Empreendedorismo como antídoto ao terror

O desemprego é uma razão para a prática do terrorismo, ou apenas uma desculpa? O defensor dos direitos humanos, Mohamed Ali, faz uso de histórias de sua cidade natal, Mogadíscio, para criar um argumento poderoso em favor de incubadores da inovação para os jovens ambiciosos de nossas cidades

O desemprego é uma razão para a prática do terrorismo, ou apenas uma desculpa? O defensor dos direitos humanos, Mohamed Ali, faz uso de histórias de sua cidade natal, Mogadíscio, para criar um argumento poderoso em favor de incubadores da inovação para os jovens ambiciosos de nossas cidades
O desemprego é uma razão para a prática do terrorismo, ou apenas uma desculpa? O defensor dos direitos humanos, Mohamed Ali, faz uso de histórias de sua cidade natal, Mogadíscio, para criar um argumento poderoso em favor de incubadores da inovação para os jovens ambiciosos de nossas cidades (Foto: Gisele Federicce)


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Homens da al Shabab, organização terrorista ligada à al Qaeda, atuam na Somália recrutando jovens desempregados para que se tornem terroristas

 



Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Gustavo Rocha. Revisão: Lucas Delboni

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Para os jovens desempregados nas grandes cidades do mundo, sonhos de oportunidades e riqueza se realizam -- porém muitas vezes porque eles são recrutados por grupos terroristas e outras organizações violentas.

"Nos grandes centros urbanos como Mogadíscio, capital da Somália, estamos perdendo nossas mentes mais brilhantes para o terrorismo e a violência", alerta Mohamed Ali. "Por que não canalizarmos a energia e a ambição de tantos jovens para a inovação, em vez da destruição?" Ali está fazendo a sua parte para transformar esse sonho em realidade. Ele é o Diretor Executivo da Iftiin Foundation, uma organização que constrói e mantém jovens empreendedores encorajando uma cultura de mudança e inovação na Somália e em outras nações que vivem um período de pós-conflitos. Ali acredita que tais jovens podem se tornar figuras de esperança para suas comunidades e contribuir para a promoção da paz e da estabilidade em suas regiões.

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Mohamed Ali, ativista sômalo em prol da paz

Formado em leis e jurisprudência pelo Boston College Law School, Mohamed Ali é membro fundador da End Famine, uma campanha lançada em 2011 voltada para a promoção da segurança alimentar e a erradicação da fome em todo o mundo, começando pelos países do Chifre da África.

Vídeo:

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Tradução integral da palestra de Mohamed Ali:

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Eu gostaria de falar sobre a história de um garoto de uma cidade pequena. Não sei o nome dele, mas conheço a sua história. Ele vive em uma pequena aldeia no sul da Somália. Sua aldeia fica perto de Mogadíscio. A seca leva a pequena aldeia à pobreza e à beira da morte pela fome. Sem nada para ele lá, ele vai para a cidade grande, neste caso, Mogadíscio, capital da Somália. Quando ele chega, não há oportunidades, não há trabalho, não há caminho a seguir. Ele acaba vivendo num acampamento na periferia de Mogadíscio. Um ano se passa, talvez, e nada. Um dia, ele é abordado por um cavalheiro que se oferece para levá-lo para almoçar, em seguida, para o jantar, café da manhã. Ele conhece um grupo dinâmico de pessoas, e eles lhe dão uma chance.

Ele recebeu um pouco de dinheiro para comprar algumas roupas novas, dinheiro para mandar para sua família. Ele é apresentado a uma jovem. Ele se casa, enfim. Ele começa uma nova vida. Ele tem um propósito na vida. Um belo dia, em Mogadíscio, sob um céu azul-celeste, um carro-bomba é detonado. Aquele garoto de cidade pequena com os sonhos da cidade grande era o homem-bomba, e o grupo dinâmico de pessoas pertencia à Al Shabab, organização ligada à Al Qaeda.

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Como é que a história de um garoto de uma cidade pequena apenas tentando ser bem sucedido na cidade grande acaba com ele se explodindo? Ele estava esperando. Ele estava esperando por uma oportunidade, esperando para começar o seu futuro, esperando por um caminho a seguir, e esta foi a primeira coisa que apareceu. Esta foi a primeira coisa que o tirou do que chamamos de estado de espera. E sua história se repete em centros urbanos ao redor do mundo. É a história da juventude urbana destituída e desempregada que provoca motins em Johanesburgo, inicia tumultos em Londres, que estende a mão para uma coisa diferente do estado de espera. Para os jovens, a promessa da cidade, o sonho da cidade grande é o da oportunidade, do emprego, da riqueza, mas os jovens não estão compartilhando a prosperidade de suas cidades. Muitas vezes é a juventude que sofre das mais altas taxas de desemprego. Em 2030, três em cada cinco pessoas que vivem em cidades estarão com menos de 18 anos. Se não incluirmos os jovens no crescimento de nossas cidades, se não lhes proporcionarmos oportunidades, a história do estado de espera, a porta de entrada para o terrorismo, violência, gangues, será a história das cidades.

