesso de si mesmo e estabelecer uma escala de prioridades.

 

9 Restringir o campo de interesses. É mais provável alcançar objetivos específicos (quero aprender a tocar o “Samba de uma nota só”) do que objetivos gerais (quero me tornar um grande violonista).

 


10 Comunicar suas intenções aos outros. Você se sentirá mais vinculado à manutenção do seu propósito para “não fazer feio” diante dos amigos e não desiludir as expectativas.

 

11 Elabore um programa detalhado. Decidir que irá à aula de ginástica toda quarta-feira é mais eficaz do que pensar fazê-lo uma vez por semana. Segundo Peter Gollwitzer, professor de psicologia na Universidade de Nova York, um programa concreto aumenta em 3 vezes as probabilidades de realizar os próprios propósitos porque utiliza melhor as energias mentais.

 

12 Potencializar as energias. O uso da força de vontade faz baixar o nível de glicose no sangue, exatamente como acontece quando fazemos algum exercício físico. Portanto, melhor reintegrar os açúcares se não quisermos perder os controles.

 

13 Pensar positivo sempre. É mais eficaz pensar em vencer do que se entregar ao temor de perder.

 

 

 

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