Efeito gado. Acordo entre frigoríficos e pecuaristas reduz desflorestação na Amazônia

Por pressão da opinião pública e das políticas estatais brasileiras, a indústria das carnes assinou acordos comprometendo-se a rejeitar gado criado em zonas ilegalmente deflorestadas. Isto tem ajudado a combater o desmatamento ilegal na floresta amazônica.

Por pressão da opinião pública e das políticas estatais brasileiras, a indústria das carnes assinou acordos comprometendo-se a rejeitar gado criado em zonas ilegalmente deflorestadas. Isto tem ajudado a combater o desmatamento ilegal na floresta amazônica.
Por pressão da opinião pública e das políticas estatais brasileiras, a indústria das carnes assinou acordos comprometendo-se a rejeitar gado criado em zonas ilegalmente deflorestadas. Isto tem ajudado a combater o desmatamento ilegal na floresta amazônica. (Foto: Luis Pellegrini)


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Por: Pete Spotts. Fonte: Site do The Christian Science Monitor, Boston, EUA

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Desde sempre consideradas uma ameaça à floresta amazônica, as grandes empresas do setor de processamento de carnes poderão desempenhar um papel importante na batalha contra a desflorestação.

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Para combater o aquecimento global e preservar a biodiversidade, é essencial proteger as florestas tropicais, que absorvem quantidades imensas de dióxido de carbono. Essa proteção pode ser conseguida obrigando-se os grandes frigoríficos a só comprar matérias-primas e produtos agrícolas de fornecedores que não contribuam para a deflorestação. Sendo ainda cedo para avaliar o resultado prático de medidas como essas, cientistas dos EUA e do Brasil concluíram que os acordos sobre deflorestação zero poderão reduzir rapidamente o ritmo de destruição das matas nativas, sobretudo na Amazônia.

O estudo centrou-se nas fazendas da Amazônia brasileira, particularmente no Sudeste do Estado do Pará, que fornecem gado à maior empresa mundial de carnes, a JBS. Com 19,2 milhões de cabeças de gado, o Pará é o primeiro produtor dos nove estados da Amazônia brasileira. Nessa região ficam 70% dos grandes matadouros públicos, sujeitos a inspeção federal.

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“Um dos resultados apontados pelo estudo foi a rapidez das alterações, a partir do momento em que os acordos começaram a ser aplicados”, explica Holly Gibbs, pesquisadora do Centro para o Desenvolvimento Sustentável e o Ambiente Mundial da Universidade de Wisconsin, em Madison (Wisconsin) e autora principal de um artigo recentemente publicado na revista Conservation Letters, que apresentou os resultados do estudo. "Foi espantosa a velocidade com que os frigoríficos conseguiram levar os criadores a alterar seu comportamento predatório, explica a cientista.

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Sumidouro de gases com efeito de estufa, a floresta tropical úmida da Amazônia absorve todos os anos mais 300 milhões de toneladas de dióxido de carbono do que as que emite para a atmosfera - revela um estudo publicado o ano passado na revista Nature Communications. Esses 300 milhões de toneladas correspondem a 5% das emissões anuais de dióxido de carbono dos EUA. Além de absorver essa enorme quantidade de gás, a floresta amazônica alberga 30% de todas as espécies vegetais do planeta. Num hectare de floresta pode haver 600 espécies de árvores.

 

 

 

Menos floresta destruída

Todos os anos, o Brasil perde uma área de floresta tropical húmida superior à de qualquer outro país com um ecossistema semelhante. Durante os últimos 50 anos, a Amazônia poderá ter perdido 17% da sua cobertura florestal. Na última década, o país deu passos de gigante na redução do ritmo de destruição da floresta tropical: entre 2004 e 2014, abrandou 80%.

Onde outrora se abatiam árvores para a agricultura de subsistência ou para programas de realojamento do Governo, as serras mecânicas são agora utilizadas pelas empresas madeireiras e pelas grandes explorações agrícolas exportadoras, sublinham os investigadores. Do total de terras desflorestadas para fins agrícolas, 60% são utilizadas como pastagens.

