Dar é melhor que receber. Somos altruístas de nascença?

Um estudo canadense revela que as crianças tornam-se mais felizes ao doarem algo que lhes pertence, sugerindo que a bondade e o altruísmo integram nosso patrimônio genético.

Um estudo canadense revela que as crianças tornam-se mais felizes ao doarem algo que lhes pertence, sugerindo que a bondade e o altruísmo integram nosso patrimônio genético.
Um estudo canadense revela que as crianças tornam-se mais felizes ao doarem algo que lhes pertence, sugerindo que a bondade e o altruísmo integram nosso patrimônio genético. (Foto: Luis Pellegrini)


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Por Eduardo Araia

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Atos de altruísmo, de bondade ou “pró-sociais” são aprendidos socialmente ou são atributos morais que vêm desde o nascimento? A teoria de que o altruísmo é parte integrante do comportamento humano, defendida pela psicologia evolutiva, sugere que esses gestos são gratificantes para quem os pratica mesmo quando essa pessoa ainda está nas primeiras fases de sua existência. Um estudo desenvolvido por Lara Aknin e sua equipe do departamento de psicologia da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), “Giving Leads to Happiness in Young Children”, publicado na revista PLoS ONE, em julho de 2012, reforça a tese.

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Um trabalho conduzido anteriormente por Lara e colegas já havia mostrado que crianças que compartilhavam um brinquedo com alguém pareciam mais felizes do que outras que simplesmente se divertiam com ele. A partir daí, a equipe elaborou uma experiência mais complexa: 20 crianças (11 das quais meninos) da cidade de Vancouver, com idade entre um e dois meses antes de completar 2 anos, foram selecionadas e cada uma delas foi apresentada a um macaco de brinquedo, com a explicação de que ele “gostava de guloseimas”. Depois disso, um dos pesquisadores “encontrou” oito petiscos e os deu à criança, dizendo-lhe que todos aqueles alimentos pertenciam a ela.

 

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Mais feliz ao dar do que ao receber

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A seguir, três cenários diferentes foram armados, em ordem variada. No primeiro deles, o pesquisador “encontrava” outra guloseima e a dava ao macaco, enquanto a criança os observava. No segundo, “encontrava” outro petisco e o dava à criança, pedindo a ela que o entregasse ao macaco. No último, pedia à criança que compartilhasse uma das oito guloseimas que recebera no início com o macaco.

A felicidade demonstrada pelos pequenos foi avaliada por observadores independentes em cada situação, em uma escala de sete graduações (1 = nada feliz; 7 = muito feliz). As crianças mostraram-se mais felizes ao dar uma guloseima do que ao recebê-la, e o ápice desse sentimento foi alcançado quando davam um de seus próprios petiscos. Ou seja: era mais gratificante doar algo de seu próprio “patrimônio” do que doar a guloseima que o pesquisador achava e lhes pedia para entregar ao macaco. (Confira no gráfico abaixo.)

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“Embora o papel da socialização quase nunca possa ser completamente descartado, os resultados dão suporte ao argumento de que os seres humanos evoluíram para considerar o comportamento pró-social recompensador”, afirmam os pesquisadores no artigo publicado na PLoS ONE.

Questionada sobre se as crianças não pareceriam mais felizes por simplesmente estarem fazendo o pesquisador feliz (afora o macaco), Lara Aknin respondeu: “É definitivamente plausível que as crianças aprenderam que os adultos valorizam o comportamento altruísta e, portanto, sorriram mais, porque esperavam receber recompensas de adultos, quando eles deram mimos.”

Doação é sacrifício pessoal

Mas a pesquisadora acredita que um detalhe oferece informações mais conclusivas sobre a natureza do altruísmo de dar um dos oito petiscos concedidos ou entregar uma guloseima recém-recebida. “Nos dois casos, as crianças estavam se envolvendo num comportamento de doação idêntico – dando uma guloseima – que deveria ser igualmente elogiado ou recompensado ​​por adultos”, observa Lara. “Elas eram apenas mais felizes quando essa guloseima lhes pertencia e, portanto, requeria um sacrifício pessoal na doação.”

Por garantia, a equipe também solicitou aos observadores independentes que analisassem a atuação do pesquisador em cada caso, e a avaliação foi de que ele não interferiu no resultado.

O estudo canadense foi o primeiro a indicar que o altruísmo é intrinsecamente gratificante, mesmo para crianças pequenas, e que elas exibem mais felicidade em dar do que em receber – uma vantagem considerável na educação infantil. A pesquisa também reforça a ideia de que recompensar as crianças por um comportamento pró-social pode ter efeitos reversos, ou seja, prejudicar a bondade natural. Uma explicação para isso é que, para crescer vendo-se como bondosa e capaz de doar, a criança deve sentir que pratica o bem porque assim o quer, e não em atendimento ao desejo de outras pessoas.

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