Na minha cidade natal, Mogadíscio, 70% dos jovens sofrem com o desemprego. 70% não trabalham, não vão à escola. Eles praticamente não fazem nada. Voltei a Mogadíscio no mês passado e fui visitar o Hospital Madina, o hospital em que nasci. Lembro-me de ficar na frente daquele hospital cheio de balas, pensando: "E se eu nunca tivesse ido embora? E se eu tivesse sido forçado a ficar naquele mesmo estado de espera? Será que eu teria me tornado um terrorista?" Eu não tenho certeza da resposta. Minha razão para estar em Mogadíscio naquele mês era na verdade para sediar uma cúpula de liderança e empreendedorismo jovem. Eu reuni cerca de 90 jovens líderes somalis. Nós nos sentamos e debatemos as soluções para os maiores desafios que a cidade enfrentava. Um dos jovens no salão era Aden. Ele cursou universidade em Mogadíscio, e se formou. Não havia empregos, não havia oportunidades. Eu lembro que ele me disse que, porque ele estava formado na faculdade, desempregado, frustrado, ele era o alvo perfeito para a al Shabaab e outras organizações terroristas, para ser recrutado. Eles buscavam pessoas como ele. Mas sua história toma um caminho diferente.

Homem sômalo, nada encontrou para fazer em seu país a não ser um bico como pescador

Em Mogadíscio, a maior barreira para ir do ponto A ao ponto B são as estradas. 23 anos de guerra civil destruíram completamente o sistema de estradas, e uma moto pode ser a maneira mais fácil de se locomover. Aden viu uma oportunidade e a aproveitou. Ele abriu uma empresa de motocicletas. Ele começou a alugar motos para os moradores locais, que normalmente não poderiam pagar. Ele comprou 10 motos, com a ajuda de familiares e amigos, e seu sonho é, um dia, expandir para algumas centenas dentro dos próximos três anos.

Como essa é uma história diferente? O que faz sua história diferente? Acredito que seja sua capacidade de identificar e aproveitar uma nova oportunidade. É empreendedorismo, e eu acredito que empreendedorismo pode ser a ferramenta mais poderosa contra o estado de espera. Ele capacita jovens para serem os criadores das próprias oportunidades econômicas que eles tão desesperadamente buscam. E pode-se treinar os jovens para serem empreendedores. Eu gostaria de contar a vocês sobre um jovem que estava em uma de minhas reuniões, Mohamed Mohamoud, um florista. Ele estava me ajudando a treinar alguns dos jovens na cúpula de empreendedorismo e como ser inovador e como criar uma cultura de empreendedorismo. Ele é, na verdade, o primeira florista em Mogadíscio em mais de 22 anos, e até recentemente, antes que Mohamed chegasse, se você quisesse flores em seu casamento, você usaria buquês de plástico trazidos do exterior. Se você perguntasse a alguém: "Quando foi a última vez que você viu flores viçosas?", para muitos que cresceram sob a guerra civil, a resposta seria: "Nunca". Então, Mohamed viu uma oportunidade. Ele abriu uma empresa de paisagismo e design floral. Ele criou uma fazenda nos arredores de Mogadíscio, e começou a cultivar tulipas e lírios, que ele disse que aguentariam o clima rigoroso de Mogadíscio. E ele começou a entregar flores para casamentos, criar jardins nas casas e lojas em toda a cidade, e ele agora está trabalhando na criação do primeiro parque público de Mogadíscio em 22 anos. Não há nenhum parque público em Mogadíscio. Ele quer criar um espaço onde as famílias, jovens, possam se reunir, e, como ele diz, cheirar as rosas proverbiais. E ele não cultiva rosas porque elas precisam de muita água, a propósito. Então, o primeiro passo é inspirar os jovens, e naquele salão, a presença de Mohamed teve um impacto muito profundo na juventude naquele salão. Eles nunca tinham pensado em abrir um negócio. Eles já tinham pensado em trabalhar para uma ONG,trabalhar para o governo, mas sua história, sua inovação, realmente teve um forte impacto neles. Ele os fez encarar a cidade como um lugar de oportunidades. Ele lhes deu o poder para acreditar que poderiam ser empreendedores, que eles poderiam ser agentes de mudança. Ao final do dia, eles estavam tendo ideias de soluções inovadoras para alguns dos maiores desafios que a cidade enfrenta. Eles criaram soluções empreendedoras para os problemas locais.

Dar inspiração aos jovens e criar uma cultura de empreendedorismo é um passo realmente grande, mas os jovens precisam de capital para realizar suas ideias. Eles precisam de experiência e orientação para orientá-los no desenvolvimento e lançamento de seus negócios. Conecte os jovens aos recursos de que necessitam, forneça-lhes o apoio necessário para ir da idealização à criação, e você vai criar catalisadores para o crescimento urbano. Para mim, o empreendedorismo é mais do que apenas abrir um negócio. Trata-se da criação de um impacto social. Mohamed não está somente vendendo flores. Acredito que ele está vendendo esperança. Seu Parque da Paz, e é assim que ele o chama, quando ele for criado, vai mesmo transformar a maneira como as pessoas veem sua cidade. Aden contratou crianças de rua para ajudar a alugar e manter aquelas motos para ele. Ele lhes deu a oportunidade de escapar da paralisia do estado de espera. Estes jovens empreendedores estão causando um tremendo impacto em suas cidades.

Então, a minha sugestão é: transformem os jovens em empreendedores, incubem e estimulem sua inovação inerente, e vocês terão mais histórias de flores e Parques da Paz do que de carros-bomba e espera. Obrigado.

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