Em 2006, o Governo brasileiro obrigou todos os proprietários rurais a registarem as suas propriedades no Cadastro Ambiental Rural, conhecido pelo acrônimo CAR. lsso permite detectar as alterações do uso da terra e vigiar a desflorestação. Os proprietários que se inscreveram no registro beneficiavam de isenções fiscais e facilidades de acesso a crédito bancário e evitavam sanções.

Três anos mais tarde, os processos instaurados pelo Estado Federal e a pressão da opinião pública levaram os matadouros e os retalhistas do Pará a concordar em utilizar o seu poder de compra para apoiar as políticas de conservação da floresta. Um após outro, os industriais do setor das carnes assinaram acordos em que se comprometiam a deixar de comprar carne de produtores que praticassem desflorestações ilegais.

 

 

No mesmo ano, a organização de defesa do ambiente Greenpeace assinou acordos de “desflorestação zero" com quatro dos maiores frigoríficos do país, incluindo a JBS, que mais tarde viria a comprar uma das suas três concorrentes.

Para avaliar o impacto dessas políticas e garantir que a JBS respeitava os seus compromissos, Holly Gibbs e os seus colegas verificaram o registo CAR. Em 2006, apenas 2% dos fornecedores diretos da JBS do Sudeste do Pará estavam registados no CAR. Em 2009, eram 60%, e, em 2013, atingiam os 96%. Segundo outro estudo, 85% dos 56 fornecedores da JBS implantados na região tinham registrado as suas terras para poderem trabalhar com a JBS.

Em contrapartida, das 69 explorações que não forneciam carne à JBS apenas 35% se inscreveram no CAR, após os acordos de "desflorestação zero".

Usando outros indicadores, os cientistas descobriram também que, em 2009, em 36% das explorações que forneciam gado aos matadouros da JBS da região eram visíveis sinais de desflorestação recente. Em 2013, este número caiu para 4%.

Acordo foi decisivo

A equipa de Holly Gibbs estudou os dados de dois grupos de criadores: os que forneciam gado à JBS antes de esta ter assinado os acordos e os que passaram a ser fornecedores após a assinatura. Entre 2010 e 2012, os fornecedores da JBS pós-assinatura apresentavam taxas de abate de mata 50% inferiores às das explorações que anteriormente eram fornecedoras daquela empresa. “Põe-se a hipótese de a JBS ter deixado de trabalhar com eles por continuarem a abater árvores", explica a cientista.

Atualmente, a JBS não procura expandir o seu negócio, acrescenta Holly Gibbs. A empresa multiplicou o número de matadouros na Amazônia, passando de 9, em 2008, para 32, em 2015. Nos locais estudados "o número de transações também aumentou". Desde 2009, o Governo alargou estes acordos de não deflorestação a quatro outros estados da região da Amazônia.

Holly Gibbs e os seus colegas reconhecem que ainda há diversas questões por analisar. As fazendas de gado fornecedoras da JBS são a última etapa pela

onde passam os animais antes do abate: é a fase final da engorda. Na fase atual de aplicação dos acordos, é difícil determinar a origem dos animais antes de ali chegarem. Fazendas com elevadas taxas de abate de árvores poderão estar “branqueando” os seus efetivos, enviando os animais para estes locais de engorda. No âmbito dos estudos realizados pela equipe, os criadores admitem que o "branqueamento" de gado é comum na região. Outra incógnita é o número de animais abatidos em matadouros que não controlam a respetiva origem.

A equipe de investigadores recomenda ao Governo que tome medidas adicionais para melhorar o programa. Preconiza a disponibilização de dados de rastreamento dos animais, do nascimento ao matadouro, e controles obrigatórios nos matadouros.

As próximas etapas incluem quantificar a destruição de floresta evitada no Brasil devido aos acordos de não desflorestação no setor do gado. A equipe prevê alargar o estudo a toda a bacia do Amazonas, para tentar perceber a influência dos diversos fatores envolvido na questão.

Os gigantes do setor agroalimentar são duramente criticados por contribuírem para a destruição das florestas tropicais. Em condições adequadas, “as grandes empresas agrícolas podem gerar alterações importantes, que mitigam ou cortam, a ligação entre agricultura e desflorestação.

 

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